quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Prazer em conhecer: Lampião Aceso entrevistou Sérgio Dantas

Comemorando "Três anos de Lampejos" apresentamos um dos mais notáveis vaqueiros da História cangaceira

"SD" é como a "Turma da base" o chama.  

Desde quando o conheci em 2005, me impressionei com seus artigos e informações, além das fotografias que eu buscava e estavam ali disponibilizadas na sua comunidade do Orkut "Lampião, Corisco e Cangaço". Um material que eu pensava que nunca teria acesso gratuito. 

O lema era combater a mitificação e os exageros existentes e ainda resistentes. A pesquisa de Sérgio nos inspirou, me identifiquei com suas intuições. Através de seus tópicos, provocações e consultas via email. Iniciei uma reciclagem e aprimoramento de minhas opiniões e conhecimento.

Depois da extinção desta primeira comunidade, vieram a "Cangaço, Discussão Técnica" a alternativa "Confraria Fuleira do Cangaço" (Criada para discutir assuntos como posso dizer... menos relevantes...Risos). De repente ele não quis mais a gerência do tal do 'yokurt'. Passou a bola, porem não ficou de fora, como moderador dava suas contribuições nas demais. 


Na desconhecida "Discussão" éramos poucos e as vezes desestimulados. Migramos para a pioneira, gigante, porem bagunçada "Lampião, Grande Rei do Sertão" Só depois que passou a ser doutrinada e administrada pelo rev... quer dizer pelo Dr. Ivanildo Silveira, é que a coisa mudou de figura. Galhofas deram lugar a compromissados e contagiados participantes, e de repente, estava instituído o melhor fórum de debates do cangaço na Web.

Não se trata de clubes virtuais pra trocar figurinhas, é uma escola do mais alto nível. Uma irmandade da 'gôta serena'. 

Através das análises, investigações de: SD, Ivanildo, Rostand Medeiros, Netinho Nogueira e Geziel Moura é que verdadeiramente ingressei na ciência 'cangaceiróloga'. Exalto aí estas cinco gratas e inesquecíveis amizades que a internet me proporcionou.


Certo dia ao ligar na TV Aperipê... (canal local de Aracaju), - Apois num é o Dr. ?!- Sim, o dono da comunidade, acompanhado pela anfitriã e amiga Vera Ferreira, concedendo entrevista para o Valadão, convidando os sergipanos para o lançamento de seu primeiro livro. Eu que pensava que o cabra só escrevia pra internautas, estreou na literatura com uma obra referencial. 

Estive lá na Escariz, pra adquirir o meu exemplar, cumprimentá-lo e acho que assim nossa amizade saiu do campo virtual. Um dia destes ele veio à Aracaju. Depois de um intervalo de cinco anos nos reencontramos pessoalmente e combinamos uma viagem até o baixo e Sertão do São Francisco. 

Pousamos em Canhoba, depois Fazenda Jaramataia de Eronides e por fim retornando à capital pelas vizinhas Capela e Dores. Em meio dia fizemos 4 rotas de Lampião em Sergipe. 

Atribuo a criação do blog Lampião Aceso não só pela necessidade de divulgar os tópicos para quem não gostava ou não fazia ideia do que acontecia no Orkut e mais por uma sugestão e incentivo do homi. Eu estou aqui me considerando como o menos aplicado dos seus "discípulos" procurando barbeirar o mínimo possível no trato com o incrível mundo do Cangaço.

Sérgio Augusto de Souza Dantas é um potiguar de 48 anos, natural da capital (embora com avós sertanejos pelos quatro costados, em uma curiosa fusão de ancestrais de norte-riograndenses, paraibanos e pernambucanos). Assim, considera-se um ‘quase’ sertanejo. É Magistrado concursado, exercendo a função desde dezembro de 1993, ali mesmo no Rio Grande do Norte.
Em meados de 1998 quando, casualmente, acompanhava um colega, também Magistrado, que iria tomar posse na cidade de Tabira, alto Sertão de Pernambuco. Após a solenidade, foram para Serra Talhada, onde pernoitaram. Na manhã seguinte, antes do retorno ao RN, fizeram uma visita importante: naquele dia tiveram o prazer de conhecer o legendário David Jurubeba. Interessante que, naquela época, não lhe passava pela cabeça adentrar no tema cangaço.
Conhecer David aconteceu mais por insistência deste colega, o Roberto, pelo qual tinha grande admiração e alguma amizade com o velho combatente de Nazaré. Confessa que foi até sem grande interesse; na verdade, apenas para fazer companhia. Mas lá esteve. Aquele bate-papo (que foi gravado em fita K7), porém, se impressionou sobremaneira, de modo que, em pouco tempo, adquiriu dois livros: “Lampião, o Rei dos Cangaceiros” (De Billy Chandler) e “Lampião na Bahia” (de Oleone Fontes).

 Reunião de "CSI´S" Sabino Basseti, Antonio Amaury, 
Sérgio Dantas e Leandro Cardoso.

Uma cópia daquela fita K7, com pouco mais de 45 minutos de prosa – e solicitada meses mais tarde ao colega Roberto -, ainda está em seu poder, embora já bastante danificada pelo tempo. Mas, voltando ao tema, a partir de Chandler foi, muito lentamente, adquirindo livros que estavam relacionados na parte final daquela obra e a coisa foi se tornando cada vez mais interessante.


 Com Expedita Ferreira Nunes, filha única de Lampião e Maria.
Set. 2011

Veio a sede da pesquisa e do ‘saber mais’. Porém, naquela época, jamais lhe passou pela cabeça escrever algo. Naquela época, contentava-se em ler a maior quantidade de livros que era possível. Nada, além disso! E o amigo Paulo Gastão, além de me sugerir títulos, me presenteou com alguns, relativos à frustrada tentativa de tomar a cidade de Mossoró. Antônio Amaury foi outro grande incentivador.

Então apresente suas crias! 
- Bom, os meus trabalhos escritos foram fruto de um acaso. 

Na verdade, no início de 2001, eu me inscrevi para fazer uma Especialização em História. Escolhi o tema cangaço porque, além de estar interessadíssimo na história deste movimento armado, trabalhava – e morava – no interior do Estado, o que facilitaria minhas viagens para os pontos de pesquisa. Escolhi, pois, a jornada de Lampião pelo Rio Grande do Norte e fui à luta. Meu objetivo era dar uma maior visibilidade ao cangaço de Lampião em vários municípios de meu Estado. 

Me preocupava, por demais, o foco único no combate de Mossoró e, por outro lado, o gritante esquecimento dos demais episódios ocorridos nas terras potiguares em 1927. Daí nasceu “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE – A HISTÓRIA DA GRANDE JORNADA”


Lançado em março de 2005. Uma tiragem modesta de 1.200 exemplares que, para minha surpresa, esgotou em um ano.


Daí, tomei gosto e tratei de concluir o meu segundo trabalho “ANTÔNIO SILVINO: O CANGACEIRO, O HOMEM, O MITO”. 


Como eu tinha já um bom material sobre esta personagem histórica, bastou sistematizar tudo e lançá-lo, o que foi efetivamente feito em outubro de 2006.


Por fim, veio o terceiro trabalho. Este, foi fruto de observações e de conclusões que tirei de horas de entrevistas (com ex-cangaceiros, ex-volantes, ex-coiteiros e testemunhas de fatos havidos em diversos períodos do cangaço de Lampião), da leitura sistemática da minha antiga biblioteca sobre o tema, além de vistas em jornais e documentos públicos os mais diversos. Assim, do confronto de tudo isto com a legislação penal da época, saiu o livro. Confesso, porém, que este terceiro trabalho – LAMPIÃO ENTRE A ESPADA E A LEI. 


Poderia ter sido mais maturado. Na verdade eu o publiquei (não o lancei) em fins de 2008, com o objetivo de aproveitar a data de 70 anos da morte de Lampião. Poderia ter deixado a publicação para data posterior (o que me teria poupado alguns aborrecimentos e, também, a sensação de que ‘ainda ficou algo a dizer’...) No futuro, quem sabe, cuidaremos de uma segunda edição. Mas, por enquanto, tal não passa de um projeto distante.

Livro de outro autor? Por que?
- Olha, pela sua profundidade e por abranger o cangaço desde os primórdios, em uma metodologia – e linguagem - rigorosamente acadêmica, creio que o livro “Guerreiros do Sol”, de Frederico Pernambucano de Mello, é o que mais me interessou até o momento. Há outros vários, inclusive de confrades desta nova geração de escritores/pesquisadores. Mas o “Guerreiros” dá uma nova roupagem – e outro modo de ver - ao estudo do cangaço.

Qual é o primeiro título recomendado para um calouro?
Recomendado
- A pergunta é um pouco difícil, pois há muitos títulos bons. Mas indicarei dois: para um estudo formal, cronológico e concatenado da vida de Lampião (já que se trata do principal cangaceiro), indico, sem pestanejar, o livro ‘LAMPIÃO, O REI DOS CANGACEIROS’, do brasilianista Billy Jaynes Chandler. Chandler, a meu ver, foi muito além da fonte oral. Em sucessivas viagens ao Brasil, vasculhou Cartórios, Arquivos Públicos e Institutos Históricos em vários Estados da Federação. O resultado foi um trabalho científico de alto nível, feito dentro de critérios acadêmicos e com texto leve e direto. Apesar de não ser brasileiro, não se pode deixar de reconhecer seu mérito.

Outro livro que indico é ‘DE VIRGOLINO A LAMPIÃO’, de Antônio Amaury e Vera Ferreira, por ser um resumo cronológico da vida atribulada do cangaceiro. Creio ser este trabalho um bom ponto de partida para um estudo mais aprofundado do personagem ‘Lampião’ - o mais notório de todos os cangaceiros. Mas, como disse, existem muitos outros trabalhos interessantes sobre o cangaço de um modo geral.

Com quantos e quais personagens desta história você teve contato?
- Não foram tantos. Eu comecei tarde, pois 1998 foi um dia desses. Mas ainda tive oportunidade de conhecer alguns ex-cangaceiros (Vinte e Cinco, Candeeiro, Sila, Moreno, Durvinha, Aristéia, Adilia, etc.); poucos ex-volantes (Luiz Flor, João Gomes de Lira, David Jurubeba, Pompeu Aristides, Neco de Pautília, Elias Marques, Josias Valão, Antônio Vieira). Além destes, alguns ex-coiteiros e pelo menos umas duas centenas e meia de pessoas que entrevistei nestes poucos anos. Pessoas comuns que testemunharam - de forma direta ou indireta - algum episódio ligado ao cangaço.


Maria Ferreira Queiroz a "Dona Mocinha" 
irmã de Lampião ainda viva.

 Rostand Medeiros, o saudoso tenente João Gomes de Lira e Sergio Dantas.

 Almoçando com os saudosos Moreno e Durvinha 
na residência dos mesmos em BH.

 Igualmente saudoso Antonio Vieira, 
soldado volante do grupo do aspirante Francisco Ferreira. 

Qual destes contatos foi, ou foram, os mais difíceis?
- Diria ‘o menos fácil’. Foi o José Alves de Matos, o ‘Vinte e Cinco’. Não pela abordagem em si, mas porque o amigo José Alves não gosta muito de falar daquele passado nebuloso. Conta alguma coisa. Às vezes, é um pouco reticente..Mas, sei que ali é um arquivo vivo de vários acontecimentos importantes. Ademais, é um homem extremamente correto e verdadeiro.

 "Vinte e Cinco" Ainda firme e forte.

Qual o contato que não foi possível e lhe deixou de certo modo frustrado?
- Nenhum. Quem eu procurei, me recebeu.

Aqui com Dona Antónia, 
uma das companheiras do cangaceiro "Gato".

Saudosa memória: O sargento Elias Marques,
falecido aos nove dias de fevereiro deste ano.

Manoel Dantas Loyola, o gentil "Candeeiro". 
Um dos últimos remanescentes vivos da era Lampiônica. 


Com o ex-comandante de Polícia, Manoel Cavalcanti de Souza, 
o Nazareno 'Neco de Pautilia', que ainda vive em Floresta, PE. 

Com qual remanescente gostaria de ter conversado?
- Algum ‘chefe de grupo’. Como quase todos os principais não sobreviveram ao cangaço, seria uma tarefa impossível para mim (risos). Porém, talvez tivesse gostado de conhecer o Labareda ou o Zé Sereno, afinal, chefiaram grupos. Seria interessante ouvir deles algo sobre estratégia de combate, os critérios para arregimentação de novos ‘cabras’, as ligações com o coronelato de barranco, as relações entre os subgrupos.. Coisas assim. Mas quando comecei o estudo, mesmo estes dois que citei já haviam falecido.

Qual é o seu capitulo preferido?
- A saga de Antônio Silvino, apesar deste personagem ter sido totalmente apagado pelo brilho das façanhas de Lampião.

Um cangaceiro (a)?
- Luiz Pedro, pela fidelidade ao amigo e chefe, além do comedimento em seus atos. Poucas vezes chegou, a meu ver, às raias da violência extremada.

No Sítio Retiro, zona rural de Triunfo, PE. 
Com António Pedro, sobrinho legítimo de Luiz Pedro.

Um volante?
- Apesar de ser tido como extremamente cruel, Odilon Flor. E o elejo não por essa ‘qualidade’, mas pela obstinação em perseguir. Não devemos esquecer que, em que pese ser de Nazaré/PE, migrou para outro Estado, a Bahia, e lá continuou sua busca por Lampião.

 Lendário Odilon Flor,
um dos líderes da Saga Nazarena contra Lampião.

Um coadjuvante? 
- Massilon Leite. Poderia ter sido até um grande cangaceiro, mas resolveu dar um passo além das suas possibilidades. De fato, a partir do fracasso assalto a Mossoró (1927), caiu no anonimato e morreu assassinado no ano seguinte. Se não fosse o recente trabalho de Honório Medeiros, o nome deste personagem estaria fadado ao esquecimento; atirado em algum porão da História.

Uma personagem secundária? 
- O obscuro João Maria de Carvalho, da antiga Serra Negra (hoje Pedro Alexandre/BA). Há, ainda hoje, poucas informações sobre este ‘figurante’.

Geralmente todo pesquisador é colecionador, qual é o foco de sua coleção?
- Já colecionei alguma coisa, principalmente armas, mas doei quase tudo em 2009 e 2010. Como cheguei muito tarde, não tenho mesmo como colecionar peças da época. Assim, decidi não procurar e nem comprar mais nada. Hoje me contento com o aprendizado da temática. E esse é um campo de estudo inesgotável.

Entre as peças tem alguma relíquia? 

Os óculos e foto da ocasião da doação.
- Hoje, quase mais nada. Um punhal pequeno, de prata trabalhada; um cartaz recompensa de 1929, mas já bem surrado. Também ainda guardo um par de óculos que me foi presenteado por um antigo morador de uma fazenda situada no pé da serra do Martins, aqui no RN. Trata-se do Sr. Zacarias Vaz, da fazenda Ribeiro. Os cangaceiros passaram ali – rumo a Mossoró – ao fim da tarde do dia 11 de junho de 1927. Após a rápida ‘visita’ da cabroeira, o pessoal do sítio se enfurnou em casa, com medo. Só saíram com o dia claro. Aí o pai de seu Zacarias, encontrou, no terreiro do sítio, este par de óculos de vidros esverdeados e com armação banhada a ouro.

 Além dele, uma bala de fuzil. O senhor Zacarias – infelizmente, já falecido – me entregou estas duas peças em 2003. Disse-me que estava perto de morrer e por isso me presenteou: “meus filhos não ligam para isso” – me disse na ocasião. Porém, não tem tenho qualquer elemento para afirmar a qual cangaceiro do bando os óculos pertenceriam. Seria demasiadamente leviano de minha parte.

Nós que gostaríamos de ver um filme que retratasse um cangaço autêntico, fiel aos fatos, sem licença poética, erro primário, enfim, sem exagero da ficção, lamentamos a eterna necessidade de se ter finalmente uma produção digna da saga, de preferência um épico ou uma trilogia. Enquanto isto não foi possível qual a película mais lhe agradou? Por que?
- O ‘Baile Perfumado’, por dois motivos: a fotografia excelente e a habilidosa união da realidade e ficção em um único roteiro. É, sem dúvida, uma película interessante.

 Cena de Baile Perfumado, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira.


Eleja a pérola mais absurda que já leu sobre Lampião?
- Vou passar esta (risos). Já ouvi muita bobagem, não posso negar. Todavia, em respeito às pessoas que as disseram – as quais foram bastante simpáticas e solícitas para comigo quando as entrevistei-, deixarei de declinar os ‘causos escabrosos’ a mim relatados.

Diante de tantas polêmicas surgidas posteriormente a tragédia em Angico, alguma chegou a fazer sentido, levando-o a dar atenção especial ex.: “Ezequiel não morreu e reaparece anos mais tarde”; “João Peitudo, filho de Lampião”; “O Lampião de Buritis” e “a paternidade de Ananias”?
- São temas polêmicos, é fato. No entanto, quem os defende, tem seus argumentos. E eu os respeito. Posso até não aceitar este ou aquele ponto de vista, mas, por outro lado, tento discordar de forma cortês. Afinal, vivemos em um país onde a liberdade de expressão e opinião ‘ainda’ é livre...E, convenhamos, a dialética é saudável ao debate, até para se chegar a uma mínima verossimilhança dos fatos - já que a ‘verdade absoluta’ é impossível em História.

E Lampião, morreu baleado ou envenenado?
- Hemorragia causada por ferimento de arma de fogo.

Não precisa detalhar, mas em que assunto ou personagem está trabalhando. Ou qual gostaria de estudar para a publicação desta pesquisa. Enfim, qual a próxima novidade que teremos em nossas estantes?
- Talvez uma segunda edição do meu primeiro trabalho Lampião e o Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada, devidamente revisada e reescrita em uma linguagem menos acadêmica. Todavia, como é um livro grande, com 452 páginas, isso vai levar algum tempo ainda. E, de toda forma, ainda é um projeto. Não sei se terei condições de levar a cabo essa tarefa em razão de obrigações outras.

Pra concluir, um registro da nosso visita à histórica "Fazenda Jaramataia"  
ou o que restou da mesma em Gararu/Sergipe (Setembro 2011). 

Contato:
sasdantas@yahoo.com.br

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Novidades do Cariri Cangaço

Luiz Ruben lançou seu mais novo rebento



O que a imprensa registrou na época em que Lampião agiu na Bahia. Resultado de aproximadamente 150 mil páginas dos jornais: A Tarde, Diário da Bahia, Diário de Notícias, Era Nova, O Imparcial, do período de 1928 a 1940.

Este livro tem no seu início, o Jornal O Povo, de Fortaleza no Ceará, apresentando uma reportagem datada de 4 de junho de 1928, setenta e oito dias antes da decisão de Lampião entrar na Bahia. Esta matéria dá uma visão da situação do chefe cangaceiro e de seu exíguo grupo ao fugir para o nordeste baiano.

Textos transcritos com a ortografia atual. As palavras em inglês foram aportuguesadas ou traduzidas, para melhor compreensão. No final das matérias do ano 1928 e no final do livro iconografia apresentando páginas dos jornais e de recortes. As notícias que a imprensa publicava sobre Lampião tinham seu nome sempre grafado "Lampeão", como mostram as fotos. Os jornais também grafavam Virgulino, embora o registro de batismo e nascimento estejam grafados com (o) Virgolino.

As localidades que tiveram seu nome modificado ao longo dos anos também foram atualizados. As matérias publicadas sobre Lampião pelos diferentes jornais, com o mesmo assunto é uma prova do interesse que o público baiano começou a despertar quando da chegada de Lampião na Bahia.

Manchetes abrangendo o período de 23 de agosto de 1928 até 28 de dezembro de 1929. A primeira foi divulgada pelo Jornal A Tarde em 23 de agosto de 1928 com a seguinte manchete “Quem é Vivo... O grupo de Lampião ruma para a Bahia”.

Verão que o secretário de segurança pública, senhor Madureira de Pinho, acusa o jornal Diário de Notícias de ser seu inimigo, dando assim uma cobertura das tropelias de Lampião, desfavorável ao seu governo, mas os fatos noticiados mostravam a ação de Lampião.

Não existia um jornalismo investigativo sobre a presença de Lampião na Bahia, as matérias publicadas nem sempre eram assinadas pelos jornalistas, os periódicos da capital não focavam apenas as manchetes, mas também opiniões, comentários e editoriais.

Serviço

"Lampião conquista a Bahia"
Luiz Ruben F. de A. Bonfim
Edição do autor
422 págs.
Valor: R$ 35,00 + (Frete simples) R$ 5,00. Total R$ 40,00
Pedidos: graf.tech@yahoo.com.br
ou  (75) 3281 - 5080

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Imprensa e Cangaço

Lauro da Escóssia foi responsável pelo maior furo de reportagem da história do RN

Jornalista e escritor Lauro da Escóssia
[1905 - 1988]

O dia 19 de junho de 1927 foi importantíssimo na história do Jornal O Mossoroense e de toda a imprensa potiguar, pois foi neste dia que foi publicado o maior furo de reportagem do Estado. Tratava-se da entrevista que o cangaceiro Jararaca concedeu a Lauro da Escóssia na prisão, antes mesmo de depor em inquérito policial.

Com a reportagem, de repercussão nacional, transformada em matéria do jornal O Estado de São Paulo, o jornal chegou a uma vendagem recorde de 5.400 exemplares, patamar nunca mais alcançado.

A manchete dizia "Hunos da nova espécie" e a sub-manchete, "O famigerado Lampião e seu grupo de asseclas atacam Mossoró". As chamadas diziam "A heróica defesa da cidade" e "É morto o bandido Colchete é gravemente ferido o lombrosiano Jararaca".

Em seu livro "Escóssia", Cid Augusto transcreve a reportagem, que é introduzida por comentário discordando do adjetivo atribuído a Jararaca na chamada, e que pode ser conferida abaixo na íntegra:

"- Não, nada. Sujeito simpático. Ele começou me dizendo que se chamava José Leite, tinha 27 anos e nasceu no dia 5 de maio em Buíque, Pernambuco. Sujeito moreno, muito moreno, mas não era negro. Era solteiro e andava com Lampião há um ano e alguns meses. Ele tinha um fuzil mauser e cartucheiras de duas camadas, mais 560 mil réis no bolso e uma caixinha com obras de ouro no valor de 1 conto de réis.

Disse que o ataque a Mossoró foi idealizado por Massilon Leite e que Lampião relutou um pouco, por causa da história das duas Igrejas. Que quando Lampião chegou a Mossoró não gostou nada, nada, daquela 'igreja da bunda redonda' (de onde estavam partindo os tiros contra o bando). De repente, Jararaca começava a rir, diz Lauro da Escóssia, e a gente perguntava por que, espantado como um homem com um buraco de bala no peito ainda conseguia rir. -Mas, enfim, Jararaca, para que Lampião queria tanto dinheiro?
- Era pra comprar os volantes de Pernambuco.'

Voltamos a outros episódios com Jararaca na prisão.

Quelé não entrou na cadeia. Um seu ordenança, negro bem alto chegou perto de Jararaca, tendo-lhe arrancado do pescoço, num gesto brusco, uma volta de ouro que trazia com uma medalha de Santa.
Depois cobiçou um anel que o bandido trazia no dedo. Jararaca tentou tirar, não conseguindo, ao que o negro foi logo dizendo: '
- Coloque a mão aqui. Eu vou cortar o dedo para tirar o anel'
E puxou um faca (facão) ao que o Dr. Marcelino implorou: '
- Meu senhor, não faça isto. Cortar o dedo na minha frente, não'.
O negro desistiu, por certo atento à sensibilidade do doutor. Jararaca, fez um pedido com certa ironia:  
'- Tragam Quelé que eu quero dizer quem é cangaceiro'.
Disse depois: '- Quelé era do nosso bando e a polícia paraibana fez dele um sargento para nos perseguir'.

Mesmo ferido, Jararaca não escondia seu riso, o desejo de ainda viver e no momento em que uma linda jovem de nossa sociedade penetrava na sala, atenta à sua curiosidade para ver o bandido, este pergunta:
'- Esta moça é daqui?'. Ao que, recebendo a afirmativa, disse
'- Se o capitão (Lampião) soubesse que aqui tinha uma moça tão bonita teria entrado na cidade.'

A uma pergunta de D. Marola Silva (esposa do Sr. Veriato Silva), se os vinte e tantos traços que tinham na coronha de sua arma eram anotações de morte feitas pelo mesmo, como dizem, respondeu-lhe:
'- É tudo mentira, minha senhora. Eu nunca matei ninguém'. E deu uma boa gargalhada, saindo o vento pelo furo do peito.

Apenas impaciente ficou seguidas horas naquele sofrimento, pelo que chegou a pedir um canudo de mamão e algumas pimentas malaguetas, dizendo que com isso ficaria bom.

Perguntei-lhe como. Disse:
'- No bando, quando alguém recebe ferimento como este (apontando para o peito), sopra-se malagueta pelo canudo colocado na ferida. Sai toda salmoura do outro lado. Arde muito, mas a gente fica curado'.

Mas, apesar de tudo isto, Jararaca vinha aos poucos melhorando e se tivesse sido medicado convenientemente não morreria pelos ferimentos.

O tenente Laurentino de Morais tinha ido a Natal de onde voltou na quarta-feira seguinte. Esperou pela quinta, quando Jararaca seria transportado para Natal. Alta noite, da quinta para a sexta-feira, levaram Jararaca, não para Natal e sim para o cemitério, onde já estava aberta a sua cova.

Tenente Laurentino de Moraes
Fonte: JMaria

Disse o bandido: '
- Vocês não me levam para Natal. Sei que vou morrer. Vão ver como morre um cangaceiro!'

Naquele local foi-lhe dada uma coronhada e uma punhalada mortal. O bandido deu um grande urro e caiu na cova, empurrado. Os soldados cobriram-lhe o corpo com essa areia. Essa ocorrência feita às escondidas foi guardada com as devidas reservas por alguns dias. Tempos depois, o capitão Abdon Nunes, naquela época comandante da guarnição policial de Mossoró, revelou em depoimento a morte de Jararaca'.

Açude: Valeria Escossia

Atenção amigos

Unidos em uma corrente de Fé

Nosso confrade, irmão, amigo e também Conselheiro Cariri Cangaço, Alcino Alves Costa, já há algum tempo passa por um delicado tratamento de saúde; depois de vários exames e cirurgia, novamente nosso amado Decano e Caipira de Poço Redondo se submeterá amanhã Quarta-feira, 26, à tarde, no hospital Primavera em Aracaju, a mais uma delicada intervenção cirúrgica. 

Dessa forma, venho humildemente diante de nossos Conselheiros fazer o presente comunicado e solicitar a harmonia e força em nossas orações.

Muito obrigado e vamos nos unir em oração.

Manoel Severo
Presidente do Cariri Cangaço 


Kiko Monteiro com os amigos Alcino e Rangel na ocasião  do lançamento de "Lampião em Sergipe" na última Quarta-feira 19/10.

sábado, 22 de outubro de 2011

O livro de Gilmar Teixeira no Jornal do Commercio, PE

Nova luz sobre Delmiro Gouveia
Quase um século após o misterioso crime, pesquisador apresenta em livro versão inédita para a morte do homem que revolucionou a indústria no Nordeste

Por Wagner Sarmento

A história não é produto acabado. Está sempre sujeita a revisões, releituras, reviravoltas. A morte do empresário Delmiro Gouveia, pioneiro da industrialização do Nordeste e construtor da primeira usina hidrelétrica brasileira, assassinado em 10 de outubro de 1917, nunca foi ponto final. Reza a tradição popular que, após ser alvejado na cadeira de balanço do alpendre de seu chalé, Delmiro indagou, antes de morrer: ”Quem foi o cabra que me matou?”.


Delmiro lendo jornal em sua cadeira, tal qual quando foi morto

A pergunta atravessou décadas sem resposta. Entre silêncios e murmúrios, um crime sem solução, mais um, retrato de um país onde a injustiça é, muitas vezes, o único elemento indubitável. Mas o manto do mistério pode ter sido desvelado 94 anos depois. É o que garante o historiador baiano Gilmar Teixeira Santos, que mergulhou no intrigante crime e lançou à luz fatos ocultados pelas biografias anteriores. A investigação feita pelo pesquisador revela que o homicídio foi uma grande trama arquitetada por falsos amigos e rivais do homem que anteviu o Nordeste do futuro.


Teixeira debruçou-se sobre inquéritos e reportagens
Os operários Róseo Morais do Nascimento e José Inácio Pia, conhecido como Jacaré, haviam sido demitidos de uma das fábricas de Delmiro duas semanas antes do crime. Pobres, foram presos e acabaram condenados pelo homicídio à pena máxima de 30 anos. Jacaré fugiu duas vezes da cadeia e foi morto em 1924 pelo coronel José Lucena, mesmo homem que matou o pai de Lampião. Róseo cumpriu 15 anos de pena, foi solto por bom comportamento e morreu de velhice em 1979. Em vida, nunca conseguiu se desfazer da pecha de assassino. Uma revisão processual, porém, inocentou a dupla mais de meio século depois, em 1983, após acreditar um álibi desprezado na época e segundo o qual ambos estavam em Sergipe no dia em que Delmiro foi eliminado. Enterrava-se ali, naquela absolvição póstuma, a principal versão sobre o crime.

Outra hipótese difundida alardeava que o assassinato teria sido demandado pela Machine Cotton, empresa escocesa que havia perdido mercado com a ascensão da Companhia Agro-Fabril Mercantil, criada em 1914 por Delmiro Gouveia, a primeira na América do Sul a fabricar linhas para costura e fios para malharia. O que reforçou a possibilidade foi o fato de a Machine ter comprado a fábrica do empresário após sua morte e atirado todo o seu maquinário de um penhasco no Rio São Francisco.

“Todos os biógrafos compraram essas ideias ventiladas logo após o assassinato e ficaram repetindo isso. Ignoraram inclusive a revisão penal que inocentou antigos culpados. Na verdade, essas falsas versões foram difundidas pelos verdadeiros culpados para desviar o foco”, explica Teixeira, em entrevista por telefone ao Jornal do Commercio.


 Róseo Morais e José Inácio Pia, o "Jacaré"
Arquivo do autor não inclusa na matéria original 

O pesquisador começou a se debruçar sobre o crime sem resposta em 2008, quando realizava um documentário sobre a Usina Hidrelétrica de Angiquinho, na margem alagoana da cachoeira de Paulo Afonso, na Bahia, inaugurada por Delmiro em 1913 e que servia para fornecer energia elétrica à fábrica de linha do industrial e à vila erguida por ele na Pedra (AL), município hoje denominado Delmiro Gouveia, em homenagem ao cearense. O trabalho fora encomendado pela Fundação Delmiro Gouveia, que administra o sítio histórico.

Ao cascavilhar o acervo histórico sobre o personagem, Gilmar Teixeira encontrou informações até então ignoradas pela historiografia de Delmiro. Fotos, vídeos, cartas, inquéritos, livros, documentos, pertences e reportagens antigas de quatro revistas e 14 jornais, incluindo o Jornal do Commercio, com cerca de 30 matérias sobre o assunto. A pesquisa resultou no livro Quem matou Delmiro Gouveia?, Obra que leva o leitor de volta à cena do crime e ao jogo de interesses que levou à morte do pioneiro nordestino. Em 153 páginas, o autor garante ter descascado uma dúvida secular.

O mentor do homicídio seria o italiano Lionello Iona, sócio e administrador das empresas de Delmiro. Pouco antes de sua morte, o cearense fez um testamento que colocava Iona como tutor da herança de seus três filhos, até que eles completassem a maioridade. O europeu, que teria redigido o documento, estava enfurecido com a recusa de Delmiro à proposta de compra da fábrica de linhas feita pela Machine Cotton e estaria cansado das humilhações impostas pelo sócio. “Delmiro era um homem à frente do seu tempo, muito inteligente, mas não lia um documento. A família dele fez um escândalo na época, pois não aceitava que Iona ficasse como tutor. Noé, o filho mais velho de Delmiro, só conseguiu retomar o dinheiro aos 21 anos. Iona, então, voltou para a Itália rico. Foi tanto recurso desviado que o contador do italiano abriu um banco logo depois”, diz o historiador.

Lionello Iona, o sócio

A gana pela vantagem financeira, segundo ele, colocou o sócio como autor intelectual de um complô que envolveu cerca de dez pessoas, entre personagens influentes e cangaceiros. Teixeira cita como partícipe a influente família Torres, liderada pela baronesa Joana Vieira Sandes de Siqueira Torres, que se via ameaçada pelo poder econômico e crescente influência política de Delmiro. “Inclusive o juiz do caso era membro desta família e facilitou para que Róseo e Jacaré levassem a culpa em vez dos verdadeiros responsáveis”, afirma.

O político José Gomes de Sá teria entrado na trama pelo fato de o empresário apoiar seu maior inimigo, o coronel Aureliano Lero, que ganharia a eleição para prefeito de Jatobá de Tacaratu, atual Petrolândia. “Além disso, Zé Gomes trabalhava como fiscal de renda e foi delatado por Delmiro às autoridades por receber suborno”, observa Teixeira. Outro cúmplice seria o coronel José Rodrigues, de Piranhas (AL), latifundiário que se sentia desconfortável com a presença de Delmiro, o qual atuava também na pecuária e vendia produtos agrícolas a preços mais baixos que os convencionais.

Até Firmino Pereira, compadre de longa data de Delmiro Gouveia, é listado pelo biógrafo Gilmar Teixeira como um dos envolvidos no crime. A filha de capitão Firmino, como era conhecido na região, estaria difamada após ser seduzida por Delmiro em uma viagem ao Recife? Seu genro lhe dizia que só se casaria com a moça se o industrial fosse morto, e assim fez. De acordo com a versão do pesquisador, é Firmino, cunhado de Zé Gomes, quem contrata os cangaceiros que matarão seu amigo: Luís Padre e Sinhô Pereira, que foi o precursor de Lampião no cangaço.

Sinhô Pereira e o primo Luis Padre 

Dois outros homens teriam dado cobertura à dupla no dia do homicídio a mando de capitão Firmino. Seriam eles o fazendeiro Herculano Soares, que havia jurado vingança depois de apanhar do empresário no meio da rua, e seu cunhado Luiz dos Anjos. “Juntei as peças do quebra-cabeça. Delmiro tinha muitos inimigos. O sucesso dele incomodava muita gente. Havia um barril de pólvora pronto para explodir. Lionello Iona, seu sócio, só atiçou as outras pessoas. Foi ele quem arquitetou o plano. Existiam muitos interesses em jogo. Fizeram reuniões para definir como tudo seria”, explana o historiador.

Na noite de 10 de outubro de 1917, Delmiro Gouveia fez o que costumava fazer. Sentou-se no alpendre de seu chalé em Água Branca (AL) para ler jornal. Foi acertado por dois tiros: um no braço e o outro certeiro, no peito, varando o coração. Um terceiro disparo deixou na parede a marca da violência. Róseo e Jacaré haviam sido mandados pelos próprios mandantes do assassinato para Sergipe, sob a alegação de que fariam um serviço para o coronel Neco de Propriá. Ao chegar lá, o trabalho foi suspenso. Quando voltaram, ambos foram acusados do crime.


Chalé onde o industrial foi assassinado a tiros, em 10 de outubro de 1917 

Entre as mais de cem fotos pesquisadas por Teixeira, está uma de Luís Padre e Sinhô Pereira, tirada em 1917, na Vila da Pedra. “O que eles estavam fazendo lá?”, indaga. Numa entrevista em 1951, detalhada no livro, Róseo revelou a história de que foi chamado à mansão da família Torres poucos dias antes da morte de Delmiro e lá viu dois homens, chamados “Luís Pedro e Sebastião Pereira”, recebendo ordens. “Basta ligar os fatos para chegar aos nomes de Luís Padre e Sinhô Pereira como os executores de Delmiro”, assinala Teixeira, que diz não ser dono da verdade. Frisa que seu livro é, antes de tudo, uma interrogação a mais. Talvez um ponto final.

Edição de Segunda-Feira 17 de Outubro de 2011

Livro: Quem Matou Delmiro Gouveia?

Autor: Gilmar Teixeira
Edição do autor
152 págs.


Contato para aquisição
gilmar.ts@hotmail.com
 
Valor: R$ 30,00 + R$ 5,00 (Frete simples)
Total R$ 35,00

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As voltas que o mundo "lampionico" dá

Maria já era centenária desde 2010, e não nasceu no dia internacional da Mulher

Comemorando 3 anos de atividade, apresentamos o primeiro resultado de uma minuciosa pesquisa gentilmente cedida pelo seu autor, nosso amigo e confrade Voldi, na ocasião do ultimo Cariri Cangaço.

A presente Nota Prévia tem como objetivo dar conhecimento público aos seguidores do Blog Lampião Aceso da localização e do registro do ASSENTAMENTO DO BATISMO de MARIA BONITA contendo a exata indicação das datas: de realização da cerimônia religiosa e do seu nascimento.

Resultado de pesquisa documental e oral, operada a partir de abril de 2011, quando da realização do III Seminário do Centenário de Maria Bonita, promovido pela Prefeitura de Paulo Afonso-BA e, principalmente, realização da exposição Maria Bonita em Nós, promovida pela empresa Cria Ação Comunicação e Arte Ltda., sob a curatela e criação do padre Celso Anunciação, que contou também com a nossa assessoria técnica.

Uma questão muito emblemática para todos, incluindo muitos pesquisadores e historiadores, era a exata confirmação da data de nascimento de Maria Bonita. As imprecisões começavam quando comparávamos: para Virgulino Ferreira da Silva, o capitão Lampião, se encontrou o assentamento do batismo católico e o registro civil de nascimento – é mister que se esclareça – desencontrados em datas, meses e anos. Contudo todos os estudiosos consensam ser o ano de 1898 com o do seu nascimento.

A pergunta que não calava era: por que para Maria Bonita só nos restaram imprecisões de anos ou a única indicação de data, mês e ano - 08 de março de 1911 – sem que se tenha apresentada qualquer evidência documental?

1. Os Registros Históricos do Nascimento de Maria Bonita na Voz dos Autores.

O quadro a seguir sintetiza de modo rápido as diversas indicações quanto à data de nascimento de Maria Bonita:



A primeira indicação da data somente foi encontrada na 9a referência, contida no livro “O Espinho do Quipá – Lampião, a História”, publicado em 1997, 87 anos após seu nascimento e, coincidentemente, 60 anos após sua morte, contudo sem prova documental. Esta constatação, portanto, é o que despertou e moveu nosso interesse em desvendar tão logo e grande mistério da historiografia do Cangaço.

Com o apoio e direta colaboração de Celso Anunciação, com o qual tivemos acesso aos registros eclesiásticos da Paróquia de São João Batista de Jeremoabo e também da Paróquia de Santo Antônio da Glória, cujos livros se encontram arquivados na Cúria Diocesana da atual Diocese de Paulo Afonso-BA.

Justiça seja feita. Com relação a Celso Anunciação, por mais insistência que tenha sido feita à co-autoria da presente Nota Prévia e do futuro livro a ser concluído em brevíssimo tempo, respeitando sua vontade não posso deixar de afirma que sem sua direta colaboração, possivelmente perderíamos a chance de encontrar o assentamento de batismo de Maria Bonita. Os livros consultados se encontram por demais comprometidos tanto na conservação quanto no factível dando físico se forem manuseados.

Também não posso suprimir a providencial orientação e anuência prévia do resultado desta pesquisa, obtida com o grande historiador e amigo pessoal Frederico Pernambucano de Mello.

2. A Missiva de 1971 ao Bispado de Bonfim

A terceira referência que faz referência ao ano do nascimento de Maria Bonita se encontra no registro do pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo, quando no ano de 1971, uma missiva foi remetida à sede do Bispado de Bonfim no estado da Bahia, endereçada ao padre Vicente O. Coutinho, referido como secretário do citado Bispado (Diocese). Esta missiva é de particular importância no presente estudo. Os termos da mesma demonstram a busca pelas informações do pesquisador referido.

Não é de se estranhar que após 40 anos, em 2011, se tenha encontrado a carta datada de 16 de março de 1971, aparentemente sem resposta daquele Bispado, com os seguintes dizeres conforme fac-símile a seguir:


Frente

 Verso



È explicável o motivo pelo qual não tenha havido resposta à missiva de Antônio Amaury por parte do Bispado de Senhor do Bonfim/BA, senão vejamos: há a imprecisa indicação dos nomes próprios do pai e da mãe e de Maria Bonita. Nada de mensurar criticamente o pesquisador. Na época, é de se imaginar com os dados disponíveis, que qualquer um poderia cometer tais equívocos. Vale, no entanto a intenção positiva do pesquisador hoje já consagrado.

3. Registros das Paróquias de Santo Antônio da Glória e de São João Batista de Jeremoabo e dos Cartórios do Registro Civil de Santo Antônio da Glória e de Jeremoabo/BA.

Dado o precário estado de conservação em que se encontram os livros consultados a pesquisa, além de difícil requereu a adoção de cuidados especiais para que os registros não fossem danificados.

Os registros paroquiais consultados foram os seguintes: assentamentos de batismos do período compreendido entre os anos de 1901 a 1922 e para os assentamentos de casamentos do período compreendido entre os anos de 1907 a 1940.

Os registros cartoriais e civis consultados foram os seguintes: termos de nascimentos do período de 1902 a 1937 e para os termos de casamento do período de 1900 a 1940.

4. O assentamento de Batismo.

Nas primeiras consultas foi identificado o que veio no final da pesquisa a ser confirmado como o Assentamento de Batismo de Maria Bonita, encontrado na Paróquia de São João Batista de Jeremoabo no Livro do período de 1909 a 1915, de número 04 e na folha 30 verso, conforme se encontram a seguir a imagem em substrato da folha fotografada e a Certidão emitida em 22 de agosto de 2011:


Imagem fotografada em substrato da folha pelo autor.

Transcrição



Na consulta ficou evidenciada a utilização dos termos “filha (o) legítima (o)” somente quando compareciam à cerimônia do batismo o pai e a mãe respectivamente.

Quando ocorria de comparecer à cerimônia apenas a mãe os termos utilizados eram “filha (o) natural”. Não foi encontrado nenhum assentamento de batismo com o comparecimento somente do pai.
Estes formatos de registros nos assentamentos de batismos são comuns nos livros consultados com distintos párocos e períodos.

Imagem da certidão escaneada na íntegra.


As confirmações encontradas podem ser assim relacionadas:  
a. A coincidência do nome civil da mãe, Dona Déa – Maria Joaquina da Conceição”;
 b. A celebração da festa religiosa anual consagrada a Nossa Senhora das Dores realizada no arruado de Santa Brígida, no mês de setembro, quando o vigário da paróquia de Santo Antônio de Jeremoabo, em período denominado “desobriga” atendia às celebrações religiosas de missas, batismos e casamentos. Confirmação obtida com entrevista realizada com Ozéas Gomes de Oliveira (irmão mais novo de Maria Bonita) e sua esposa Dona Abelízia, quando em visita realizada na sua residência na Malhada da Caiçara;
 c. Confirmação obtida com a Sra. Abelízia, esposa de Ozéas, da existência passada de um cidadão denominado “AGRIPINO”, morador do Sítio do Taráe, localidade vizinha à Malhada da Caiçara;
 d. A não identificação nos assentamentos de batismos pesquisados nas Paróquias de Santo Antônio da Glória e São João Batista de Jeremoabo, de nenhum registro que indicasse qualquer semelhança com o registro encontrado e fotografado e a certidão emitida e assinada pelo Padre José Ramos Neves;
 e. A não identificação dos registros civis dos termos de nascimentos dos cartórios de dos municípios de Santo Antônio da Glória-BA e Jeremoabo-BA, de nenhum registro que indicasse qualquer semelhança com o registro encontrado e fotografado e a certidão emitida e assinada pelo Padre José Ramos Neves.

5. Breve Conclusão.

Dada a evidência do Registro e da Certidão extraída e das confirmações relacionadas, bem como de se ter também encontrado o assentamento do casamento de Edvaldo Ferreira Dias e Joanna Maria d’Oliveira (irmã de Maria Bonita), realizado não na Matriz, no dia 18 de abril de 1936, pelo Vigário e Padre José Magalhães e Souza da Paróquia de São João Batista de Jeremoabo, se pode afirmar com segurança que MARIA BONITA NASCEU AOS 17 DE JANEIRO DE 1910.

As conclusões e outras possíveis novidades estarão impressas no nosso trabalho que se encontra no prelo, aproveitamos para apresentar a capa deste.



Crato, Ceará, 22 de setembro de 2011.
Voldi de Moura Ribeiro
Sociólogo e Pesquisador

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Falando nisso...

Alagadiço - Frei Paulo é Rota do Cangaço em Sergipe

O messianismo que surgiu no Nordeste, e principalmente o banditismo que se tornaram comuns, especialmente durante a República Velha esboça o abandono pelas autoridades entremeado de período de desmedida repressão contra os mais humildes dos sertões. Eis porque Lampião ainda é visto como um mal menor por muita gente, diante da selvageria dos senhores fazendeiros. Todavia, os horrores que os cangaceiros praticavam, muitas vezes levavam a reações como a que houve no Alagadiço contra Zé Baiano que acabou morto, dando início ao declínio do banditismo nos sertões. Alagadiço, pois, marca o primeiro grande revés no cangaço já que não se tratou apenas de expulsar os cangaceiros: eles foram desmoralizados com a morte de um dos mais temidos.

Atualmente, fruto do trabalho incansável do exército de um homem só, de Antônio Porfírio de Matos Neto, foi montado e é mantido por este um museu com várias e valiosas peças no mesmo povoado, daquele período negro da história nordestina, próximo do local do assassinato do terrível Zé Baiano, em 07 de junho de 1936 que, entre outras manias, tinha a de ferrar suas vítimas mulheres depois de as estuprar.

Curiosamente, a instalação do dito museu está às margens daquela que foi canal para o primeiro grande choque entre o branco dominador e o índio e o negro: a gênese do povão brasileiro.

Chega-se ao povoado tomando-se a BR-235 até Frei Paulo, e daí até o trevo para o mesmo povoado por mais três quilômetros; e do trevo até lá por estrada asfaltada, mais sete quilômetros. O museu está localizado numa casa modesta, às margens da estrada real dos quilombos, na saída no sentido da cidade de Carira. Está sempre aberto à visitação nos horários convencionais.



Créditos: Andarilho 59, YouTube

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Alcino em noite de autógrafos

Lampião em Sergipe' será lançado próximo dia 19!

O livro ‘Lampião em Sergipe’, do historiador Alcino Alves da Costa, será lançado nesta Quarta-feira dia 19, às 18h, pela Editora Diário Oficial, da Empresa de Serviços Gráficos de Sergipe – Segras. 

É a oitava obra a receber o selo da entidade. A solenidade ocorre na Sociedade Semear, bairro São José na capital sergipana.

O lançamento promete reunir intelectuais, imprensa, autoridades e convidados que terão a oportunidade de prestigiar a obra. 


O livro que ficou um primor tanto em conteúdo quanto esteticamente. A capa foi impressa em cartão supremo de 300g com aplicação de textura localizada em verniz, e o miolo em papel pólen soft de 80g..


‘Lampião em Sergipe’ proporciona ao leitor em suas 292 páginas uma imersão nos fatos ocorridos na época do Cangaço, além da forte influência do Coronelismo e o Misticismo no sertão nordestino.

Pescado no: Cinformonline e ClickSergipe


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sábado, 15 de outubro de 2011

Rubens "Ontonho" no rastro de Lampião

Os Lantyer, de Queimadas 
A entrada de Lampeão e seu bando, em Queimadas, BA. em 22 de dezembro de 1929, se fez após a travessia, por canoa, do Rio Itapicuru.


Ponto atravessado por Lampeão e seu bando, em 22 de dezembro de 1929.

Desembarcou o grupo a cerca de 150 metros do chamado Chalé Lantyer. Caminharam em sua direção e encontraram dois homens diante de um automóvel. Foi assim que João Lantyer de Araújo Cajahyba tornou-se o primeiro a ser abordado por Lampeão e demais cangaceiros, após aqueles terem atravessado o Rio Itapicuru, diante da sua residência.

João Lantyer

O Chalé Lantyer, em seu aspecto original (Acervo família Lantyer)

João Lantyer, segundo à direita, com seu "Ford Bigode". Na extrema direita, o mecânico Patápio. Foto de 1928. Possuiu-o por pouco tempo. Vendeu-o para atender ao pedido da esposa, que temia que, em suas viagens, fosse novamente abordado por Lampião. Informação de Antonio Lantyer, seu filho, in Chalé Lantyer

Ali, João se encontrava com o mecânico Pedro Patápio realizando consertos no seu "Ford Bigode”. Após breve conversa com Lampeão, que solicitou o automóvel para adentrar a cidade no mesmo, informando-o que este se encontrava, como se podia perceber, com defeito, foi deixado para trás. Isto, enquanto o cangaceiro despachava alguns cangaceiros para neutralizar o telégrafo e avançou adentrando a cidade.

Zulmira Lantyer de Araújo Cajahyba, irmã de João, que se encontrava na residência da sua irmã, Djanira Lantyer de Araújo Cajahyba, quando foi chamada a ver a passagem do que seria uma tropa volante pernambucana. Reconheceu Lampeão e os cangaceiros que, passando-se por força volante, adentravam Queimadas.

Zulmira Lantyer

Tentou avisar a cidade, em uma ação poderia ter evitado o saque da cidade e o massacre dos soldados.
Entretanto, não deram crédito ao seu alerta. Tendo tomado a cadeia e quartel e prendido o sargento Evaristo e alguns praças, Lampeão fez tocar o apito que chamava os demais para o quartel. João Lantyer avistou e avisou um dos soldados que a pretensa volante era, na verdade, um "troço de cangaceiros” liderado por Lampião. Entretanto, o soldado não acreditou nele e seguiu para a morte.

Nascido em 24 de setembro de 1895, João Lantyer faleceu em 17 de dezembro de 1987, em Queimadas. Zulmira Lantyer faleceu em Queimadas em 25 de junho de 1989.

Explore: Cangaço na Bahia

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A vida após o cangaço

Uma carta de Lampião e a história do soldado volante que se tornou ambientalista

By Rostand Medeiros

Artur Carvalho é da cidade de Floresta, Sertão de Pernambuco. Ele sempre coloca interessantes informações sobre o cangaço no ORKUT, mais precisamente em uma comunidade denominada “Lampião – Grande Rei do Cangaço”, Clique aqui e participe . Esta é comandada pelo amigo Ivanildo Silveira, um grande paraibano que mora em Natal, é promotor de justiça e colecionador de materiais ligados ao cangaço.

Recentemente o amigo Artur postou dois interessantes materiais históricos sobre o tema, que trago para os amigos que prestigiam o nosso “Tok de História”.


Carta de Lampião ao dono da Tabuleiro Comprido.

O primeiro material é uma das famosas cartas escritas por Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, a um fazendeiro de nome Cantidiano Valgueiro dos Santos Barros, dono da propriedade Tabuleiro Comprido, conforme podemos ver na foto que segue, extraída da página 192, do livro “Relação dos Estabelecimentos Ruraes Recenseados no Estado de Pernambuco”, de 1925.


Na carta, escrita na peculiar maneira de Lampião se expressar, ele pede a Cantidiano dois contos de réis, de forma extorsiva, a fim de serem evitados “prejuízos”.

Segundo Artur Carvalho, que utilizou os conhecimentos profissionais de um especialista em paleografia , a “tradução” é a seguinte;
“Ilmo. Sr Cantidiano Valgueiro,
Eu (ou “le”) faço esta para “vc” mandar-me dois “conto dereis”, isto sem falta, não tem menos, para “vc” saber se assinar em telegrama contra mim como “vc” se assinou em um com “Gome” jurubeba. Eu ví e ainda hoje tenho ele. Sem mais, resposte logo para “envitar” muito prejuízo. Sem mais assunto.
Cap. Virgulino ferreira Lampião. [sic]”

Na carta encontramos o nome do policial Gomes Jurubeba, grande inimigo de Lampião e certamente ligado a Cantidiano Valgueiro. Provavelmente esta ligação possa explicar o segundo regalo enviado pelo amigo Artur Carvalho.

Esta é uma interessante e rara foto, provavelmente da década de 1930, onde vemos três homens membros de um grupo de volantes, equipados e armados para combaterem os cangaceiros de Lampião e de outros bandos, em meio as caatingas nordestinas.

Os três soldados volantes

O grupo é formado (Da esquerda para a direita) por Geronso Calaça e Natanael Valgueiro, ambos da cidade de Floresta, e por Luiz Capuxu, de Serra Talhada.

Na imagem Natanael e Capuxu portam fuzis Mauser, mas pelas munições, na qual todos carregam em profusão, acredito que o Geronso também deveria ter este tipo de armamento. Além disso, trazem cantis, bolsas, apetrechos para dormirem no mato, punhais e outros materiais.

Podemos ver que portam armas de fogo curtas, sempre no lado esquerdo de seus cintos. Geronso e Natanael estão com o que aparentam ser duas pistolas F.N., modelo 1910, em calibre 7,65mm (.32 AUTO). Com Capuxu é possível ver um volumoso cabo de um revólver, mas sem maiores detalhes só podemos especular que era provavelmente algum modelo em calibre 32 ou 38.

Pistolas F.N., modelo 1910, em calibres 7,65 mm (.32 AUTO) e 9 mm Browning Curto (.380 ACP). Em versões “presentation”, com placas de cabo em madre-pérola, e a oxidada em negro com placas de cabo em ebonite preto 
Fonte - http://armasonline.org/armas-on-line/as-pistolas-browning/

Sobre as andanças de Natanael e os seus companheiros, sobre suas lutas contra cangaceiros não sei de nada.

Segundo Artur, Natanael era sobrinho e genro de Cantidiano Valgueiro, casado com sua filha Dona Zelfa Valgueiro Barros. Diante das ameaças feitas pelo “Rei do Cangaço” a seu parente, entrou em uma volante para dar combate aos cangaceiros.

Não sei se Lampião chegou a cometer algum tipo de crime contra seu parente, ou contra a propriedade Tabuleiro Comprido, mas o fato dele estar em uma volante pode apontar que esta hipótese é bastante plausível.

Independente do que ocorreu nesta época, mais interessante foi a bela atitude que Natanael tomou em relação a sua amada Tabuleiro Comprido vários anos após o fim do cangaço.

Segundo uma matéria assinada por Josélia Menezes, em 1 de Abril de 2003, temos a interessante história.
“A história de vida e as atitudes do fazendeiro pernambucano Natanael Valgueiro Barros, 89 anos, nunca foram pautadas pelo conformismo e pelo convencional. Ainda garoto, nos anos 30, entrou nas chamadas Forças Volantes, que combatiam o Cangaço. Acabado os horrores dos combates, ele era um homem mudado, um pacifista. Desde então, em meio à luta contra a seca para salvar os rebanhos de gado, bode e ovelha, no semiárido, onde está sua fazenda, Tabuleiro Comprido, município de Floresta, ele encampou outra batalha solitária e pioneira: proteger as espécies ameaçadas da caatinga, especialmente emas. Caça e desmatamento soava como heresia aos seus ouvidos. Acabou virando o primeiro ambientalista daquelas paragens. Há 34 anos ele já cercava a fazenda, palco de confrontos sangrentos da Coluna Prestes, de olho na preservação.
Passado o tempo e reduzidas as emas a umas poucas unidades pela ação de caçadores e espertalhões, seu Valgueiro acaba de ter uma vitória significativa. O Ibama decretou recentemente a criação da primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) no Vale do São Francisco em Pernambuco, com área de 285 ha, nas terras de seu Valgueiro.
O trabalho pioneiro realizado por ele sempre teve o apoio da família e foi justamente as três filhas e a nora que, diante de seu estado de saúde precário, encamparam sua luta pela criação da reserva. A ideia surgiu num momento de desespero, quando os registros do Incra apontavam a fazenda como improdutiva, passível de reforma agrária, apesar da tradicional criação de gado, ovelha e bode, dentro da filosofia de desenvolvimento sustentável, um conceito concebido só recentemente, mas já praticado na área. “Todo um longo trabalho de respeito ao meio ambiente era distorcido e em vez de premiação, éramos punidos”, observa a filha Adália. A ameaça de desapropriação chamou a atenção do grupo ambiental SOS Caatinga, que já vinha exercendo campanhas protecionistas na região, idealizador da criação da RPPN. A parceria estava formada. O grupo iniciou uma campanha de denúncia da situação junto a órgãos federais, como o Incra e Ibama, e as entidades ambientais Fundação Biodiversitas (MG) e Aspan (PE). “Os assentamentos do Incra em área de caatinga não têm muita preocupação ambiental. Seria um desastre socioambiental criar mais um justo nesta área”, observa Cláudio Novaes, membro do SOS Caatinga. Deu efeito. Relatório do escritório do Ibama em Salgueiro desaconselhou a desapropriação e comprovou o excelente estado de conservação da área, grande biodiversidade e beleza cênica.
SOS Caatinga, Fundação Biodiversitas (MG) e Aspan (PE) formaram uma parceria para evitar um desastre ambiental e formar uma das mais importantes RPPN na área do rio São Francisco.
Através do SOS Caatinga, a família entrou com pedido de criação da reserva. “O apoio do representante federal do programa de RPPN em Pernambuco, Luiz Guilherme Façanha, foi decisivo porque ele nos orientou e estimulou o tempo todo”, revela Adália Valgueiro. O Ibama através da Portaria nº 177/02, de 31/12/2002 aprovou a criação da reserva, que leva o nome “Cantidiano Valgueiro de Carvalho Barros”, único filho homem do “seu” Valgueiro, morto há 3 anos. O órgão declarou a área como “de interesse público e em caráter de perpetuidade”.
O documento faz referência clara às agressões que a propriedade vem recebendo por parte dos caçadores. “As condutas e atividades lesivas à área reconhecida sujeitarão os infratores a sanções administrativas cabíveis, sem prejuízo de responsabilidade civil e penal”. A área preservada acaba de ser registrada no cartório de registro de imóveis. Também já se encontra em andamento a primeira pesquisa científica no local, sobre beija-flores, realizada pela mestranda em Biologia, Fabrícia Leal, pela UFPE.
A reserva de “seu” Valgueiro é a segunda em área de caatinga em Pernambuco. A primeira, chamada “Maurício Dantas”, fica no município de Betânia, criado há quatro anos pelo funcionário público Fábio Dantas, que também homenageou o filho morto em acidente.”

Para ver o site Folha do Meio Ambiente Clique aqui

Apesar do texto anterior conter erros relativos a história da passagem da Coluna Prestes pela região, temos que dar os parabéns a Natanael (Seja neste ou em um plano superior) e a sua família pela notável ação com a criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural Cantidio Valgueiro, na Ecoregião denominada “Depressão Sertaneja Setentrional”.

Segundo indicações do ICMBIO, a RPPN da Fazenda Taboleiro Comprido é na área da foto.  
No canto esquerdo o Rio Pajeú e a estrada mostrada é a PE-390
Fonte - www.earth.google.com/intl/pt/

Aparentemente o filho de Natanael tinha o mesmo nome do sogro e tio do seu pai e era dentista segundo eu apurei. A preservação deste local deixa para as futuras gerações, um pedaço da caatinga próxima ao Rio Pajeú que foi autenticamente pisado tanto pela Coluna Prestes, como pelo bando de Lampião e seus perseguidores.

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