segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Fogo!!!

As armas do cangaço em funcionamento 

Pesquisando no Youtube, um amigo encontrou vídeos de colecionadores e profissionais em demonstração de armas clássicas e selecionou os que apresentam as pistolas, Fuzis e submetralhadoras utilizadas no período do cangaço.

Um complemento ao artigo campeão de audiência ARMAS DO CANGAÇO.

Desta vez poderemos perceber desde o manuseio até o poder de fogo dos "brinquedos".

Haja vista que muitos de nós já tivemos a oportunidade de ver essas armas de perto, mas sempre desativadas e silenciosas, cuidadosamente guardadas dentro de redomas de vidro. Os vídeos nos permitem conhecer o “ronco” daquelas armas, “instrumentos de trabalho” de homens e mulheres que se aventuraram na tenebrosa vida do cangaço ou das forças policiais.

Créditos para o confrade de Orkut Leandro Coelho.
Supervisão: Fábio Costa.

Pistola Mauser C96. 
Porém as da policia eram cópias: as Royal espanholas.






Luger 08 "Parabellum"







Mauser 1908





Winchester 1873. 
Conhecida como “papo amarelo” devido ao elevador da munição ser na cor amarela (feito em bronze ). Foi a Winchester mais usada no Brasil.  A porta (ou pórtico) na verdade fica na lateral da arma, sendo de metal comum, escuro.




Bergmann 






Pistola Browning 1910, cal. 7,65




Revólver Nagant



Revólver cal. 38 Special


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Lenha na Fogueira!

Ademar ou Benjamim? 
Por: Renato Casimiro

Severo me pediu uma opinião sobre o excelente Depoimento de Nirez, com respeito à participação de Ademar Bezerra Albuquerque na realização do filme com Lampião. A rigor, não ouvi ali nada do que não seja o restabelecimento da verdade. Nirez tem a seu favor um zelo muito grande por tudo que lhe cerca, seja na fotografia, na música e em todas as suas manifestações de grande memorialista.

Não há dúvida que o seu depoimento procura esclarecer a verdade sobre aquilo que, historicamente, se aceitou como sendo uma ação de Benjamim Abrahão.

É perfeitamente factível que as atenções de Ademar Bezerra Albuquerque para não perder a oportunidade de realizar o trabalho, através de Benjamim, sejam verdadeiras e incontestáveis. E nisto o Nirez juntou detalhes fornecidos pelo Chico Albuquerque com grande propriedade para firmar a veracidade das afirmativas.

Procurando imagens do Juazeiro antigo, não encontrei em muitos anos uma só que pudesse ser referida ao “fotógrafo” Benjamim. E olhe que ele tinha tudo para fazê-lo, pois no período em que foi secretário do Pe. Cícero, Juazeiro se viu descoberto por uma quantidade enorme de visitantes ilustrados e o dia-a-dia da casa do padre era muito favorável a isto.

Ademar Bezerra Albuquerque 
Pescada em Fortaleza Nobre

Efetivamente, este período de Juazeiro e do Pe. Cícero (época em que Benjamim servia à casa do padre) é muito rico em imagens fotográficas e filmes. A propósito destes filmes, reproduzo o texto que apresentei em nosso então jornal eletrônico Juazeiro on line, na sua edição de 18.01.2009, numa coluna denominada Juazeiro, por aí, que ainda pode ser encontrado disponível em
http://www.juaonline.info/.

FILMOGRAFIA(I)...

Numa consulta à Cinemateca Brasileira (Secretaria do Audiovisual/Minc), São Paulo, localizei dados sobre os filmes realizados pelo sr. Lauro Reis Vidal, durante sua visita a Juazeiro, em 1925. Foram três películas: um filme original, de 1925, e dois outros montados nos anos 1939 e 1955.

FILMOGRAFIA(II)...


O JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO

(Infelizmente, a Cinemateca Brasileira não possui este filme), é um documentário inscrito na categoria de curta-metragem/silencioso/não-ficção. O material original foi em 35mm, BP, 16q. Produção de 1925, em Fortaleza, onde foi lançado em 08.12.1925, no Cine Moderno. A produtora foi a Aba Film, de Adhemar Albuquerque, que fez a direção. Sinopses: "Surpreendente filme natural apresentando magníficos aspectos da região do Cariri em que se vêem: Joazeiro, Crato, Barbalha e outros lugares, assim como Missão Velha, Lavras, Quixadá, Ingazeiras, Fortaleza, etc.

Impressionante vista do grande açude do Cedro". (Jornal do Comércio, 28.11.1926). "Trata-se de uma bela reportagem cinematográfica do Cariri, zona em que o padre Cícero exerce a sua infatigável atividade e o seu grande prestígio. O Joazeiro, a cidade do padre Cícero, é apresentada em seus diversos aspectos, mostrando o seu progresso, o seu povo, enfim tudo o que ali existe de importante. Além do Joazeiro, o público aprecia outros bonitos pontos do sertão cearense, destacando-se o Crato, Barbalha, Missão Velha e o colossal açude do Cedro, obra grandiosa da engenharia brasileira. De Fortaleza há algumas, como sejam o porto, o passeio Público e o Parque da Liberdade. 

Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. É um filme digno de ser apreciado. Não fatiga o espectador. Ao contrário, torna-se atraente pela variedade de cenas, que desenrola. Além disto satisfaz uma curiosidade: mostra o maior domador de homens dos sertões, o padre Cícero Romão Baptista, que se apresenta em diferentes cenas, entre o povo que o aclama, em sua residência trabalhando, abençoando afilhados e romeiros, discursando, enfim de diversas maneiras é ele visto na tela".
(Jornal do Comércio, 02.12.1926)

FILMOGRAFIA(III)...

O JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO, o segundo documentário, foi realizado em 1939, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir de um material original anterior, em 35mm, BP, com duração de 8min, 220m, 24q. A produção foi de Lauro Reis Vidal, no Rio de Janeiro.

FILMOGRAFIA(IV)...

PADRE CÍCERO, O PATRIARCA DO JUAZEIRO, o terceiro documentário, foi realizado em 1955, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir do material original em 35mm, BP, com duração de 11min, 300m, 24q. A produtora foi a Filmes Artísticos Nacionais, do Rio de Janeiro, e a co-produção foi de Lauro Reis Vidal, tendo como direção Alexandre Wulfes. Por exigência da época, o documentário passou pela censura em 19.01.1955, com o certificado 31942, válido até 19 de janeiro de 1960.

FILMOGRAFIA(V)...

Comentários: Observe que fotos de Lampião são referidas em período anterior à sua visita a Juazeiro, em 1926. Algumas das cenas destes documentários podem ser vistas em outras produções recentes, tanto para cinema como para TV. Na ilustração da coluna de hoje, o arquivo do Juaonline apresenta algumas delas, em fotos que foram obtidas por Raymundo Gomes de Figueiredo (anos 50), a partir de fotogramas destas películas. Especialmente sobre esta primeira película, encontro um registro cartorial firmado pelo Pe. Cícero nos seguintes termos:

1931, 13 de Novembro 
-  DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA, AO SR. LAURO DOS REIS VIDAL, PARA EXIBIÇÃO DO FILME" JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "ÍNTEGRA: 
" Amigo e Sr. Laudo Reis Vidal. Saudações. Consoante os seus desejos, pela presente, dou a V.S. a exclusividade absoluta para exibição e representação cinematográfica em "qualquer parte do país e fora dele" de filme que diz respeito a aspectos deste município ou fora dele, nos quais figure a minha pessoa. Assim autorizado poderá V.S. fazer a exibição de qualquer película authentica que tenha obtido, ou que possa obter, conforme melhormente consulte as suas conveniencias e as aspirações gerais do povo, a exemplo da que já é de sua propriedade. 
Joazeiro, 13, de outubro de 1931.  
Ass. Padre Cícero Romão Baptista. (Lo. B-l, N° de Ordem 10, p. 18)

No dia seguinte, o Pe. Cícero faz constar no mesmo livro do primeiro tabelionato uma outra comunicação, reafirmando a concessão do dia anterior e ampliando suas prerrogativas:

1931, 14 de Novembro 
- DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA AO SR. LAURO REIS VIDAL, PARA IXIBIÇÃO DO FILME "JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "Integra:
"Amigo e Sr. Lauro Reis Vidal. Local. Reportando-me a minha carta passada onde lhe concedo a exclusividade de minha exibição cinematográfica ficando V.S. com plena autorização por ser o único habilitado a propagar o município de Joazeiro e minha pessoa, através da mesma exclusividade, em todos os tempos, como proprietário do filme "Joazeiro, do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" ou outro qualquer filme que possa obter; sirvo-me da presente para juntar as fotografias e documentos que solicitou, em relação separada e por mim assignada, como elementos precisos para a via de propaganda acima citada. Encerrando, cumpre-me, de já, agradecer a sua manifesta boa vontade para comigo, os meus amigos e as coisas do Joazeiro. 
Saudações. 
Joazeiro, 14 de novembro de 1931. 
Ass. Padre Cícero Romão Baptista.( Lo.B-l, N° de Ordem 12, p. 19/20).

O ano de 1925 foi pródigo para filmagens em Juazeiro. Conhecemos a película realizada em 11 de janeiro, quando da inauguração da estátua ao Pe. Cícero, na Praça Alm. Alexandrino de Alencar; conhecemos a película realizada em setembro, quando da visita da comitiva do presidente Moreira da Rocha; conhecemos a que foi realizada por Ademar Albuquerque/Reis Vidal; mas não conhecemos uma que teria sido realizada por iniciativa do então deputado estadual Godofredo de Castro, neste mesmo ano.

É muito mais provável que Ademar esteja como realizador em todas estas películas e este relacionamento teria servido para oferecer um treinamento mínimo para o que viria anos depois com o filme de Lampião, pois é neste ponto que o testemunho de Chico Albuquerque a Nirez é importante.

Não tenho dúvida em aceitar que Ademar e Benjamim tornaram-se parceiros, sendo este cliente daquele e a quem poderia realizar pelo motivo apresentado por Chico Albuquerque e Nirez, o da confiança de alguém que não o punha, e a seu grupo, em apuros com a repressão policial.

Embora tenha feito isto, publicamente, em depoimento durante uma edição do Cine Ceará, anos atrás, aproveito a oportunidade para relatar brevemente o que me foi ensejado conhecer desta atividade cinematográfica de Benjamim. No início dos anos 80, eu e Daniel Walker adquirimos uma coleção de fotografias antigas de Juazeiro e alguns pequenos pedaços destas películas que o seu proprietário, Raymundo Gomes de Figueiredo, cidadão juazeirense, mantinha como acervo e no qual se incluíam livros e jornais, e a que deu o nome de Arquivo Benjamim Abraão.


 Benjamim

Quando adquirimos e isto foi divulgado pelo Diário do Nordeste, o fato foi relevado como se tivéssemos adquirido o Arquivo “de” Benjamim Abraão. A família de Benjamim, através de seu filho, então residente em Niteroi e comerciante no Rio de Janeiro, Atalah Abraão, instruído por Eusélio Oliveira, resolveu mover uma ação contra nós dois e a levou adiante nas instâncias de Juazeiro do Norte e Fortaleza. Vencemos nas duas e o material nos foi devolvido, anos depois.

Mais adiante, numa conversa com o ex-senador da república, José Reginaldo Duarte, cuja família criou nos arredores de Juazeiro, o filho de Benjamim, o sr. Atalah, nos chamou para uma conversa onde algumas coisas foram faladas a respeito da frustração que aquele ato determinou para nós e para a família, sobretudo porque ficou demonstrado que nós não havíamos comprado nenhum roubo, portanto, não éramos receptadores de um acervo, até então procurado.

O sr. Reginaldo Duarte nos lembrou, inclusive, que por vários anos, encontrando-se diversos rolos de filmes pertencentes a Benjamim (não se sabe se apenas outros que não o relativo a Lampião) num canto da casa, na localidade de Brejo Seco, proximidades do atual Aeroporto Regional do Cariri, guardados em latas...

...a garotada do sítio tomava aqueles rolos e os queimavam durante as festas juninas. Certamente que por conta do material cinematográfico de então, sua queima se assemelhava a uma chuva de prata, coisa que fazia a garotada delirar.

Este é o fim trágico, pelo qual, inclusive tivemos que pagar duramente por uma suspeita descabida, a partir da ignorância e má vontade do então, meu amigo, Eusélio Oliveira, que não se permitiu aceitar o convite para conhecer de perto o que tínhamos comprado. A grande indagação que ficou, como moral da história foi mais uma grande dúvida sobre o que teria feito ou não Benjamim Abraão, como fotógrafo e cinegrafista, aluno de Ademar.

Em tudo o que mencionei antes e do que ouvi, destaco: Sem querer por fogo na fornalha e já pondo, enfatizo o que registra a ficha da Cinemateca, mencionada: Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. Não é interessante que haja estas fotografias tomadas em data(s) anterior(es) a 1926. Observar que no filme com Lampião, Benjamim aparece usando um bornal com a inscrição Aba Film. Nunca houve omissão de que a produtora foi a Aba Film, de Adhemar Bezerra Albuquerque, que (também) deve ter feito a direção, à distância. Por isto, o depoimento de Nirez corrobora com as indicações anteriores de que ele era, efetivamente, produtor, diretor e fotógrafo destas películas em torno de 1925.

Entre 1925 e 1936, quando filma Lampião, certamente Benjamim já teria apreendido objetivas e eficientes lições para manejar a máquina. Em mais de 10 anos de relação profissional com Ademar, Benjamim só teria feito isto? A resposta se foi, desgraçadamente, no fogo ingênuo das crianças, em noitadas de São João, nos arredores de Juazeiro do Norte.


Renato Casimiro

Pescado no açude do Coroné Severo: Cariri Cangaço

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

No lombo de Virgínio Fortuna

Conheça o mais obscuro e "incandiado" capítulo da estória do cangaço.

A mais popular das redes sociais, o Orkut, está quase extinto no resto do mundo. E aqui no Brasil começa a cair no conceito de muitos usuários. Estes estão cancelando suas contas e ingressando no "IN" do momento que é o Facebook.

Não tenho o que reclamar do velho Orkut. A interação diária neste site de relacionamentos além de render inesquecíveis amizades nos proporcionou uma riqueza de conhecimento e material. O que já percebi as ferramentas do Facebook não possibilitam.

O artigo a seguir agrega essas duas qualidades pois além de ser uma homenagem unindo ou diria "punindo" oito dos mais de 12 mil participantes da comunidade: Lampião Grande Rei do cangaço nos inspirou a criar novas linhas baseado na literatura cangaceira e seus principais protagonistas. A principio uma notícia de jornal criada por um especialista em armas comentava as ações de bravos volantes contra um tenebroso cangaceiro, Potiguar de Currais Novos José Vanderli, vulgo "Virgínio Fortuna". Depois surgiram outras personagens e a presepada tomou forma. A postagem original é de 2007.

Escrita a "4 mãos" por Fábio Carvalho Costa, Kiko Monteiro e posteriormente por Marcelo Rocha.

Deveria dizer três mãos, mas Marcelo pra se aparecer provou ser destro e canhoto, tecla com as duas mãos ao mesmo tempo.

Créditos: Com exceção de Virginio Fortuna demais montagens fotográficas foram feitas por Laelson Correia. Legendas: Kiko Monteiro.


GAZETA DE NAZARÉ 
12 DE FEVEREIRO DE 1932 
(EM CONJUNTO COM O JORNAL A TOCHA DA LIBERDADE DE RECIFE)


EXTRA, EXTRA A TOCHA TRAZ COM EXCLUSIVIDADE: 
"CAÇADA A CANGACEIROS NO SERTÃO"


Por Theofanes Pedreira Madureira (Fábio Costa)


Seguiu-se nestes turbulentos dias do ano em curso, em plena caatinga sergipana, a histórica união de 2 tropas de estados nordestinos distintos: uma unidade policial militar volante de Sergipe, e outra da Bahia, chefiadas respectivamente pelo 2° Tenente Kiko, e pelo Capitão Fábio.


ten. Kiko
Patente adquirida com recursos do BNDES.


cap. Fábio
Em foto de época que palestrava sobre espingarda de soca.


As duas volantes acompanhadas por este comentarista, marcharam arduamente pelo árido terreno, ressequidas e fustigadas pelo sol, pelo cansaço e pela natureza inóspita da seca caatinga num calor saárico, por uma semana sem descanso ou quartel, com o único objetivo: localizar o coito e os simpatizantes do famigerado Cap. Virginio Fortuna. As unidades policiais informadas que o sanguinário, malvado, excomungado, ruim pra dedéu, etc. etc,etc, cangaceiro, junto com seu estado maior do banditismo rural nestas plagas (afirma-se que os cangaceiros Julio, Djalmir, João queixada de burro, Miguel do Creu, Antônio Ponto fino - não se sabe a causa deste apelido já que o cabra é vesgo! - Joaquim pé de baraúna (eita?!) dentre outros) estaria homiziado nas terras do Cel. Geziel Moura, rapidamente se deslocaram para lá, levando duas metralhadoras "bordadeiras Hotchkiss", que significa "beijo quente" na língua de Sheakspire ** e mais as armas pessoais dos combatentes.


 Única imagem disponível do bandoleiro Virgínio Fortuna.
Nesta imagem de 2007 ele teria posado para um Juiz.


Aliás, antes de irem pra fazenda passaram na Igreja do padre Ivanildo Silveira, que prega a todos na vila que “ função da igreja é acolher a todos e proteger os sofridos, sejam camponeses ou cangaceiros"... desde que tenham a bolsa recheada de vinténs, ele não se sentiu muito bem depois de comer na marra um leitão inteiro com um litro de sal, pimenta e farinha!!


 Reverendo Ivanildo.
Recebeu carinhosamente a nossa equipe... mediante pagamento de indulgencias.


Cantando os hinos das gloriosas corporações as tropas invadiram com autorização do interventor do estado a herdado do mal afamado Cel. Geziel, e depois de uma rápida troca de tiros com os jagunços do fazendeiro (que dizem as péssimas línguas medrou, amarelou e fugiu para a caatinga vestido de mulher e cantando "mulher rendeira" e na carreira foi parar no Pará - trocadilho infeliz desculpem), fizeram a tradicional arrepiada geral com Cipó caboclo na titela de meia dúzia de cabra safado, desinfeliz, etc, etc,


As gloriosas tropas ainda fizeram a maior festança com uns garrotes e com a destilaria do Cel. Geziel, que dizem é chegado numa "água que passarinho não bebe, e se beber e voar bate em poste, em árvore etc", depois de saciados com churrasco e cachaça, e terem sido "apresentados" a todas as "meninas" da casa de Dª Branca, seguiram os valentes policiais para o confronto com os cangaceiros do Virginio Fortuna na gruta dos Angélicos.



O de terno preto é Cel. Geziel
Sentado ao seu lado de chapéu
é o colega Jal Gomes também coronel
Que juntos já mandaram mais de 20 pro céu.


Assim narra o nosso correspondente a batalha:


"As 6 da manhã a tropa estacionou numa das nascentes da gruta dos Angélicos, cobrindo o flanco esquerdo com uma das metralhadoras, a outra foi apontada diretamente para o centro do estreito caminho que dava acesso ao lugar. O tenente kiko puxou uma bala pra agulha da pistola Mausa caixa de pau, e o capitão Fábio e o Sargentos Âlfredão e "Zé diabo", fizeram o mesmo com as suas Parabellum, a um aceno de mão, as duas unidades avançaram silenciosamente, até que entraram na parte mais aberta dos arvoredos que margeiam a gruta.


Lá infelizmente não se achou nada nem ninguém, depois de uma minuciosa busca pelo pote de ouro do Virginio Fortuna, apenas se achou os restos de um abadá de bloco com as mangas cortadas, que pertenceria a uma das mulheres do bando, e uma reserva de um hotel de Salvador para o carnaval... que fiasco os cabra tinha ido "pulá" carnaval na capital baiana!


Assim para não perder a viagem a tropa prendeu e distribuiu gratuita e fartamente, cacetadas e sopapos em uns vaqueiros e uns tropeiros que encontraram na volta, sob a alegação que estes teriam avisado aos cangaceiros. Bem como fizeram um fuzuê arretado na vila de "furado grande", localidade próxima ao sitio onde ocorreu a palhaç.. quer dizer o combate...


Assina : Theofanes Pedreira Madureira do hospital Municipal do Recife.


PS: minha vista tá limpando, diz o Dr. que em breve volto a enxergar...Ah se eu pego esse miserento do tenente Kiko!!! (que espancou enraivecido o repórter gritando "Em corrida de pato, frango não entre meu filho"


Foi assim...


** Nota do editor, em seu entusiasmo e pouco conhecimento da língua inglesa (vide pela grafia medonha de Shakespeare) o correspondente Theofanes Pedreira cometeu esta gafe sobre esta arma "beijo quente" que se perpetua até hoje, ver o artigo sobre armas do cangaço para ter uma compreensão melhor do fato...


Comentários enviados a redação deste tabloide pelo 2º tenente Kiko.


Prezado Sr Theopanes

Eu na qualidade de 2° Tenente, venho através deste ofício lhe parabenizar pela cobertura imparcial desta nossa última incursão na incessante caçada ao Virginio Fortuna e seus cabritos...Perdão e "suas cabras". E garantir que não permitiremos nenhum ato de censura aos vossos textos, até porque eu sou um dos protagonistas em ações dignas de um Bradock. 


Não me queira mal visse. Ou vai ser um enviado especial à Alemanha. Dizem que tem um cabra imitando Charles Chaplin, inclusive o bigode é o mesminho, mas num quer graça, tá querendo é arenga.


Outras ocorrências.


- Correio do Seridó no encalço do Virginio Fortuna -.
Olégario Frutuoso (Kiko Monteiro) 
sucursal em Caicó.


O Famigerado Cangaceiro acompanhado de seus principais lugares tenentes em refúgio desconhecido, mantém como refém o nobre Desembargador José Walter. Virginio Fortuna já enviou mensagem em garrafa com bilhete para as forças Baianas comandadas pelo Capitão Fábio com sutis desaforos e o pedido de resgate. Só esqueceu de retirar o líquido antes de depositar os conformes. O que não borrou foi prontamente decifrado por rastejadores bilíngues especializados em dialetos extintos


Eis aqui as principais exigências do facínora, malévolo e inescrupuloso cangaceiro:
- Uma passagem com tudo pago direito a acompanhante para a belíssima cidade de Natal no RN com finalidade de conhecer o acervo literário e iconográfico do reverendíssimo Padre Ivanildo.
- O mais novo trabalho do estimado escritor Sérgio Dantas seu livro "Lampião, entre a espada e a lei".
- Todos os títulos em DVD do acervo do Cel. Geziel.
Ele conclui o modesto bilhetinho citando a obra de Alcymar Monteiro
- “Eu quero ver vocês dizer que eu sou ruim”.
Como principal medida contra essas ações o governo baiano está espalhando Out Doors “night and day” pelo sertão do estado com recompensa de $50.000.00 dólares para qualquer “palpite” que leve ao esconderijo do bando ou o resultado do jogo do bicho da extração do próximo sábado.


Na próxima edição deste semanário vamos apresentar a verdadeira causa, motivo, razão e circunstâncias que levaram Virginio Fortuna a ingressar na vida bandoleira.


Olegário Frutuoso da redação...

Aliás, DÁ? dá o escambau, vende textos prontinhos com boas chances de ingresso em qualquer faculdade do nordeste.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Tem novidade à vista

Os cangaceirólogos já podem reservar em suas bibliotecas um espaço para o primeiro e um dos mais importantes trabalhos do ano, trata-se de “Lampião – Sua Morte Passada a Limpo” obra dos confrades Sabino Bassetti e Carlos Megale com lançamento oficial previsto para Março de 2011 durante o Seminário Centenário de Maria Bonita em Paulo Afonso, BA. Avia macho, bote na agenda: É de 23 a 26.

Por enquanto nós adiantamos a capa. Posteriormente divulgaremos os contatos para aquisição via Correios ou pontos autorizados em sua região.



Quem visitou o Sítio do "Coroné Severo" já viu o seu parecer sobre este livro.

Sabino Bassetti e Carlos Megale, com uma lucidez própria dos magníficos rastejadores do torrão bravo de nossas caatingas, dedicaram intermináveis meses, dias e horas de suas vidas debruçados sobre os momentos finais dessa sinfonia que o tempo teima em tentar harmonizar . Entre os acordes surdos dos acauãs , coaxar finos e grossos dos batráquios entre as rochas e o sussurrar manso do vento batendo nas folhas da vegetação daquela madrugadinha fria de inverno de julho de 1938; tendo como testemunhas mudas do grande desfecho; os arbustos com galhos retorcidos e com raízes profundas, bromélias e os mandacarus, angico e juazeiros; daquele que seria até os dias de hoje o mais polêmico e comentado episódio do ciclo cangaceiro de Lampião: o cerco e o ataque das forças volantes comandadas pelo tenente João Bezerra, quando tombariam mortos, um soldado e onze cangaceiros, entre eles , Maria Bonita e Lampião...

Através do livro de Bassetti e Megale nos é permitido aproximar ao máximo dos acontecimentos referentes aos dias finais daquele longínquo julho de 1938 e todas as suas repercussões; Lampião havia marcado encontro com os outros chefes do cangaço, Labareda, Corisco e Zé Sereno, estariam se dirigindo para o Angico para deliberar sobre o que fazer com Zé Rufino que estava “querendo passar de pato a ganso...”? Ou estaria tramando o abandono total ao cangaço? Ou o que mais estaria por traz do referido encontro? O fato é que o esperado encontro dos maiores do cangaço do final daqueles difíceis tempos não aconteceu. Labareda não conseguiu chegar, Corisco não teve tempo de atravessar o caudaloso Velho Chico. Ao lado do bando do “Cégo” apenas Zé Sereno e seus homens.

O que poderia ter acontecido naqueles últimos momentos? Que diálogos teriam sido travados, o que acontecia na vizinha Piranhas da vizinha Alagoas? E o que se passava nos salões atapetados dos gabinetes dos chefes da polícia e da política daqueles atribulados anos do Estado Novo Getulista? Angico é um tema inesgotável. Nos acostumamos a nos perder em debates intermináveis sobre as circunstâncias e natureza do que cercava aquele tão comentado episódio e hoje temos o privilégio de receber esse grande presente dos escritores Sabino Bassetti e Carlos Megale.

Toda a rede de interesse entre os muitos personagens principais e coadjuvantes, mas nem tão coadjuvantes assim; o que disseram, o que deixaram de dizer, o que mostraram, o que omitiram, esconderam; o que morreu com cada um deles. O vasto e enigmático “espólio de guerra” tão buscado pelos perseguidores e causa e razão de outro cem número de contradições. As perigosas ligações entre o Rei Cego e os poderosos de então...

A você leitor, que é mais um aficionado pela temática do cangaço, que se delicia com uma boa leitura, fique a vontade com “Lampião – Sua Morte Passada a Limpo”, certamente terá uma rara oportunidade de compartilhar o que temos de melhor sobre o grande desfecho de Angico; solo sagrado onde tombaram Lampião, Maria Bonita e mais dez personagens dessa saga, que tanto flagelo e tanto sofrimento trouxe ao bom e humilde povo sertanejo e que acabou consolidando o mito de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião.


Manoel Severo; pesquisador, membro do Conselho Consultivo da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, Idealizador, Produtor e Curador do Cariri Cangaço, administrador do site Cariri Cangaço

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Réquiem para Lampião

Bastidores de um dos melhores documentários sobre o Rei do Cangaço

Cineasta Maurice Capovilla
Uma medida da liberdade que tínhamos no Globo Repórter foi a experiência de mistura de linguagens proposta, em 1975, por O último dia de Lampião. O projeto, que considero um dos meus melhores trabalhos para a TV, partiu de uma vasta, mas dispersiva pesquisa de Amaury Araújo sobre o fenômeno do cangaço.

O que mais me interessou foi a indicação de testemunhas ainda vivas dos dias finais de Lampião no esconderijo de Angicos, em Sergipe, onde parte do bando foi dizimado. Não se tratava de ouvir dizer, mas de encontrar remanescentes capazes de falar diretamente para a câmera.

Escolhido o episódio da morte do mito, ocorreu-me a ideia de não apenas fazer um documentário baseado na pesquisa e nos depoimentos, mas usar tudo isso como base para uma dramatização dos conflitos daquele dia fatídico. Ainda em São Paulo, encontrei Zé Sereno e sua mulher, Sila. Zé Sereno era o segundo ou terceiro homem na hierarquia do bando, detentor da inteira confiança de Lampião. Entrevistei-o no leito de um hospital. Sila, que era a costureira do bando e havia convivido intimamente com Maria Bonita, não só deu testemunho como também foi contratada para fazer os figurinos do filme. Sila mandou um bilhete para Dadá, a companheira de Corisco, na Bahia, pedindo que ela nos ajudasse com os chapéus, alpercatas e apetrechos de couro, sua especialidade.

Sila
Zé Sereno
A reconstituição deveria ser o mais fiel possível aos acontecimentos. Cruzamos depoimentos para confirmar cada informação. Não apenas entre os cangaceiros, mas até do lado da volante. O único dado assumidamente imaginário é a hesitação do Tenente João Bezerra da Silva, chefe da volante, em matar Lampião.

Eu não tinha depoimento direto a respeito disso, apesar de a pesquisa do Amaury apontá-lo como o coiteiro-mor, vendedor de armas para o próprio Lampião. E ainda havia uma estranha coincidência: ambos teriam nascido no mesmo dia e na mesma hora. Aquela perseguição tinha algo de romanesco – parecia escrita, em vez de acontecida. Com Fernando Peixoto, fui criando o roteiro da reconstituição segundo um cronograma, hora a hora, dos dados reais que apurávamos nas entrevistas.

"Mané" Felix
Procuramos nossos personagens em Salvador (BA), Piranhas, Delmiro Gouveia (sudoeste de Alagoas) e finalmente na região de Angicos, onde concentraríamos as filmagens. Encontramos diversos ex-cangaceiros que foram testemunhas oculares, assim como coiteiros que ajudaram Lampião. Falamos com o telegrafista responsável pela mensagem decisiva da caçada final, com o comerciante que desconfiou da emboscada, com os dois barqueiros transportadores da volante até Piranhas, com o soldado que desfechou o primeiro tiro em Angicos e o que atirou em Maria Bonita. Localizamos o vaqueiro Joca Bernardo, responsável pela denúncia do paradeiro do bando. Ele confessou pela primeira vez a traição, diante da câmera de Walter Carvalho.

Joca Bernardo
Esse Walter Carvalho não é o mesmo fotógrafo dos filmes de Walter Salles e co-diretor de Cazuza – o tempo não pára, mas Walter Carvalho Corrêa, sócio da Blimp e cria de Chick Fowle, o mago das luzes da Vera Cruz. Walter não fez muitos longas, ficou mais na publicidade e nos documentários, mas é um dos grandes fotógrafos brasileiros. Seu trabalho com a câmera na mão pelo terreno pedregoso de Angicos é de excelente qualidade. Angicos é um pedaço de riacho seco que deságua no São Francisco. Lugar inóspito, situado a três horas de caminhada da margem do rio, por dentro da mata. Levamos para lá alguns personagens reais, com o propósito de que indicassem os locais onde tudo aconteceu. Em seguida, rodamos as cenas com os atores.

O telegrafista que comunicou a presença de Lampião.
Os mesmos figurantes faziam cangaceiros e soldados. Para reconstituir o tiroteio, filmávamos o ponto de vista da volante às cinco horas da manhã e o contracampo dos cangaceiros ao cair da tarde. Durante uma semana, dormíamos não mais que três horas por noite, depois de desmontar o equipamento e retornar até nossa base em Piranhas.

Para o elenco, privilegiamos a semelhança física. Emanuel Cavalcanti era o ator perfeito para o papel de Zé Sereno. Bezerra foi interpretado com convicção por um capitão da PM que era primo do personagem real. Heládio Brito, meu ator-talismã nessa época, fez o sargento Aniceto. Lampião, o próprio, não recebeu maior destaque por ser um mito difícil de representar.

Tive receio de pôr em sua boca palavras que comprometessem a plausibilidade. Preferi mostrá-lo sempre de longe, de costas ou de banda, deixando um distanciamento proposital. Achei que isso ajudava na proposta documental do filme. A reunião de relatos e confissões permitiu-nos compreender e mostrar algumas motivações ocultas da opção pelo cangaço. Havia casos de vingança pessoal, ressentimentos e interesses diversos alimentando tanto o grupo de Lampião, como os macacos. Um dos soldados, por exemplo,era parente de sangue de José de Neném, o primeiro marido de Maria Bonita, e certamente estava na volante não somente por mero profissionalismo, mas até em busca de vendeta.

Durval Rosa
A estrutura de narrativas convergentes (cangaceiros X volante) é ainda bem clássica. A narração hoje me parece excessiva, embora então julgássemos necessária para garantir a atenção do telespectador. Mas a combinação de documentário e ficção era bastante nova para a televisão da época. No Globo Repórter, que eu saiba, nenhum programa havia incorporado performance de atores naquela extensão. O tratamento sonoro tampouco era dos mais convencionais.

Ex soldado Abdon
A sequência do clímax, por exemplo, foi filmada a 40 quadros por segundo, para dar maior dramaticidade, e deixamos o som direto distorcido na mesma medida, criando um efeito perturbador. A reza matinal dos cangaceiros, que acaba atuando como elemento de suspense, não foi invenção nossa, correspondia, no entanto, a um hábito diário do bando de Lampião.

Ancorar a reconstituição histórica em dados comprovados não deve ser uma limitação para o cineasta.

Muito pelo contrário, é o que lhe garante a liberdade de experimentar sem o risco de trair seu objeto. Reconstituir, por exemplo, o momento da morte solitária de Getúlio Vargas seria um despropósito. Ninguém sabe sequer como ele empunhou o revólver. Nesses casos, é melhor partir para a dramatização livre, sem qualquer apoio documental. Não aconselho ninguém a reconstituir a devoração do Bispo Sardinha pelos índios caetés...

• O último dia de Lampião (16 mm, Cor, 48 min)
Direção: Maurice Capovilla - Produção: Blimp Film para o Globo Repórter - Supervisão: Carlos Augusto de Oliveira - Roteiro e texto: Capovilla, Fernando Peixoto - Fotografia: Walter Carvalho Corrêa - Montagem: Laércio Silva - Som: Mario Masetti - Produção executiva: Quindó - Pesquisa: Amaury C. Araújo, C. Alberto R. Salles - Guarda roupa: Sila e Dadá - Música: Zé Ferreira, Oliveira Francisco - Narração: Sergio Chapelin - Elenco: Emmanuel Cavalcanti (Sereno), Salma Buzzar (Sila), Eduardo Montagnari (Lampião), Edileuza Conceição (Maria Bonita), Heládio Brito (Aniceto), Luiz Bezerra (Bezerra), Otávio Salles

1ª Fotografia - Acervo pessoal de Maurice Capovilla
Demais imagens do documentário foram inseridas por nós, para ilustrar o artigo.


Capítulo do livro Maurice Capovilla, A imagem crítica.
Autor Carlos Alberto Mattos.
São Paulo, 2006.
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Coleção Aplauso Cinema Brasil

Pescado em Aplauso

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Protetores

Joãozinho de Donana

Por: Reinaldo Passos

Dando prosseguimento a série de homenagens aos cidadãos pinhãoenses, chegou a vez de João Batista da Costa, mais conhecido em Pinhão como Joãozinho de Donana.

Joãozinho de Donana nasceu no povoado Lagoas em Pinhão no dia 04 de Julho de 1914. Ele foi vereador em Itabaiana por dois mandatos. Foi exator nas cidades de Pinhão e Itabaiana, foi delegado de polícia em Itabaiana e também caminhoneiro.

Em Pinhão, o povo o conhecia como Joãozinho de Donana ou Joãozinho 'Venen'o. Já em Itabaiana era mais conhecido como Joãozinho da Padaria.

Ele era irmão do primeiro prefeito de Pinhão, o senhor José Emigdio da Costa Filho, mais conhecido como Costinha.

Com o falecimento do irmão Costinha em 1969, Joãozinho de Donana, pediu transferência da exatoria de Itabaiana para a exatoria de Pinhão, afim de ficar mais próximo dos familiares.

Joãozinho faleceu em 05 de janeiro de 2008 deixando o meu pai Manoel de Benício, seus amigos e familiares muito entristecidos com sua partida. Manoel de Benício era muito amigo dele e os dois passavam horas e horas proseando.

Quem teve o prazer de ter um "dedim" de prosa com ele, não deixou de ouvir relatos das passagens de Lampião e seu bando pelas terras pinhãoenses.

Joãozinho foi matéria do jornal Cinform no dia 06 de maio de 2001 na edição 942. Confira alguns trechos:

Segundo ele, o bando de Virgulino Ferreira, o Lampião, esteve duas vezes em Pinhão. A primeira, na manhã de 22 de abril de 1929. A segunda em 1938.
Em 1929, dez cangaceiros invadiram a cidade. Além de Lampião, estavam presentes Corisco, Virginio (cunhado de Lampião), Arvoredo, Zé Fortaleza, Volta Seca, Ângelo Roque, Ezequiel Ferreira (irmão de Lampião) Luiz Pedro e Luiz Mariano.
"Nunca vou esquecer aquele dia", rememora o aposentado Joãozinho Batista da Costa. Segundo ele, Lampião estava em Pinhão para conseguir munição e dinheiro.
 "Ele não ameaçava, nem, bolia com ninguém. As únicas coisas que fez foi andar pelas bodegas, procurar munição na cidade e nos mandar pegar alguns cavalos. Depois pediu que algumas pessoas fizesse uma cota entre os moradores para ajudá-lo"
"O bando de Lampião e a volante comandada pelo Tenente Menezes trocaram tiros e por sorte ninguém de Pinhão morreu"
"Na passagem do bando de Lampião em 14 de outubro de 1938, o cangaceiro Zé Sereno matou o soldado José Paes da Costa".
Joãozinho conta que: "Quando chegou a volante, que veio brigar aqui à noite, o Zé Sereno pediu ao soldado José Paes, que era amigo deles, para tirá-los da cidade, porque eles não conheciam muito bem a região. Zé Paes saiu com os cangaceiros e, mais adiante, depois de tê-lo guiado, sem mais nem menos Zé Sereno atirou nele, pelas costas, na traição. Não tinha motivo, foi só maldade."


Pesquei no açude de: Reinaldo Passos


Adendo Lampião Aceso
Lembrando que o Sr. Joãozinho além de compadre foi responsável pela criação de uma filha de Dadá e Corisco a Sra. Maria do Carmo que hoje reside em Salvador-BA. Eu estive presente ao reencontro dos dois em julho de 2007 no povoado Alagadiço município de Frei Paulo - SE.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sítio histórico em Jeremoabo, BA

As ruínas da Caritá do Barão 

Por: Biu Vicente

Fazenda Caritá - Barão de Jeremoabo
Foto de Biu Vicente

Em minhas andanças pelo Brasil algo que me trouxe uma profunda emoção foi olhar o enorme lago onde está sepultado o que restara da cidadela criada por Antonio Vicente Maciel e os seus seguidores que o chamavam de Conselheiro. Aquela imensidão de água, estancando a passagem do Rio São Francisco*, era a vitória definitiva sobre o sonho louco de quem se pusera em confronto com gente muito poderosa. Mas, ali, perto daquelas águas que esconderam a “Velha Canudos” foi erguido um monumento, uma enorme estátua do Conselheiro que, lá de cima, olha sobranceiro, vitorioso sobre os seus vencedores.

Mas, surpresa maior eu tive na visita que, em Jeremoabo, à Fazenda Caritá, local de nascimento de Cícero Dantas Martins, que é mais conhecido como Barão de Jeremoabo, uma das ilustres personalidades da Bahia imperial e das primeiras décadas da República. O Barão de Jeremoabo foi proprietário de imensos territórios que herdou de seu pai, administrador das terras da Casa da Torre, e fez crescer graças às suas habilidades de comerciante e empresário inovador. Ele inaugura o período das usinas de açúcar, em uma de suas fazendas. Nos dias atuais seus descendentes continuam atuando e influenciando os destinos da Bahia e do Brasil.


Barão de Jeremoabo
Wikpédia

Morto em 1903, o Barão tem notoriedade nos livros de História por sua participação na fase inicial da Guerra do Fim do Mundo, a Guerra de Canudos. Recente publicação das Cartas do Barão – homem de letras, estudos e comércio – se diz que Cícero Dantas Martins tentou convencer a Antonio Conselheiro desistir de seus projetos em organizar um povoado. 

O Barão teria auxiliado a idéia da organização da primeira tropa que acometeu os Conselheiristas. Claro que a atuação de um “desorganizador” da mão de obra na região criou instabilidade na Bahia dos latifúndios e na República dos Coronéis da “Guarda Nacional”, instituição que deveria ser extinta com a República, mas que se manteve no imaginário e cotidiano dos mais pobres. 

A surpresa que tive, entretanto é que nessa terra que nada guarda, nada conserva de sua história, também está deixando ser destruída o conjunto que forma a Fazenda Caritá: 3 casas de moradores, a Casa Grande e sua cozinha externa (com um dos primeiros serviços de água aquecida para o banho), o engenho de tração animal e a casa de banhos da família. Tudo isso está sendo reduzido a cinzas sob a proteção do INCRA e o silêncio do IPHAN. Esse conjunto nem mesmo está tombado pelo Patrimônio Histórico, ele está tombando.

 Engenho de Tração Animal na Fazenda Caritá 
Foto de Biu Vicente

É fácil entender que uma república de latifundiários não queira mostrar as ruínas das vidas arruinadas dos trabalhadores rurais, por isso Canudos está sob as águas de uma barragem, mas será que essa república se envergonha dos latifundiários do passado, e quer esconder no esquecimento os que destruíram Canudos para construir o Brasil de Hoje? 

Nós queremos nossa História. O INCRA não tem o direito de deixar virar cinzas um dos conjuntos arquitetônicos e residencial que explicam a nossa história. O IPHAN tem que ser acionado.

Pesquei no Biu Vicente


*Com o objetivo de ajudar nas informações, o leitor "P. J. L. N". lembra ao autor que o rio que abastece a barragem de Tucano, não é o São Francisco, e sim o Vasa Barriz. 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Cabra!

Nova HQ de Flávio Luiz, ganha trailer animado
Por Chico

Severino, vulgo O Cabra, cangaceiro futurista que corta cabeças sem dó e old style, de peixeira.

Depois de um cachorro boxeur (Jab), uma versão feminina de Arnold Schwarzenegger (Jayne Mastodonte) e um mini herói da capoeira (Aú), o premiado quadrinista baiano Flávio Luiz traz à luz aquela que talvez seja sua criação mais bombástica: O Cabra, um divertido e (violento pra cacete) cruzamento entre Lampião e Mad Max.

Recém-lançado em São Paulo, aonde atualmente Flávio reside, esse cangaceiro futurista chega bonitão em um álbum de formato gigante, pela sua própria editora independente: a Papel A2, que ele fundou em parceria com sua esposa e produtora, Lica de Souza.

O trailer tem roteiro e desenhos de Flávio, animação de Eduardo Brandão e trilha sonora de Kezo Nogueira.


Pesquei no Caderno2+ATARDE

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Benjamim Abrahão

O Enviado especial de Ademar Albuquerque?! 

Por: Aderbal Nogueira

Pois é, a história nos causa muitas surpresas. Pelo que eu sabia ate ontem foi o libanês Benjamin Abrahão quem teve a iniciativa de filmar e fotografar Lampião, porém, em uma gravação de um documentário que estou fazendo com o amigo Gláuber Paiva, que não tem nada a ver com cangaço, surgiu o assunto Lampião. Pois o nosso entrevistado, Miguel Ângelo de Azevedo, o famoso "Nirez" que juntamente com Christiano Câmara são os dois maiores memorialistas e pesquisadores da história de Fortaleza, tendo um acervo incrível sobre nossa cidade, nos relatou que Chico Albuquerque, filho de Ademar Albuquerque lhe contou como foi que ocorreram as famosas filmagens de Lampião e seu bando.

 
Pesquisador e Memorialista Nirez Azevedo
Foto: Jornal O Povo

Eu não tenho como provar a veracidade desse fato, porém Nirez é de uma sinceridade acima de qualquer suspeita. Se o que ele nos fala for a verdadeira versão, é mais um sinal de que a história sempre tem duas caras. Como dizia o famoso humorista: "há controvérsias, amado mestre".




Se pensarmos bem após esse depoimento, realmente o que um libanês que não tinha nenhum conhecimento de técnicas fotográficas poderia querer filmando Lampião?


 Dadá, Corisco e Abrahão

Já Albuquerque era diferente, era empresário do ramo, vivia disso e conhecia os meios e como, depois, distribuir o material para o mundo. Tinha uma visão ampla do lucro que isso podia trazer, era influente e é muito mais plausível essa hipótese. Quero ressaltar que em momento algum Nirez tentou dizer nada a respeito de que o relato ia de encontro a tudo o que foi dito até hoje, não tentou criar nenhum tipo de polêmica, ele simplesmente relatou o que ouviu.

Eu sim fiquei pasmo, na mesma hora vi que ali poderia estar a verdadeira história... mas quem sou eu para atestar?

Abraço
Aderbal Nogueira

Pescado no açude do Coroné Severo Cariri Cangaço

sábado, 8 de janeiro de 2011

Eu "mais" Adília...

Mais uma paixão dividida com vocês! 

Por Aderbal Nogueira

Há pouco, Rangel Alves da Costa, filho do querido amigo Alcino, postou uma matéria sobre Adília.
Eu também tive o prazer de estar com Adília várias vezes, entre elas estive ciceroneado pelo nosso grande Alcino, uma visita cheia de emoção.

Rangel prova que, filho de peixe, peixinho é. Adília realmente era uma pessoa cativante.

Confiram um destes momentos.



Lampião Aceso comenta,  

Mestre Alcino sua disposição ainda é a mesma, mas os cabelos... quanta diferença? Maldita evasão capilar!  

Quando estive lá, em outra ocasião, ela nos falou dos açoites de bala que recebeu, inclusive um na testa. Mais uma vez, parabéns à família de Alcino que, pelo andar da carruagem, a tradição vai continuar. Já que falei de Alcino queria fazer aqui uma homenagem a quatro pessoas que formam os pilares de sustentação dessas histórias cangaceiras, que sustentam essa grande mesa, que são: Antônio Amaury, Alcino Costa, Paulo Gastão e Frederico Pernambucano; cada qual dentro da sua alçada, um pelo tempo, outro pela proximidade, outro pela luta e pela garra e o outro pela extrema destreza em nos mostrar a saga do Cangaço.

Parabéns aos mestres. 
Sem vocês a história não seria a mesma.

*Aderbal Nogueira é pesquisador, documentarista.
Fortaleza-CE

A invasão a Mossoró

Cangaceiro Jararaca
(*) Por Ângelo Osmiro

No famoso ataque de Lampião e seus cabras à cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte, dois cangaceiros morreram, um no calor do combate, “Colchete” baleado quando tentava tomar de assalto um dos pontos de defesa da cidade. O outro foi José Leite de Santana o cangaceiro Jararaca.

O grupo chegou às imediações de Mossoró com cerca de cem homens muito bem armados. O bando foi dividido em três grupos, cada um atacando por um lado diferente.

O grupo que o cangaceiro Jararaca fazia parte já se aproximava bastante das defesas da cidade, quando em um ato de ousadia, o cangaceiro Colchete avançou quase sem proteção, sendo atingido mortalmente pelos tiros dos homens da resistência; vendo seu companheiro caído, Jararaca correu para “desarriar” o companheiro baleado.

No linguajar dos cangaceiros, isso significa retirar todos os seus pertences, só que sua ousadia também lhe custou caro, quando ele já ia saindo foi atingido por um tiro, mesmo assim continuou andando, tendo sido alvejado mais uma vez, agora em uma das pernas, ainda assim conseguiu fugir se arrastando. Alcançou uma casinha perto da estrada de ferro, onde bateu a porta e pediu socorro, prometendo todo o dinheiro e ouro que carregava ao dono casa, o homem abriu a porta e o deixou entrar, dando-lhe os primeiros socorros, deixando-o deitado para que se recuperasse dos ferimentos.

Jararaca quando se encontrava preso, na cadeia de Mossoró/RN.
Notar o ferimento, em cima do tórax .

No outro dia pela manhã o sertanejo resolveu ir até cidade sem que o cangaceiro percebesse, e o denunciou a polícia, que o prendeu sem a mínima resistência, em virtude do estado em que se encontrava o jovem cangaceiro. Jararaca foi levado preso para a delegacia, onde foi fotografado e entrevistado pelo jornalista Lauro da Escóssia do jornal O Mossoroense.

Depois de alguns dias preso, as altas horas da madrugada, alguns militares chegaram à delegacia com intuito de levar Jararaca, a justificativa seria a transferência do cangaceiro para a capital. Jararaca foi colocado dentro de um carro e conduzido, não para Natal, mas sim direto para o cemitério da cidade, onde já havia sido cavada uma cova lá no seu final. O cangaceiro Jararaca entrou sem dá uma palavra e caminhou escoltado pelos homens até a cova.

O cangaceiro do grupo de Lampião foi assassinado pelos policias, seu corpo foi jogado na cova, que na pressa para cavar, tinham feito o buraco menor que o defunto, no lugar de alargarem a cova, preferiram quebrar as pernas do prisioneiro, estava consumado o ato macabro dos defensores da lei.

 Túmulo do cangaceiro, situado no cemitério de Mossoró/RN.


Hoje a cova do cangaceiro Jararaca é a mais visitada no cemitério de Mossoró, inúmeras velas são acessas em sufrágio de sua alma, promessas são pagas a beira do túmulo do cangaceiro, o fim trágico de Jararaca transformou um cruel cangaceiro, pelo menos na memória popular na incrível história do “cangaceiro que virou santo” .

 Prefeito Rodolfo Fernandes


Túmulo de Rodolfo Fernandes
Cemitério de Mossoró/RN .

*Ângelo Osmiro é Escritor/Pesquisador do cangaço e membro da SBEC

OBS: As fotos foram acrescentadas ao texto, por Ivanildo Silveira no sentido de enriquecê-lo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Antônio Silvino e o crente

Estocado eme Crença 

Por Salomão L. Ginsburg (Foto).

Capítulo do livro A Wandering Jew in Brazil, Salomão L. Ginsburg, 1921 Um Judeu Errante no Brasil. Uma autobiografia de Salomão Luiz Ginsburg. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1931.  

Corrigida e atualizada por Paulo Brabo.


Depois de uma discussão que havia se alongado por três anos, através da imprensa diária, com as forças organizadas do sacerdócio católico em Pernambuco; depois que todos os esforços haviam sido feitos para expulsar-me do Brasil, especialmente do campo de Pernambuco, onde o Senhor nos abençoava, um monge reacionário italiano, chamado Celestino, resolveu eliminar-me por assassinato.

No norte do estado de Pernambuco havia um bando de cangaceiros à solta, cometendo todo tipo de atrocidades. Seu chefe era um dos homens mais destemidos que já apareceu no Brasil: seu nome, Antônio Silvino. Um grande número de crimes era atribuído a esse bando, e o governo havia oferecido a soma de US$10.000 – 40.000 mil réis – pela sua captura, vivo ou morto. Era muito difícil, no entanto, capturar esse homem. Ele tinha o desconcertante dom de atirar e acertar em cheio, normalmente matando aquele que havia ousado atacá-lo. Ele era também generoso com os pobres e dividia com eles grande parte do espólio que tirava dos ricos ou até mesmo do governo.
"A primeira coisa que me passou pela cabeça é que ele devia estar caçando".
Foi a esse homem que o monge italiano recorreu. Ele apelou para a sua credulidade e superstição, e obteve de Silvino o consentimento de me matar pela soma de 250 mil réis (cerca de duzentos e cinqüenta dólares). Eles descobriram o dia exato em que eu deveria chegar ao vilarejo de Moganga e deixaram o homem preparado para me atacar de surpresa.

Deixei a cidade de Nazaré cerca de duas da manhã. Eu levava um companheiro comigo, o irmão Amaro, um convertido nativo que foi como meu guia. Perto das cinco da manhã vi um homem baixo e franzino, mas de aparência rija, em pé num campo próximo à estrada pela qual eu tinha de passar. Em suas mãos ele trazia uma espingarda de cano duplo, e uma longa faixa de cartuchos atravessava o seu peito. A primeira coisa que me passou pela cabeça é que ele devia estar caçando e, como é meu costume, parei o cavalo e cumprimentei o homem, desejando um bom dia e perguntando se ele havia saído para caçar.

Ele não se dignou a responder, então perguntei se já tinha pegado alguma coisa naquela manhã, mas ele permaneceu calado. Assim, dando com as esporas no meu cavalo, eu estava prestes a seguir meu companheiro, que já havia seguido adiante, quando um negro pulou de uma árvore bem diante do meu cavalo, e tive que me esforçar para manter o controle das rédeas. O homem atrás de mim gritou-lhe alguma coisa que não pude compreender, mas ficou claro que o negro sim, porque saltou de imediato para fora do caminho e deixou-me prosseguir a viagem.

Logo em seguida passei por outro vilarejo, chamado Sapé, e ali encontrei Cocada, um encorpado homem branco cuja face pintada de vermelho o denunciava como membro daquele célebre bando de foras-da-lei. Esse sujeito estava sentado no chão recebendo presentes ou ofertas que lhe traziam os habitantes do lugar. Ele nem mesmo olhou para ver quem estava passando. Às oito cheguei ao vilarejo de Moganga, onde deveria passar o dia, pregando e ensinando.

Tão logo cheguei, no entanto, pude ver a surpresa estampada no cada rosto de cada um que encontrava. O líder político do lugar, em cuja casa eu deveria ficar durante minha estada na cidade, recebeu-me com alegria incontida e abraçou-me repetidamente enquanto perguntava o tempo todo: “O senhor viu o Antônio Silvino?”

Respondi que não conhecia esse homem pessoalmente, por isso não podia dizer com certeza se havia me encontrado com ele ou não. Falei, no entanto, sobre os que havia encontrado no caminho, e ele informou-me que o primeiro, segurando a espingarda de cano duplo, era a pessoa em questão.

O líder político contou em seguida que tinha sido informado que esse mercenário havia recebido dinheiro para providenciar que eu fosse removido da terra dos vivos. Tão logo havia ganho conhecimento disso ele havia estado tentando entrar em contato comigo, mas como eu já havia deixado o lugar onde eles haviam esperado me encontrar, o homem havia chegado ao ponto em que não soubera mais o fazer, a não ser entregar nas mãos da Providência, como ele mesmo colocou (o homem não era crente).
"Vieram lhe dizer, para sua consternação, que era Antônio Silvino e queria falar com o Sr. Salomão".
Tive um dia muito atarefado. Regozijando-me por ter escapado das mãos do mercenário, passei um dia glorioso entre os crentes. Nossa reunião pública começou às 7 da noite e durou até quase meia-noite. Tivemos cântico de hinos, pregação, oração e testemunho, bem como a aceitação de candidatos a batismo. Cansado e quase exaurido, porque não tinha dormido na noite anterior, pedi ao irmão nativo que tocasse a reunião e fui para um quartinho que ficava logo atrás da sala da frente da casa do líder político .

Eu estava pronto para espalhar-me na minha rede quando ouviu-se uma batida na porta da frente. A exigência era que a porta fosse aberta imediatamente. O dono da casa foi ver quem estava perturbando a hora da meia-noite quando vieram lhe dizer, para sua consternação, que era Antônio Silvino e queria falar com o Sr. Salomão.

Você pode imaginar como meu coração reagiu quando percebi que aqueles eram provavelmente meus últimos momentos. Eu havia me congratulado por ter escapado do bandido e agora aqui estava ele, na própria casa do líder político e defronte a onde ficava a delegacia de polícia. Caí de joelhos pedindo ao Senhor apenas uma coisa, a força necessária para dar um bom testemunho. O Senhor me deu o dom de não temer coisa alguma ou quem quer que seja, mas deu-me também um espírito muito sensível. Não suporto ver sangue, e toda minha coragem se esvai quando vejo alguém sofrendo. A única coisa de que eu tinha medo era demonstrar medo caso ele resolvesse me torturar, e era para isso que estava pedindo forças. Louvado seja o seu nome, ele não falhou comigo.
“Sabe porque vim até aqui?”
"Sei. Pagaram ao senhor para me matar.”



 Cortesia do escritor Sergio Augusto Souza Dantas

Tão logo ele sentou vieram me chamar, e eu disse a eles que iria num momento. Entrando na sala da frente , um aposento grande e espaçoso, vi o cangaceiro sentado no sofá, a cabeça baixa. O líder político estava pálido e tremendo, enquanto sua esposa e sua filha, duas mulheres esguias, apertavam nervosamente as mãos e choravam como se seus corações fossem se despadaçar.

Caminhando até o homem, senti meu coração fortalecido e disse:
– O senhor desejava me ver; o que posso fazer pelo senhor?
– O senhor sabe quem eu sou? – ele perguntou depois de um intervalo.
– Sim, é o capitão Antônio Silvino – respondi.
– Sabe porque vim até aqui? – ele perguntou.
– Sei. Pagaram ao senhor para me matar.
– É verdade – respondeu ele.
Ali em pé diante do cangaceiro levantei mais uma oração silenciosa a meu pai do céu, pedindo que me ajudasse e tomasse conta de minha esposa e filhos. Alguns momentos se passaram sem que o homem fizesse qualquer movimento.
– Então – eu disse, – porque você não faz de uma vez o que veio fazer?
Ele, no entanto, não se moveu. Depois de alguns momentos de silêncio percebi que ele estava chorando, lágrimas escorrendo pela sua face.
– Não – ele disse, finalmente. – Não vou matar o senhor. Eu queria mesmo é matar a pessoa que me pediu pra lhe matar. Não vou matar um homem como o senhor. Hoje de manhã enquanto eu lhe esperava perto da vila de Sapé, o senhor parou o seu cavalo e falou comigo de um jeito tão gentil e bondoso que fui pego de supresa. Tinham me dito que o senhor era um sujeito perigoso, que suas doutrinas e ensinamentos eram uma maldição para o povo e para o país, e que matar o senhor seria uma benção pra muita gente. Mas o senhor falou comigo com tanta bondade que decidi descobrir mais sobre o senhor. Eu estava presente enquanto o senhor pregava e ensinava e rezava e cantava e posso lhe dizer que não vou matar de jeito nenhum um homem que está fazendo uma obra tão caridosa. 
“Não vou matar um homem como o senhor.”

Passamos aquela noite juntos e ele me contou a história da sua vida, uma das mais tristes que já tive oportunidade de ouvir. Ele não era um criminoso comum. Nascido numa família muito rica e aristrocática, Antônio Silvino era ele mesmo dono de uma grande e valiosa extensão de terra na Paraíba. Mas, por causa de querelas políticas, seu pai, irmãos, tios e primos haviam sido exterminados. Para escapar ao mesmo destino, ele havia decidido tornar-se cangaceiro e destruir não apenas seus inimigos políticos mas todos que ousassem se colocar no seu caminho. Até aquela ocasião ele havia assassinado sessenta e seis pessoas.

Conversamos e oramos juntos até o amanhecer. Depois desse encontro aquele cangaceiro tornou-se um ardente defensor da nossa causa naquela região. Ele não permitia qualquer perseguição contra o evangelho e contra os pregadores. Não tenho dúvidas que minha vida foi salva inúmeras vezes da destruição nas mãos de cangaceiros por causa das ordens estritas recebidas desse homem.

Algum tempo depois fui ao Tenente-Governador e ofereci-me para tirar esse cangaceiro do estado e dar a ele uma chance de regeneração, com a condição de que nem ele nem eu fossemos molestados. Sua excelência, embora um grande admirador do trabalho que estávamos fazendo, não via como conceder o que eu estava pedindo.

Logo depois que deixei Pernambuco, Antônio Silvino foi capturado. Ele foi trazido ferido para a capital do estado, onde foi julgado e condenado ao cárcere. Na prisão o seu prazer era ler a Bíblia e contar às pessoas que iam visitá-lo, bem como aos seus companheiros de prisão, o que o Senhor havia feito por ele. Silvino era encontrado constantemente orando e com a Bíblia nas mãos. O editor de certo jornal vespertino foi visitá-lo e voltou devidamente enojado:

“Tudo que se consegue arrancar de Antônio Silvino”, escreveu ele, “é sobre os batistas e a Bíblia”.


 Pesquei literalmente no: Bacia das Almas
 Imagem de Salomão L. Ginsburg Igreja Batista do Cordeiro 

Sobre o autor e obra.

A Wandering Jew in Brazil, Salomão L. Ginsburg, 1921 Um Judeu Errante no Brasil. Uma autobiografia de Salomão Luiz Ginsburg Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1931.

Obra escrita em inglês em 1921, e traduzida para o português por Manoel Avelino de Souza. Original: A Wandering Jew in Brazil: An Autobiography of Solomon L. Ginsburg. Nashville: Sunday School Board, Southern Baptist Convention, 1922.

Judeu convertido ao cristianismo, saíu da sua terra natal para a Inglaterra, onde foi evangelizado. Seu pai, um rabino ao saber da decisão do filho o deserdou. Foi residir num lar para judeus convertidos, onde aprendeu o ofício da tipografia. Sentindo o chamado missionário preparou-se. Inicialmente foi para Portugal, como missionário da Igreja Congregacional. Teve que se retirar dali ao escrever um folheto polêmico, acusando a Igreja Católica Romana.

Da imensa obra de Ginsburg destaca-se: Foi Ginsburg o editor do primeiro Cantor Cristão (16 hinos) em 1891 e na edição atual do referido Cantor ele aparece como Autor ou Tradutor de 102 hinos. Destaco ainda, conforme nos informa o Pr. Ebenezer Soares Ferreira (veja O Jornal Batista nº 30 de 24/07/94), Ginsburg foi o fundador, na cidade de São Fidélis no Estado do Rio de Janeiro da "Egreja DE CHRISTO, CHAMADA BATISTA" (27/07/1894). que foi a primeira Igreja Batista em São Fidélis Segundo o mesmo autor (9, pg. 64), o primeiro Templo Batista construído no Brasil, foi o da Primeira Igreja Batista de Campos, edificado sob o pastorado de Salomão Ginsburg.

O livro está disponível em PDF para Download no blog  Almanaque de História
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Este encontro teria mesmo ocorrido? Que outro autor narrou o aludido capítulo na vida do "Rifle de ouro"? 

Sempre bom, esclarecer que coloco o texto para análise dos leitores e pesquisadores. Não estamos atestando nada. Alem do mais o que sabemos de concreto sobre Silvino foi absorvido da excelente pesquisa do Dr Sergio Augusto de Souza Dantas publicada em seu livro O cangaceiro, o homem e o mito. Esta passagem era desconhecida para nós.

Me atrevi apenas à grifar algumas linhas que estranhamos de cara. A primeira preferimos não comentar por razões óbvias. Faço questionamentos como: "rostos pintados de vermelho", "Espingarda de dois canos",E quanto ao número de vítimas do governador do Sertão?  Além de algumas atribuições.

Fiquem a vontade para suas observações.