sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quadrinhos Clássicos

Cangaceiro Carrapicho, de Carlos Avalone 

Tiras



Em 1978 a Abril implantou o Projeto Tiras, um ousado e ambicioso sistema de distribuição de tiras diárias para jornais de todo o país, com participação majoritária de quadrinistas ligados à editora, dirigido por Ruy Perotti e coordenado por Wagner Augusto. Tendo 11 autores e um editor, nunca tinha sido feito nada parecido no Brasil até então.

O desafio era instituir um sistema comercial de produção e distribuição de tiras semelhante ao americano, um King Features Syndicate tropical, com o suporte da poderosa Editora Abril.

Dentro desse Projeto criei tiras do Carrapicho que foram publicadas diariamente por dezenas de jornais de todo o país durante mais de um ano.

Em 1981 o Carrapicho saiu também aos domingos na Folhinha, suplemento infantil dominical da Folha de S. Paulo. Com a interrupção do Projeto "Tiras da Abril" eu ainda consegui manter a distribuição das tiras por minha conta por cerca de dois anos. Mas sem ter uma adequada estrutura de operação empresarial eu não consegui manter o esquema.

No ano de 1987, desenhando nas horas vagas durante um período em que trabalhei no Departamento de Artes do jornal A Tribuna, de Santos, em três meses eu já tinha pronto um projeto para publicação do Carrapicho em revista. Pedi demissão do jornal e apresentei o projeto para a editora Noblet, que já tinha publicado meu Espoleta cerca de dez anos antes. A editora topou e colocou a revista Carrapicho nas bancas.

Personagens

O cangaceiro Carrapicho é o justiceiro de Vila Pedregulho, imaginariamente localizada no nordeste brasileiro.

Vive perseguido pelo poderoso Coroné Cascalho, um dominador político e econômico da região. Donzela Muriçoca é a moça  cobiçada pelo coroné, mas ela quer mesmo casar é com o Carrapicho, que não quer saber de conversa. Outros personagens completam o universo: os assistentes de cangaceiro Folha Seca e Faísca, o Padre Pedroca e ainda o Cabo Firmino, que é o braço direito do Doutor Delegado.

Procurei dar às histórias do cangaceiro Carrapicho um cunho cômico apoiado no universo sertanejo e no cangaço do nordeste brasileiro. Apesar de estrutura regional, as aventuras do personagem transcendem o espaço geográfico e se tornam universais pelo tratamento dado às suas relações com o meio-ambiente e com a sociedade local.


Embora à vontade no uso de uma linguagem carregada de neologismos e expressões regionais, tentei com o Carrapicho zelar pela correção ortográfica e gramatical nos diálogos e nos enunciados. Algumas vezes, porém, convenientemente brinquei com a gramática
em nome de uma "licença quadrinística".

Simultaneamente eu fazia a revista de atividades Historinhas do Carrapicho

Enfim, após seis edições produzidas e quatro publicadas, a revista Carrapicho saiu de circulação.
   
Mudança de rumo

Em 1989 finalmente me convenci de que a tendência de encolhimento do mercado de quadrinhos era irreversível e o panorama ficaria cada vez mais restrito para quem fazia quadrinho autoral. E voltar a trabalhar em uma grande editora ou estúdio para desenhar personagens de outro autor já não me interessava tanto naquela época. Engavetei meus personagens e procurei outro rumo. Desde então não desenho uma só página de HQ. A última história que desenhei foi justamente naquele ano de 1989. Eu ainda tenho arquivadas algumas histórias inéditas.


Fonte: www.carlosavalone.com.br

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