terça-feira, 30 de novembro de 2010

Baixas

Findou-se Arvoredo! 

O Jornal " Correio do Sertão ", edição do dia 03 de junho de 1934, trazia informações sobre a morte desse famoso cangaceiro. Matéria gentilmente cedida, pelo pesquisador Liandro Antiques. Clique para ampliar




Créditos: Ivanildo Alves Silveira

Livro novo na praça

Diria quase novo!

Pois fora lançado em agosto, depois em outubro e aparentemente o autor não divulgou em nenhum dos nossos blogs parceiros... Mas tudo em tempo! Estamos aqui vez ou outra "escavacando" a web para deixar os rastejadores a par das novidades. Espiem mais essa!



Escrito por Gouveia de Hélias, “Dias Sem Compaixão - O episódio da morte do ex cangaceiro Moreno e outras histórias" traz um apanhado de histórias de cunho regionalista, privilegiando certos personagens do período do cangaceirismo e traça ligeira biografia de Lampião. Traz igualmente histórias urbanas que encerram crítica à excessiva violência hodierna.

O poeta e músico pernambucano Mauri de Noronha declara que “Dias Sem Compaixão” o fez compreender com mais clareza a vida própria do seu sotaque nordestino, “que permanece presente apesar do tempo e da distância. Cada uma das cenas narradas pelo autor me é peculiar como se fosse meu, cada torrão ressequido da estrada, cada dor e cada amor conquistado e o amor desfeito”.

Em “Dias Sem Compaixão”, transborda a alma sertaneja e a inesgotável fonte de sonhos brota dos mandacarus, dos leitos vazios dos riachos e da essência de Gouveia de Hélias, capaz de tratar das amarguras com a benevolência das mães.

Sobre o autor

Gouveia de Hélias é formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, onde também frequentou o curso de História Antiga. Tem contos e ensaios veiculados em publicações culturais e revistas eletrônicas. Lança agora seu primeiro livro “Dias Sem Compaixão” e já tem pronto para publicação uma nova obra, intitulado “Através da Borborema”, uma alegoria burlesco-fantástica.

Serviço

“Dias Sem Compaixão”
Autor: Gouveia Hélias
Valor: R$ 24,90
ISBN: 978-85-7869-168-4
Editora: LivroPronto
Edição: 1
Publicação: 2010
Encadernação: Brochura 14 x 21 cm
Número de Páginas: 180

Contato: Gouveia de Hélias: gouveiadehelias@yahoo.com.br

Fonte: http://gouveiadehelias.blogspot.com/

Poço Redondo no cinema

Expectativa quanto... Aos ventos que virão 

Por Alcino Alves Costa

Poço Redondo está sendo palco da filmagem do longa metragem “Aos ventos que virão”, filme que tem em Hermano Penna o seu diretor, ainda André Lavener como diretor fotográfico e Ana Clara Rafaldi, na condição de produtora executiva.

Poço Redondo, terra querida do mestre Alcino.

O filme é estrelado pelo ator Rui Ricardo Diaz, aquele mesmo que fez o papel do presidente Lula no filme sobre a sua vida, ainda pelas atrizes globais Neuza Borges e Emanuelle Araújo, além do nosso sergipano Antônio Leite e outros atores da Bahia.

Este é o terceiro filme que Hermano Penna faz em Poço Redondo. Anteriormente, na década de 70, aconteceram duas filmagens em nosso município: “Mulher no cangaço” e “Sargento Getúlio”, este teve como ator principal o lendário Lima Duarte que passou alguns dias em nosso município, nos dando a honra de sua ilustre presença em nossa cidade.

Foi naquela época que Hermano, ao ler o livro de minha autoria “Lampião além da versão” ficou encantado com a história de Zé de Julião, no capítulo intitulado “Zé de Julião – a grande vítima do destino”.

Aquela comovente epopéia do moço de Poço Redondo nunca mais saiu da cabeça do extraordinário cearense do Crato, porém radicado há muitos anos em São Paulo. Hermano havia jurado consigo mesmo que um dia iria levar para o cinema aquele extraordinário épico de um homem que viveu uma vida de terríveis provações até ser assassinado naquele lutuoso dia 19 de fevereiro de 1961.

Zé de Julião é um famoso e saudoso filho de Poço Redondo. O seu pai, Julião do Nascimento, era o único homem daquele então arruado das brenhas sertanejas de Sergipe, possuidor de muitos bens, de vez que era proprietário de várias fazendas e um rebanho bovino avultado. Mesmo assim, o filho do fazendeiro, então recém casado com Enedina, numa decisão de extrema infelicidade, porém temeroso pela perseguição que as volantes lhe moviam, ingressou no bando de Lampião, levando consigo a sua querida esposa, que perdeu a vida ao lado de Lampião, Maria Bonita, e os demais oito companheiros no célebre cerco à Grota de Angico pelo tenente João Bezerra da Silva.

Os anos se passaram. O projeto jamais saiu da cabeça de Hermano. Eis que, após muita luta e sacrifício, o sonho está sendo realizado. As filmagens tiveram seu início na semana passada, dia 19. O filme não segue propriamente a história e os acontecimentos da vida de Zé de Julião, segue o seu próprio caminho tão peculiar nos enredos e produções cinematográficas. Os nomes foram mudados. Zé de Julião passou a ser Zé Olímpio, e Enedina se tornou Lúcia. Enedina não vai morrer, ela acompanhará o marido até a sua morte em 1961.

O enredo do filme é emocionante. Por que “Os ventos que virão”? Vivia-se a esperança de Brasília, o então novo eldorado brasileiro. Naquele chão goiano estava sendo construída não só uma nova capital, mas as aspirações e os desejos de um povo. Recuperar a sua vida de empreiteiro naquele gigantesco canteiro de obras passou a ser o sonho de Zé de Julião, o nosso Zé Olímpio do filme. Aquela nova vida passaria a ser os ventos benéficos do futuro do homem que se tornou a grande vítima do destino. E assim, em sua sensibilidade artística, Hermano colocou o título “Aos ventos que virão”, aliás que nunca chegaram para Zé de Julião, na película por ele produzida.

Deixando de lado a fantasia do filme que nasceu da mente arejada de seu produtor, necessário se faz falarmos um pouco da verdadeira história do real personagem que fez florescer o enredo de “Os ventos que virão”.

Zé de Julião, nasceu José Francisco do Nascimento, naquele dia 19 de abril de 1919. O seu pai era um abastado fazendeiro para os padrões de Poço Redondo. Ainda muito moço contraiu matrimônio com uma parenta de nome Enedina. Na primeira quadra do ano de 1937 foi para a companhia de Lampião, levando ao seu lado a sua jovem esposa. No cangaço recebeu o nome de Cajazeira.

Zé de Julião

No pandemônio da Grota de Angico, vamos encontrá-lo naquele inferno. A sua esposa ali perdeu a vida. O cangaço morreu e Zé de Julião, após casar com uma irmã de Enedina, uma moça chamada Estela, arribou para as terras do sul, indo residir em Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro.

Com a morte do pai foi obrigado a retornar ao Poço Redondo que ele tanto amava com a finalidade de cuidar dos bens deixados pelo genitor. Poço Redondo é emancipado em 1954. Zé de Julião se candidata a prefeito. A eleição terminou empatada entre ele e o seu opositor Artur Moreira de Sá. Por ser mais velho Artur ficou com os louros da vitória.

Na eleição de 1958 voltou a ser candidato. No entanto, uma medida compreensível da justiça eleitoral desgraçou a sua vida e ela chegou com a obrigação de se cadastrar todos os eleitores para adquirir novos títulos. Esta nova lei foi à desgraça de Zé de Julião. Nenhum de seus adeptos recebeu seu título.

Desesperado, no dia da eleição roubou as urnas. Foi perseguido como se fosse um cão danado. No dia 19 de setembro de 1959 foi preso e recambiado para a Penitenciária do Estado, em Aracaju. Após ganhar a sua liberdade, carregando o sonho dos ventos benéficos de Brasília, viajou para a nova capital. Eis que, misteriosamente, no aeroporto de Salvador, na Bahia, alguém cujo nome a história desconhece, o convenceu a não seguir a viagem tão sonhada para seguir o seu destino de dor e sofrimento, retornando ao Poço Redondo, aonde foi assassinado naquele dia 19 de fevereiro de 1961.


Que o nosso Hermano Penna, ao lado de sua competente equipe e de seus atores e atrizes tenham muito sucesso neste “Aos ventos que virão”, pois ele faz parte de nossa história sofrida e ao mesmo tempo bela deste tão amado Poço Redondo.

Em tempo: Você, meu leitor amigo, prestou atenção na repetição misteriosa do número 19 na vida e no destino de Zé de Julião? Nasceu em um dia 19, foi preso em um dia 19, morreu em um dia 19 e o filme baseado em sua saga começou num dia 19. Ainda mais, o nome de guerra, Cajazeira, tem nove letras.


Alcino Alves Costa
O Caipira de Poço Redondo

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O desconhecido cangaceiro Antonio Braz

O Terror do Seridó
 Por Rostand Medeiros

No Rio Grande do Norte, quando o assunto é cangaço, a primeira noção que a maioria das pessoas possuem remete ao ataque de Lampião a Mossoró, a resistência do povo mossoroense ao 13 de junho de 1927, o assassinato de Jararaca e a sua metamorfose em santo popular. Na sequência, de forma esporádica, alguns recordam as andanças de Antônio Silvino no inicio do século XX, a ideia que este cangaceiro era um homem de honra e a famosa história que o mesmo mandou um dos seus “cabras” comer um litro de sal, após este ter reclamado da comida que uma mulher preparou para o grupo e esqueceu de pôr este condimento.

Por fim vem à figura do único grande chefe de um bando de cangaceiros potiguar, Jesuíno Brilhante, homem injustiçado em meio a dilacerantes lutas políticas, enviesadas de épicas lutas com acentuados e tradicionais códigos de honra. ( 1 )

De forma geral, os pesquisadores do tema no Rio Grande do Norte produziram bons trabalhos, que muito ajudaram a esclarecer os aspectos que envolvem os mistérios deste gênero de banditismo social. Contudo a história é mais ampla, diversificada e pautada de fatos desconhecidos.

As testemunhas destes episódios a muito descansam no solo sertanejo, restando a tradicional tarefa de buscar a história em carcomidas e amareladas páginas de antigos jornais, em documentos oficiais esquecidos em bolorentos e desaparelhados arquivos e na tradição contada de pai para filhos nos alpendres das antigas fazendas do sertão. A busca é difícil, mas a colheita é normalmente compensadora.

Debruçado sobre a coleção do jornal republicano “O Povo”, editado, encontramos uma série de reportagens que apontam a existência do desconhecido cangaceiro Antônio Braz e do seu diminuto bando, que além de uma extrema valentia, é apontado como sanguinário, arrogante e desaforado com as autoridades.

As notícias sobre a atuação de Antônio Braz estão contidas em várias edições deste jornal, entre os dias 23 de novembro de 1889 a 11 de agosto de 1891. ( 2 )

Tudo indica que Antonio Braz era da Paraíba, onde lhe eram creditados oito mortes em sua vida de tropelias, tendo sido condenado a uma pena de 48 anos de detenção, que cumpria na cadeia pública de Pombal. Entre os anos de 1894 e 1895, este cangaceiro fugiu desta detenção, estando há quase cinco anos vagando pelos sertões da região fronteiriça da Paraíba e Rio Grande do Norte, mais precisamente na área ao longo da bacia do Rio Piranhas. ( 3 ) 

Amedrontava os fazendeiros de Pombal, Catolé do Rocha e Brejo do Cruz, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, Serra Negra do Norte e Caicó, mais especificamente a então vila de Jardim de Piranhas, eram seus pontos de atuação. Antônio Braz era um cangaceiro que as informações da época o classificam como “temível”, pois seu bando fora protagonista de inúmeros assassinatos, roubos, espancamentos e estupros. Andava este bando sempre com um pequeno número de membros, com no máximo quatro a cinco integrantes, entre eles o seu irmão Francisco.

Catolé do Rocha, em foto do escritor Mário de Andrade, em janeiro de 1929
Fonte Rostand Medeiros Tok de História

Até mesmo a sua perseguição gerava a velha ação de abuso de poder por parte da polícia. Em 29 de junho de 1889, as páginas de “O Povo”, divulgaram que um grupo de policiais paraibanos vindos de Catolé do Rocha, invadiu por duas ocasiões o território potiguar em caça de Antonio Braz e seu grupo. Na primeira ocasião os policiais haviam praticado uma série de violências, arbitrariedades e até roubos. Na segunda ocasião, na pequena área urbana de Jardim de Piranhas, que nesta época abrigava uma população de 200 almas, ouve um cerrado tiroteio entre os policiais do estado vizinho e os cangaceiros, sendo os policiais obrigados a recuar devido à reação do bando.

Não há maiores detalhes sobre este tiroteio, mas por este período, os aparatos policiais da Paraíba e do Rio Grande do Norte eram formados por pequenos contingentes de homens mal armados, violentos, corruptos e extremamente despreparados, que pouco diferiam dos cangaceiros e bandidos que deviam perseguir. (4) 

Tudo indica que Braz encontrou na pessoa do coronel Florêncio da Fonseca Cavalcante, chefe da vila de Jardim de Piranhas, o apoio e proteção que necessitava para suas ações na região. O coronel Florêncio exercia nesta época o cargo de primeiro suplente de juiz municipal de Caicó. Esta ligação entre homens de poder e cangaceiros sempre resultava em sangue e em jardim de Piranhas não foi diferente. Ainda no ano de 1889, Antônio Braz matou na comunidade de Timbaubinha, três quilômetros ao norte da vila, o agricultor Manoel de Souza Franco, que mantinha com o coronel Florêncio, uma questão de posse de terras.

O caso se deu da seguinte forma; o pai de Manoel, Roberto Franco, morrera em 1878 e deixara como herança um pequeno sítio na Timbaubinha. Haviam dívidas contraídas pelo falecido, que foram cobradas pelos credores, entre estes estava o coronel Florêncio, que mesmo sendo suplente de juiz, recorreu a “força d’armas”, utilizando Antônio Braz e seu grupo para resolver a questão.

Pouco tempo depois do tiroteio com a polícia da Paraíba, Braz tentou aniquilar Manoel cercando sua casa e ateando fogo à mesma. Houve reação do agricultor que, ajudado por outros parentes, afugentou os cangaceiros. Como Manuel morava em sua propriedade cercado de familiares, sentia certa segurança, mesmo assim passou a ter muito cuidado em suas saídas. Já Braz e seu grupo, sempre espreitavam perto da propriedade, buscando uma ocasião para desfechar a ação fatal.

No dia 13 de novembro, quando Manoel Franco voltava do roçado, em pleno meio-dia, entrando pela parte traseira da sua casa, foi alvejado com dois tiros e morreu sem reagir. Não satisfeito Braz ainda lhe fez quatro perfurações de punhal. Aparentemente o cangaceiro aproveitou um momento de descuido do agricultor e de sua família para fazer o “serviço”. Após matar Manoel, o assassino ordenou a todos que o corpo deveria ficar estendido no pátio defronte a casa, sem ser enterrado, para “dar o exemplo”.

Os jornais comentavam que a questão entre o coronel e Manoel Franco chegara ao fim e que agora “ninguém se oporá mais ao coronel”, apontando como o mentor do crime. Diante da repercussão do caso, Antônio Braz e seu grupo seguiram para a região de Catolé do Rocha, onde de passagem pelo lugar “Barra”, deram uma formidável surra em uma mulher.

Passou a existir na região um clima de medo muito forte, onde o jornal denunciava a inércia das autoridades, com uma forte critica para o número pequeno de policiais na região. A repercussão do assassinato de Manoel Franco e o medo do povo, fizeram com que as autoridades intensificassem as buscas ao bando. O então comandante da polícia, o capitão Olegário Gonçalves de Medeiros Valle, ordena mais empenho dos seus comandados.

Não demorou muito e os policiais tiveram um encontro com o cangaceiro; ao passarem próximos de uma casa as margens do Rio Piranhas, tiveram a surpresa de estar diante de Antônio Braz. Este se encontrava equipado com suas armas, já montado em seu cavalo, não se intimidou com a tropa e fez fogo contra o grupo, recebendo uma chuva de balas em resposta. O cangaceiro fez o segundo disparo e fugiu a galope.
Na fuga, Braz encontrou um homem na estrada e lhe ordenou que fosse com o cavalo para Jardim de Piranhas, então o cangaceiro desapareceu na caatinga. Sem maiores opções e temendo o pior, este homem fez o que fora ordenado, nisto a força policial seguia no encalço do bandido, quando viram o homem montado em um cavalo idêntico ao de Braz e fizeram fogo. Para a sorte deste cavaleiro, os policiais atiravam muito mal.

Sentindo o cerco apertar, Antônio Braz e seu grupo buscam abandonar a área do Rio Piranhas, sendo noticiada uma incursão a Paraíba, na região de Piancó, onde se informa, sem maiores detalhes, ter o bando assassinado um homem. O grupo será visto novamente no Rio Grande do Norte, em 11 de fevereiro de 1890, no lugar “Riacho Fundo”, onde uma tropa policial se depara com o coito do grupo no meio da mata. Ocorre rápida escaramuça, sem vitimas, tendo o bando fugido do local nos seus cavalos sem as selas, roupas e outros utensílios. A polícia persegue os bandidos por quase seis léguas, o que seria uma média de trinta quilômetros, abandonando a perseguição por ter chegado à noite.

O bando passa a agir principalmente na Paraíba, mas a ação policial neste estado se torna mais forte. Em junho de 1890, Braz e seus homens travam um forte tiroteio contra uma patrulha da polícia paraibana, da cidade de Pombal, tendo o grupo perdido alguns animais de montaria.

Rumam então para a fronteira do Rio grande do Norte, na região da cidade de Serra Negra do Norte. Esta cidade potiguar possuía na época um diminuto destacamento de três praças e estes não proporcionariam alguma resistência ao grupo. Na fazenda Jerusalém, do coronel Antônio Pereira Monteiro, tomaram através de ameaças os cavalos deste proprietário, tendo a malta de celerados seguido novamente em direção a Paraíba. A fazenda Jerusalém está atualmente localizada no município de São João do Sabugi.

Mas as tropelias de Antonio Braz e seu bando não param, em 4 de agosto de 1890, na então vila paraibana de Paulista, pertencente a Pombal, este cangaceiro cria uma situação de escárnio para as autoridades, que chega a ser inusitada. Neste dia, neste lugarejo onde habitavam umas 50 almas, Braz conduz preso o bandido que respondia pela estranha alcunha de “Francisco Veado”. Na vila ele obriga dois paisanos a levarem o prisioneiro para o delegado de Pombal, com uma carta para a autoridade, onde dizia que “não estava disposta a deixar livres tantos cangaceiros, que por ora remetia aquele, e que mais tarde... ele próprio iria”. (5)

Parece uma tanto fantasiosa esta última afirmação do jornal, mas a partir desta data, cessam toda e qualquer nota sobre o cangaceiro Antônio Braz e suas atividades.

Esta última notícia data de agosto de 1890, coincidindo com o retorno de chuvas depois de um período de fortes secas entre os anos de 1888 e 1889. É fácil supor que devido ao risco e periculosidades inerentes a atividade de cangaceiro, esta já não fosse tão interessante e a terra molhada vai dispersando o grupo em busca de outras formas de sobrevivência (6).

Infelizmente, não sei como terminou este episódio, ou mesmo a vida de peripécias deste inusitado cangaceiro e seu bando. Não consegui mais nenhuma informação nos jornais da época e nos arquivos existentes em Natal e Caicó.

Sobre o aspecto de atuação territorial, o cangaço de Antônio Braz ocorreu praticamente na mesma área que notabilizou o único potiguar que chefiou um bando de cangaceiros, Jesuíno Brilhante. Já em relação à sua prática como cangaceiro, Antônio Braz era tido como “terrível”, já Jesuíno, segundo os relatos históricos de Henrique Castriciano e Câmara Cascudo (7), era o “gentil homem”, um “homem de valores”, que estava na vida do cangaço pelas injustiças do seu tempo.

Notas

(1) Os livros que melhor tratam sobre o ataque de Lampião a Mossoró são “Lampião em Mossoró”, de Raimundo Nonato, “A Marcha de Lampião”, de Raul Fernandes, “Lampião no RN-A história da grande jornada”, de Sergio Augusto de Souza Dantas. Sobre Antônio Silvino no Rio Grande do Norte, temos “Antônio Silvino no RN” de Raul Fernandes, “Antônio Silvino-O homem, o mito e o cangaceiro”, de Sergio Augusto de Souza Dantas. Já Jesuíno Brilhante serviu de tema para o livro “Jesuíno Brilhante-o cangaceiro romântico”, de Raimundo Nonato. Já Câmara Cascudo, em seu livro “Flor de romances trágicos”, aponta vários aspectos das atuações dos cangaceiros Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino, Lampião, Jararaca e outros.


(2) Existe uma coleção microfilmada deste jornal no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. 


(3) Esta não seria a primeira notícia sobre fuga de presos da Cadeia Pública de Pombal. Em 18 de fevereiro de 1874, 25 anos antes da fuga de Antônio Braz, Jesuíno Brilhante e seu bando atacaram a guarnição desta cadeia, libertando quarenta e três detidos, entre eles membros do seu bando.


(4) Para se ter uma ideia da situação numérica do efetivo policial, no jornal “A Republica” de 9 de janeiro de 1890, era publicada a “Ordem do dia nº 6”, emitida em 4 de janeiro do mesmo ano, onde o então governador do Rio Grande do Norte, Adolfo Afonso da Silva Gordo, organizava o Corpo de Polícia com 1 capitão comandante, 2 tenentes, 4 alferes, 2 primeiros sargentos, 4 segundo sargentos, 1 sargento ajudante, 2 furriéis, 10 cabos, 120 soldados e 4 corneteiros. Eram apenas 150 policiais para todo o estado. 


(5) A adoção grifada da palavra “cangaceiro”, pela edição deste jornal, chama a atenção, pois neste período os jornais normalmente utilizavam termos como “banditismo”, para designar a ação, “celerados” e “salteadores” para definir os protagonistas, dificilmente nesta época encontramos nos textos jornalísticos, o termo que designariam estes bandidos e assim seriam mitificados. Entretanto, vale ressaltar que o jornal “O Povo” era editado em uma cidade sertaneja, onde os bandidos errantes que carregava suas armas e utensílios, preferencialmente nos ombros, a partir da metade do século XIX, passam ser conhecidos como “aqueles que estão debaixo da canga” “aqueles que estão no cangaço” e daí a “cangaceiro”, não sendo difícil de supor que, por este jornal está inserido no sertão, esta tenha sido a primeira vez na imprensa potiguar que o termo “cangaceiro” tenha sido utilizado. 


(6) Sobre a seca de 1888 e 1889 e outros assuntos a respeito deste fenômeno climatério, ver o pronunciamento do então Senador pelo Rio Grande do Norte, Eloy de Souza, intitulado “Um problema nacional (Projecto e justificação)”, pronunciada na seção de 30 de agosto de 1911 e editado em formato de brochura pela Tipografia do Jornal do Comercio, em 1911. Sobre a teoria do crescimento das ações de grupos cangaceiros nos períodos de estiagem, ver “Guerreiros do sol”, de Frederico Pernambucano de Mello. 


(7) Com relação aos escritos de Henrique Castriciano sobre Jesuíno Brilhante, temos no jornal "A Republica", edição de 25 de julho de 1908, uma interessante crônica deste poeta potiguar sobre este cangaceiro.


*Rostand Medeiros é Pesquisador de Natal, RN

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Comentários em destaque! 


Semanalmente recebemos comentários principalmente em matérias mais antigas. 
Alguns destes questionam ou querem saber mais detalhes do conteúdo, mas como geralmente estes autores não são colaboradores diretos do blog talvez nem saibam que seus textos foram publicados por aqui. 

Não podemos responder por eles e assim fica inviável a resolução. 

Outros solicitam auxílio para pesquisa, outros sanam dúvidas com informações que são de valia para muitos e um tem ligação especial com determinada personagem. Visando chamar a atenção para os destinatários nominados e rastejadores! 

Vejamos os três selecionados.

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Atenção José Mendes!
Juliana Ischiara deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Juliana Ischiara no trem da História": 

Olá caro José Mendes, não se preocupe, não recebi sua pergunta como se fosse uma crítica, mesmo se fosse eu não ficaria chateada, criticas é uma condição subjetiva, alguns acham ruim e se ofendem, eu já as recebo como um forma de avaliar e reavaliar o que penso e escrevo. Mas este não é o caso, sua pergunta é muito pertinente.

Quanto a sua pergunta, vamos a ela.

O nome do pai de Âurea não era Zé Nicácio e sim Antônio Nicácio. Sim, ele era primo/irmão de Lé Soares, o pai de Adelaide, de Criança, a mulher que morreu de parto no cangaço e de Rosinha, de Mariano.
Rosinha foi morta por ordem de Lampião, e enterrada no mesmo local, no riacho do Quatarvo, onde Lídia de Zé Baiano foi enterrada.

Saudações Cangaceiras

Juliana Ischiara 


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Chamada Geral!
Eu Gustavo Farias tenho grande interesse em adquirir o livro" RAÍZES DE UM POVO E COMO INICIOU SUAS CONTENDAS COM LAMPIÃO ", da escritora pernambucana Izabel Belícia Ferraz Torres. Meu email, gustavocostafarias@gmail.com
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Alô Ivanildo Silveira!
Maria Jorge dos Santos Leite disse...

Sou historiadora e amante da história do Cangaço.

Interesso-me particularmente pela história de Lampião devido a uma história familiar que se cruza com a dele. Meu pai ficou órfão de mãe aos cinco anos de idade e foi criado, como filho, por sua madrasta Sinhá Vieira Cavalcante, filha de Pedro Vieira, assassinado por Lampião. 
 
Como sempre tive muito carinho por minha "Vó Sinhá", falecida em 1982, considero-me bisneta de Pedro Vieira.
 
Parabenizo-o, pela feliz ídéia de escrever essa matéria trazendo informações sobre o combate de Ipueiras.

Informativo

Da sucursal Baiana... 

Recortes do Jornal A Tarde da Bahia, postados pelo confrade Professor Rubens Antonio na comunidade do Orkut: Lampião, Grande Rei do Cangaço 

Clique para ampliar

 17 DE JANEIRO DE 1929

 15 DE JANEIRO DE 1929

 18 DE JANEIRO DE 1929

Procurando mais cordel?

Cordéis de Cangaço da Editora Tupynanquim! 

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Matéria enviada pelo confrade Kydelmir Dantas.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Da 'carreira' em Mossoró

Novo livro na praça

O Prof. Gilbamar de Oliveira Bezerra, lançou "A Derrota de Lampião" pela Editora Sebo Vermelho durante o FLIPIPA 2010 ocorrido no último final de semana.

Mais um biscoito fino da Coleção João Nicodemos de Lima, sobre este inesgotável e saboroso tema que é o Cangaço e suas personagens.

Gilbamar também é autor de "O ataque de Lampião à Mossoró - Trovas".

Para adquirir estes trabalhos: gilbamarbezerra@ig.com.br

Pescado em três açudes:
Lentes Cangaceiras
Sebo Vermelho
Gilbamar Poesias e crônicas

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Opinião

As muitas versões do Cangaço 

Por: Juliana Pereira

Caros pesquisadores do Cangaço, não é minha intenção polemizar, mesmo em se tratando de cangaço, terreno bastante fértil para debates, controvérsias e discordâncias, porém, todos nós devemos ter em mente que não existem verdades absolutas, mas, simplesmente verdades. O que é uma verdade para mim, pode não ser para o outro e assim sucessivamente, pois, em se tratando de história como ciência, podemos falar de verdades históricas, ou seja, a verdade dos vencedores, dos vencidos e daqueles que tiram suas conclusões tendo como base as duas primeiras elencadas.

A história não é uma ciência exata, não podemos sair por aí arguindo nossos pensamentos como se fosse uma ideia absoluta do objeto pesquisado.

Esta semana que passou lemos em alguns blogs e no Jornal da Cidade de Sergipe, um excelente debate entre dois grandes pesquisadores do cangaço. De um lado o acadêmico Frederico Pernambucano de Mello, autor de vários trabalhos importantes sobre a temática em tela e, do outro lado, o sergipano Alcino Alves da Costa, um exímio conhecedor do fenômeno cangaço, em particular os seus dez últimos anos tendo Lampião como líder.

Alcino é de Poço Redondo, um irmão de sua mãe foi cangaceiro, além de ter crescido em meio à história viva do cangaço, pois se em Poço Redondo, ainda nos dias de hoje, o cangaço é assunto comum nas rodas de conversa, imagine na meninice e ao longo de sua vida, com um tio cangaceiro, o sogro sendo o velho “China do Poço” amigo de Lampião. Alcino também é autor de vários livros sobre o cangaço.

Se por um lado, um pesquisador tem como esteio de suas pesquisas o aparato acadêmico, tendo inclusive conversado como alguns sobreviventes, do outro lado temos um pesquisador que nasceu, cresceu e passou sua vida em meio a sobreviventes do cangaço como ex-cangaceiros, outros jurados de morte por cangaceiros, coiteiros e amigos de Lampião. Com isso, não estou medindo a competência dos pesquisadores, nem mesmo aceitando um pensamento em detrimento de outro, pois cabe a mim, assim como aos demais, aprender com estes dois mestres da historiografia cangaceira a arte do bom debate. Tanto um quanto outro são autoridades no assunto.

O bom do debate é perceber as diferentes versões acerca do mesmo objeto. Ao analisar as duas ou mais vertentes, individualmente tiramos nossas próprias conclusões.

Um exemplo disso é que, mesmo respeitando o trabalho e os anos de pesquisa de Frederico Pernambucano de Melo, não concordo quando ele disse “... que a valentia e a capacidade de urdir planos vinham na cabeceira dessa criteriologia de ascensão hierárquica no bando, da qual passou a fazer parte, de início timidamente, e depois como concausa cada vez mais relevante, especialmente no meado dos anos 30, a habilidade com as agulhas e as linhas, assim como o domínio da máquina Singer de mesa”.

Penso que ter habilidade em contornar situações delicadas e difíceis, capacidade de estratégia, facilidade em comandar adversidades comuns em um grupo de seres pensantes, dada a particularidade de cada um, ter pulso forte diante de eventuais divergências, fossem os critérios para ascensão hierárquica dentro do bando e não o manuseio da máquina de costura, mesmo porque, viviam e sobreviviam em meio a combates, no liame entre a vida e a morte.

Sendo assim, não creio que ter habilidade na arte de bordar e costurar fosse de suma importância para o chefe de um subgrupo. As máquinas de costura, na famosa foto das cabeças, não sinalizam que Lampião e/ou seus comandados gostavam de relaxar, tirar o estresse dos dias difíceis no manejo da máquina de costura, mas que usavam tal ferramenta para fazer seus pertences como bornais e roupas, deixando claro que não discordo dos bordados, nem da habilidade dos mesmos nesta arte.

Por falar nas ditas máquinas de costura, nota-se duas delas na famosa foto das cabeças. Sabemos que a máquina de dona Guilhermina, mãe de Durval e de Pedro de Cândido foi levada para o coito por Mané Félix e Vicente – este ainda com vida – e que a mesma iria servir para Sila e Maria Bonita fazerem a roupa do sobrinho de Lampião que ali havia chegado com a finalidade de acompanhar o tio. Em momento algum se falou que quem iria “costurar” a roupa do rapazinho seria Lampião e, ainda, por que com uma máquina no coito, Maria Bonita (ou mesmo Lampião), mandou buscar a da senhora proprietária da fazenda Angico?

Ainda sobre as questões levantados pelo pesquisador Frederico ao falar do divórcio cultural entre o litoral e o sertão, concordo plenamente com ele. Houve realmente uma falha no processo de colonização, processo este que sentimos o ranço ainda nos dias de hoje. Porém, não digo que este fato não tenha reflexo no surgimento do cangaço, mas, em nada tem a ver com o cangaço da geração lampeonica, pois, sem sombra de dúvida, trata-se de uma insurgência nascida de uma particularidade estendendo-se para um campo mais amplo, porém não atingindo os ideais da divisão geopolítica e cultural. Seria forçoso demais pensar o contrário.

Quanto ao simplismo dos marxistas em considerar o cangaço filho exclusivo da luta de classes envolvendo coronéis e cangaceiros, também concordo que até então estes fenômenos, em especial o cangaço, era tratado de forma mais simplista. Existe uma complexidade bem mais faraônica envolvendo todo este período.

Lampião era bem quisto por alguns coronéis, pois se sabe que em meio à medição de força e poder entre os donos dos sertões nordestinos, Lampião foi um veículo utilizado por uns em desfavor de outros. Claro, quando digo utilizado, não estou dizendo que Lampião foi um fantoche nas mãos deste ou daquele coronel, mas que todos ganhavam, porque no acerto entre Lampião e o coronel, cada um tinha como objetivo a satisfação dos seus intentos.

Dizer que: “... o cangaço sai à luz como uma espécie de conspiração tácita sertaneja, irmanando coronéis e cangaceiros na luta surda contra inimigo comum: o poder litorâneo, fonte de toda repressão.” Não é nem forçoso, mas é absurdo mesmo.

Controvérsias à parte, sabemos que realmente Lampião sabia manusear a máquina de costura, bem como bordar. Percebemos que atrás daquela fera, muitas vez insana, havia um indivíduo capaz de sutilezas como costurar, mesmo em um universo tão machista. Quanto a ser um sucesso ou não, bem, sabemos que trabalhar com oralidade é complicado, dada a subjetividade de conceitos e ao fato de a memória ser seletiva. Tanto é verdade que temos depoimentos de sobreviventes que caíram em total descrédito por conta do surrealismo em demasia.

Um exemplo claro de um depoimento deste é o de Barreira ao então pesquisador Frederico. Pelo visto, a memória dele é tão seletiva que esqueceu que Lampião tinha um feeling apurado, tanto que mesmo sem saber que ele seria um traidor execrável, já não gostava dele.
No mais, parabenizo os dois pesquisadores, por serem grandes mestres e nos darem um exemplo tão bom sobre um debate, donde se pode discordar do posicionamento do outro sendo respeitoso e sem perder a admiração mútua.

Sou uma admiradora dos dois mestres e muito tenho aprendido com ambos. Sou uma iniciante nesta seara tão complexa e, por vezes, tão árida de se transitar, mas não podemos e nem devemos desanimar, pois, se as veredas percorridas pelos cangaceiros e volantes não foram nada fáceis, não vamos querer um campo de rosas como terreno para pesquisar.

Se todos colaborassem de alguma forma para com as pesquisas, estaríamos muito mais avançados e não teríamos o que vez por outra temos. Pessoas que usam suas pesquisas como holofotes, sem se preocupar com o futuro do conhecimento, dada a imensidão de teses mirabolantes defendidas com objetivo único de serem mercadológicas.

Saudações Canganceiras

Juliana Pereira é Pesquisadora, sócia da SBEC.
Quixadá / CE

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Testemunhas da História

Mulher mais velha da PB completou 111 anos nesta quarta!


A paraibana Leodegária Cavalcanti (foto), carinhosamente apelidada de Dona Leó, nasceu no dia 17 de novembro de 1899, ainda no século XIX, em São José de Piranhas, município localizado no Sertão do Estado, e há décadas mora no bairro Jaguaribe, em João Pessoa.

Dotada de plenas faculdades mentais, aos 111 anos Dona Leó, mesmo que precise de um apoio, ainda adora realizar caminhadas diárias na casa onde mora, ouvir notícias, conversar e cantarolar músicas que embalaram a sua adolescência.


Apesar de ter sido noiva, ela nunca casou, mas, possui uma família numerosa com mais de 50 sobrinhos que devem comparecer em bom número para dar os parabéns e festejar mais um aniversário da centenária paraibana.

Ao ser questionada sobre uma das maiores aventuras que viveu, Dona Leó lembra do grande perigo que correu ao ter que se esconder do bando de Lampião em um matagal, no sítio onde morava. Já no ano passado, sem pestanejar, Dona Leó, viajou sozinha de avião ao retornar de um passeio que fez ao Rio de Janeiro, onde passou alguns dias visitando primos e outros parentes.

Da redação do Portal Correio com José Alves do Jornal Correio

Sítio: Portal Correio

*Matéria indicada pelo confrade cap. Narciso "um volante a serviço da Paraíba"

Adendo

De acordo com matéria do Blog do Angelo Lima Dona Léo, faleceu em 2015, aos "115 anos"

Procurando cordel?

Títulos de Cangaço da coleção Queima-Bucha ! 

  1. O Ataque de Mossoró ao Bando de Lampião - Antônio Francisco (8 pág.)
     
  2. Jararaca arrependido porque matou um menino – Concriz (12 pág.)
     
  3. Vitória de Mossoró no ano de vinte e sete - Luiz Campos (12 pág.)
     
  4. O Encontro de Lampião com Osama Bin Laden - Jandir Bezerra Lins (8 pág.)
     
  5. Chegada de Lampião no Inferno - José Pacheco (8 pág.)
     
  6. O Grande Debate de Lampião com São Pedro - José Pacheco (8 pág.)
     
  7. História de Nazaré - Rubelvam Lira (8 pág.)
     
  8. Detalhes sobre a cidade que combateu Lampião Vol. 1 - José Ribamar (16 pág.)
     
  9. ABC de Jesuíno Brilhante autor desconhecido (8 pág.)
     
  10. Detalhes sobre a cidade que combateu Lampião Vol. 2 - José Ribamar (16 pág.)
     
  11. Virgulino Lampião: Deputado Federá - Jessier Quirino ( 08 pág.) INDISPONÍVEL
     
  12. Eis um pouco da história de Jesuíno Brilhante - Luiz Antônio (8 pág.)
     
  13. Lampião – Capitão do Cangaço – Gonçalo Ferreira da Silva (32 pág.)
     
  14. A Defesa de Lampião – José Augusto (16 pág.)
     
  15. Lampião queimou a fama no fogo de Mossoró – Severino Inácio (8 pág.)
     
  16. A História de Antônio Silvino - Francisco das Chagas Batista (40 pág.)
     
  17. Um Prefeito bom de briga e o Bando de Lampião – Antonio Francisco (12 pág.)
     
  18. A Resistência do povo de Mossoró ao Cangaço - José Ribamar Alves ( 8 pág.)
     
  19. 80 anos de História do combate a Lampião – Concriz (8 pág.)
     
  20. As Mulheres Cangaceiras Humanizaram o Cangaço - Kydelmir Dantas (8 Pág.)
     
  21. Corisco – O Sucessor de Lampião - Gonçalo Ferreira da Silva (32 pág.)
     
  22. O Cangaço, sua origem e os Bravos Cangaceiros - J. Victtor (20 pág.)
     
  23. Maria Bonita – A Eleita do Rei - Gonçalo Ferreira da Silva (12 pág.)
     
  24. Jesuíno, O Cangaceiro Brilhante – Gil Holanda
     
  25. A Caatinga Sustentou Campesino e Cangaceiro –Marcos Medeiros (16 pág.)

    Quanto?
    — 8 a 12 pág.: R$ 2,00 
    — 16 a 24 pág.: R$ 2,50
    — 28 a 32 pág.: R$ 3,00 
    — 36 a 48 pág.: R$ 4,00

Editora Queima-Bucha
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Twitter: @queimabucha
Para outros temas acesse o Sítio: queima-bucha.com

*Matéria indicada pelo confrade Kydelmir Dantas.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A questão com Zé Saturnino

Depoimento do filho do 1º inimigo de Lampião


Documentário da Laser Vídeo com direção de Aderbal Nogueira.

João Saturnino é filho do célebre Zé Saturnino, primeiro inimigo de Virgulino. Participação do escritor José Alves Sobrinho, filho de Luiz Cazuza.






terça-feira, 16 de novembro de 2010

Alcino Perguntou...

Frederico respondeu!

Na semana passada o Blog Lentes cangaceiras havia levantado a questão através de um artigo do confrade Alcino a respeito da ultima entrevista concedida pelo pesquisador e escritor Frederico Pernambucano de Mello.

Essa mesma matéria foi publicada pelo Jornal da Cidade com circulação no Estado de Sergipe.

Alguns amigos solicitaram que o Lampião Aceso também publicasse. Preferi esperar por este momento em que o "réu em questão"... (Risos) Se pronunciasse.

Frederico enviou suas considerações para o Lentes cangaceiras e agora lhes apresento ambas explanações. Quem já leu... lê novamente quem não leu aprecia por completo a elegância destes dois cangaceirólogos.

Ah! Aproveito para lembrar que minha frequência em pesquisas diminuiu o ritmo. Já não posso correr atrás de tudo que é relacionado. Já temos a honra de semanalmente sermos agraciados com mensagens de vários coiteiros.

Portanto: Os demais confrades que desejarem ver os seus artigos, vídeos ou qualquer notícia ou eventos locais com relação aos temas por aqui explorados mandem para nosso email: lampiaoaceso@hotmail.com

Quando enviarem pra um enviem geral. Parafraseando o mesmo mestre Alcino "Somos todos vaqueiros correndo atrás de uma mesma boiada".

Att Kiko Monteiro


A PERGUNTA
Publicado no Jornal da Cidade - Aracaju/SE Edição de 11 de Novembro de 2010, No caderno B sessão "Opinião" pelo escritor Alcino Alves.

A Globo News, no dia 07 de novembro de 2010, no horário das 22 horas, exibiu para todo o Brasil a tão esperada entrevista do notável historiador e pesquisador do cangaço e de Lampião, Frederico Pernambucano de Melo.
 
Com a competência e o seu imenso saber sobre as coisas do cangaço, o ilustre historiador discorreu sobre fatos e passagens da vida cangaceira, do viver e proceder de Virgolino Ferreira da Silva – Lampião.

Mesmo sabendo e reconhecendo a profundidade do conhecimento e da ilimitada aptidão que Frederico possui em relação a seus escritos, as suas afirmações, os seus registros e o zelo que ele tem em favor da própria história, eu não consegui absorver e nem aceitar algumas de suas respostas a Francisco José, o repórter da Globo.
 
Eis pelo menos duas:
A primeira foi ao responder uma pergunta do entrevistador, que lhe inquiriu sobre qual a relação possível havida entre o cangaço e o litoral. O nosso querido mestre e amigo deixou-me atarantado. A sua resposta foi deveras surpreendente, pois, afirmar que o cangaço nasceu da insurreição ao modo de vida e da grandeza do litoral, deixou-me abismado.
 
A segunda resposta causou-me admiração. Indagado sobre a escolha dos chefes dos subgrupos, Frederico disse sem pestanejar que os mesmos eram escolhidos pela sua capacidade de bordar.
Estas duas afirmativas fizeram com que eu me sentisse envolvido por uma perplexidade muito além do imaginado. Dizer-se que o cangaço nasceu e floresceu em virtude de uma insurreição sertaneja para com o viver e a grandeza do litoral, é de uma fragilidade monstruosa, sem nenhum embasamento, distante, muito distante da realidade histórica do campônio, quase que primitivo, de nosso mundão caboclo.
 
Estou longe, muito longe, do conhecimento cultural deste monumental vaqueiro da história, não só do cangaço mas, também, do nordeste brasileiro. No entanto, não posso deixar de emitir através deste artigo a minha posição sobre o nascimento do cangaço e dizer que, para ser justo comigo mesmo, não concordo e não aceito esta afirmação de nosso fabuloso pesquisador.

Como nasceu o cangaço e o cangaceiro? Na minha visão, a raiz do cangaço está na tremenda medição de forças, que varou os anos, entre as poderosas famílias sertanejas e a força prodigiosa dos grandes fazendeiros, especialmente aqueles que se tornaram coronéis legitimados e outorgados que foram, primeiro pelas Velhas Ordenanças e, depois, pela Guarda Nacional do Regente Feijó, em 1831.

Inicialmente, o fazendeiro e o coronel tiveram no jagunço a sua proteção e garantia. Com o passar dos anos surgiram os cangaceiros, estes libertos e errantes. Aqueles que fazem parte do seleto grupo de Jesuíno Brilhante, nascido de uma intriga com determinada família, passando por Antônio Silvino, Sinhô Pereira e outros de luz de menor claridade, até chegar a Lampião, a grande e inigualável estrela que colocou os bandos cangaceiros no ápice do andejar pelos campos e caatingas das terras bem distantes das quebradas do mar.
 
Quanto à segunda afirmação, aquela em que foi dito que Lampião privilegiava com a chefia dos subgrupos de seu numeroso contingente, aqueles que sabiam bordar, é uma assertiva descabida e que não merece ser levada em consideração. Dizer-se que Zé Baiano, Zé Sereno, Mariano, Corisco, Labareda, Jurity e outros só foram escolhidos para chefiar alguns dos subgrupos porque sabiam bordar é uma verdadeira aberração. Com certeza nenhum pesquisador comunga com esta afirmativa.

Que me desculpe e me perdoe Frederico Pernambucano, essa sua declaração não condiz com tudo aquilo que você representa e nos enche de orgulho em tê-lo como nosso vaqueiro-mor da história sertaneja e da “Era Lampião”.
 
Não é minha intenção desmerecer a imensa, justa e merecida capacidade e conhecimento deste admirável caçador de nossa história cabocla. Não se pode esconder a admiração que todos nós, que vivemos a rastejar as pegadas de Virgolino Ferreira pelas veredas, bibocas e cafundós da terra cabocla e árida de nossos sertões, temos por este admirável ser humano de tantos e tantos predicados. Todavia, mesmo sentindo um aperto em meu coração e com receio de ferir a sensibilidade deste homem que pautou a sua vida em favor da dignidade e do bom proceder, senhor de valores ilimitados, professor dotado de cuidadoso zelo, cuidado e carinho para com os seus registros, feitos e atitudes; mestre que é um paradigma da narração de fatos notáveis ocorridos na vida do povo sertanejo; mesmo assim, meu querido mestre, a minha formação, a minha inquietude em relação às incontáveis histórias, historietas e estórias dos tempos do cangaço e da própria vida do homem do campo, fazem com que eu fique completamente dominado por esta vontade de, mesmo que quase impossível, me aproximar das verdades dos fatos e contestar aqueles que me parecem inverossímeis.
 
É este o motivo deste artigo. Em minhas pesquisas e em meus estudos, especialmente sobre os últimos nove anos de Lampião e seu bando nas terras do Sertão do São Francisco, em Sergipe, jamais conversei ou entrevistei alguém que dissesse que a maioria dos cangaceiros, especialmente os subchefes de grupos, bordava. Até parece que ser mestre em costurar e bordar era a condição maior para que eles pudessem alcançar tal privilégio, o privilégio de chefiar um bando.
 
E o uso dos punhais, era uma influência das facas dos pampas?

(*) Escritor, pesquisador. Sócio da SBEC.

Jornal da Cidade 

 A RESPOSTA

O pesquisador Alcino Costa, a quem respeito como investigador dos fatos do cangaço, assistiu à entrevista que acabo de dar à Globonews sobre meu novo livro, Estrelas de couro: a estética do cangaço, São Paulo, Escrituras Editora, 2010, prefácio de Ariano Suassuna, e manifesta três indagações, ou objeções, a que respondo abaixo, na ordem em que foram expostas:

1 – sobre o divórcio cultural entre o litoral e o sertão, fruto de falha no processo secular de colonização do Nordeste do Brasil, fazendo com que os homens de uma e outra dessas áreas não se reconhecessem entre si, o que digo é muito simples: o poder político e a opinião pública nuclearam-se sempre no litoral. Toda a repressão aos levantes indígenas, aos quilombos e às revoltas sociais, fenômenos irmãos do cangaço como expressões de insurgência popular rural e armada, partiu sempre do litoral, derramando-se sobre o sertão. Mesmo quando foram cooptados jovens sertanejos para as fileiras das forças policiais - casos de Pernambuco, em 1923, e da Paraíba, no ano seguinte - o comando não saiu do litoral.
 
Quando me levantei, ainda em 1985, no livro Guerreiros do sol, contra o simplismo dos marxistas em considerar o cangaço filho exclusivo da luta de classes envolvendo coronéis e cangaceiros, identifiquei no divórcio litoral-sertão as verdadeiras placas tectônicas que aqueciam os conflitos na região. E mostrei que os grandes cangaceiros, Lampião à frente, foram sempre os queridinhos dos coronéis sertanejos, com exceções difíceis de identificar. Nesse sentido, o cangaço sai à luz como uma espécie de conspiração tácita sertaneja, irmanando coronéis e cangaceiros na luta surda contra inimigo comum: o poder litorâneo, fonte de toda repressão.

A mais não fui. Nem disse na entrevista.

2 – sobre a importância da costura e do bordado no cangaço, tenho a esclarecer que jamais ampliei o domínio destas em critério único de prestígio hierárquico no bando de Lampião. Seria uma tolice afirmá-lo. Alguma coisa como equiparar o bando de Lampião ao ateliê parisiense de Christian Dior. Em história não há causalidade única, até as pedras o sabem. Disse claramente na entrevista – e desenvolvo no livro que espero venha a ser lido por Alcino - que a valentia e a capacidade de urdir planos vinham na cabeceira dessa criteriologia de ascensão hierárquica no bando, da qual passou a fazer parte, de início timidamente, e depois como concausa cada vez mais relevante, especialmente no meado dos anos 30, a habilidade com as agulhas e as linhas, assim como o domínio da máquina Singer de mesa.
 
É claro que não estamos falando de norma escrita. De ato de Lampião publicado no Diário Oficial do Estado. Não chegamos a tanto, nem mesmo em Sergipe. O preceito há de ser inferido pelo historiador a partir da observação de uma prática reiterada, reveladora de tendência que finda por se consolidar em norma não-escrita. Estamos falando de indução lógica, procedimento abonado largamente pela ciência, segundo o qual, de várias situações singulares comprovadas, se extrai uma proposição de caráter geral.

Se Lampião costurava e bordava de maneira exímia, no pano e em couro, fazendo-se fotografar alegremente em meio à prática por Benjamin Abrahão (ver Estrelas de couro, p. 83); se o mesmo acontecia com Luís Pedro (ver foto deste, também na Singer, ladeado por Juriti que, atento, parece querer aprimorar-se no ofício, no livro do padre Maciel, 1976, v. III, p. 160), o poderoso lugar-tenente do bando; se Virgínio fazia outro tanto com habilidade (ver depoimento detalhado de Moreno ao cineasta Wolney Oliveira, para filme em preparo); se Zé Sereno, Português e Pancada não ficavam atrás, segundo Barreira e Adília, de que mais necessitamos para inferir a norma? Estão aí os maiorais do cangaço.

Quantos mais não lhes seguiram os passos na arte cangaceira, sem que disso tenha restado testemunho? Estão aí as máquinas de costura ao lado das cabeças cortadas. Estão aí os bornais amaneirados no luxo de concepção, de costura e de bordado. Agradeço a Deus ter salvo essas provas materiais para a história. Está aí o cangaceiro Candeeiro, em Buíque, Pernambuco, do alto dos seus 96 anos de lucidez, para dizer a quem queira ouvir que os principais cangaceiros, à frente Lampião, costuravam com habitualidade e sucesso no que produziam. No filme documentário A musa do cangaço, de José Umberto Dias, Salvador, 1981, Dadá sustenta gostosamente que “Lampião era um sucesso na máquina de costura”.

Há mais: o tenente volante pernambucano Pompeu Aristides de Moura, amigo de Antônio Ferreira antes de tomar a farda, contou-me, em depoimento gravado, ter visto o irmão de Lampião passar “o dia inteiro na máquina de costura, fazendo bornais para o bando, em 1925, no Juazeiro de Joaquim Cândido”, localidade de Floresta, Pernambuco. O cangaceiro Barreira, quando hospedou-se em minha casa por uma semana, em 1990, repetiu várias vezes que Lampião não gostava dele. Até que resolvi perguntar a razão. E ele, no que me pareceu incompreensível à época, respondeu-me de chofre: “Porque eu não sabia costurar”.

3Por fim, Alcino insinua que eu teria dito que o uso do punhal pelo nordestino seria uma influência da faca dos pampas, quando eu não disse senão que o cangaceiro portava o punhal na parte frontal do corpo, sob as cartucheiras, enquanto que o gaúcho conduz a faca transversalmente às costas. Uma anotação etnológica. Uma curiosidade. Somente.

Agradeço a Alcino a oportunidade de prestar esses esclarecimentos. Quem questiona o que digo ou escrevo, aperfeiçoa meu trabalho. Com livros na praça, o que mais temo é o silêncio. 

(*) Escritor, pesquisador. Sócio da SBEC.

Lentes Cangaceiras

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Museu casa de Maria Bonita



Programa Box Cultural transmitido pela NGT nacional, inédito as sextas, 22hs e com reprises aos domingos 20h30

Cangaço em revista

Dona Sila

Confira a transcrição da entrevista concedida pela saudosa ex-cangaceira Sila à revista TPM edição nº 1, Maio de 2001.

Tpm. Como a senhora fazia para ficar bonita no meio do mato?
Só punha ouro, chapéu bonito, bornal todo enfeitado, roupa cheia de bordado. Eu tomava banho com perfume! Ainda hoje sou vaidosa. Só que hoje, se tomo um banho, me troco e não ponho perfume. Para mim, perfume me lembra de mato, e é como se eu não tivesse tomado banho. Às vezes, o cheiro de perfume ficava tão forte e tão ruim entre a gente, que teve muita história de a polícia achar cangaceiro por causa do fedor. Era muito quente, muita roupa, então suava...

Tpm. A senhora engravidou no meio do mato, né?
Umas três vezes.

Tpm. Onde a senhora deu à luz seu filho?
Pari no mato mesmo, lá por perto, onde tinha água. Estava com Maria, os homens saíram todos de perto. Comecei a sentir as dores, aí ela armou uma coberta no chão e eu deitei. Fiz muita força a tarde toda e, à noite, o menino nasceu. Foi ela que fez meu parto. Daí, os homens vieram correndo para ver como ele era. Nossa, eu sentia tanta dor, parecia que iam abrir minhas cadeiras, ave-maria... Aí, enfiei vários panos dentro da calça para estancar o sangue e seguimos viagem.

Tpm. O que aconteceu quando levaram a senhora?
Naquela noite que eles chegaram, meus primos arranjaram uma sanfona para tocar e vieram vários cangaceiros. Eu nem olhava na cara de Zé Sereno, só rezava: "Meu Deus, fazei com que esse homem não queira que eu saia" [quando os cangaceiros raptavam uma mulher, o termo usado era "sair", ou "tirar a moça"]. Quando foi de manhã cedinho, a cangaceira Neném veio e disse que eu me preparasse para sair. Era sempre assim, eles mandavam uma mulher dar o aviso, desse jeito "encorajava" a outra. Saí com o vestido fino de baile que eu estava.

Tpm. Qual era o seu papel no bando? 
Eu costurava as minhas roupas, bornais... Não tinha obrigação de nada. Fazia o que queria, comia o que queria. Não tinha esse negócio de obrigação como dona-de-casa; eu era dona-do-mato.

Tpm. E, nos tiroteios, a senhora atirava?
Não, nunca precisei. Quase levei tiro na cabeça, isso sim, de estar deitada aqui e levantar um pedaço de terra assim do meu lado. A única mulher que atirou mesmo foi a Dadá [mulher de Corisco, passou a participar dos combates no lugar do marido, que teve parte dos braços amputados]. As outras não atiravam porque a nossa parte era só dar força aos maridos. Não sei, parece que eles confiavam muito na gente e a gente confiava muito neles.

Tpm. Como foi o tiroteio que matou Lampião? Onde vocês estavam?
O nosso bando encontrou com o de Lampião, que já estava lá em Angico [nome da fazenda em Sergipe onde Lampião morreu]. Passamos muita sede até chegar lá, estávamos todos cansados. Quando foi de noite, Lampião tirou uma melancia e ofereceu para mim. Fomos eu e Maria chupar a melancia sentadas numa pedra, no alto de uma ribanceira. Ficamos lá, ela me convidou para fumar e ficamos falando as coisas de sempre, que aquilo não era vida. Foi a última conversa que ela teve. Enquanto a gente conversava, vi uma luz que acendia e apagava, até perguntei a ela se era uma lanterna. Ela disse que devia ser vaga-lume. Se eu tivesse descido e falado com Zé Sereno, não teria acontecido o que aconteceu, porque ele contaria a Lampião e todo mundo teria se equipado.

Tpm. A senhora deixou o cangaço depois da morte de Lampião?
Não, nós ainda ficamos um tempo no mato. Deixei só em 1938. Nos entregamos na Bahia, quando Zé Sereno recebeu uma carta do governo dizendo que o Getúlio Vargas ia dar ordem de anistia. Sem prisão nem nada, a gente ia ser livre. Chegamos em Salvador e aí nos separaram. Ficou eu, Dulce e uma outra que nunca mais vi, a Dinda, todas presas. Dulce dizia: "Mana, o que é que nós vamos fazer?" Aí, nós choramos, as três. Num lugar estranho, meu Deus. Cadê eles? Ninguém sabia... No outro dia cedinho, Zé chegou para nos pegar e nos levaram para um quartel. Todo dia tinha uma chamada e a gente ia lá se apresentar. Ficamos lá até quando o Getúlio mandou a anistia.

Tpm. Quando a senhora chegou em São Paulo, as pessoas sabiam quem era? 
No trabalho, eu não contava não. Mas sempre acabavam descobrindo. A pior coisa que tinha era quando as crianças diziam: "Mãe, fulano disse que não quer brincar comigo, que sou filho de bandido". É duro, né? Eu dizia: "Vocês não são filhos de bandido, meus filhos, vocês são filhos de gente. Seu pai é Zé Sereno e eu sou sua mãe, somos gente que nem eles. Um dia vocês vão entender".

Tpm. Dá para comparar a violência de hoje, em São Paulo, com a que tinha no cangaço?
Já fui assaltada várias vezes. Aqui em São Paulo a gente não vive mais de tanto medo. Sai de casa e tem que ficar olhando para os lados, segurando a bolsa com força. Nunca apontaram uma arma para mim, mas já puxaram e levaram minha bolsa. Uma vez, saí correndo atrás de um trombadinha, catei ele pelo braço e fiz ele devolver a carteira. É diferente do cangaço... No mato, era a polícia que corria atrás, só tínhamos que ficar fugindo e fugindo. Roubava só fazendeiro que não dava o dinheiro por bem. Não tinha esse negócio de ladrão entrar na casa da gente sem ser convidado...

Tpm. A senhora tem saudade do Nordeste?
Ah... Se alguém me der uma passagem de volta, vou embora daqui...

Além dos pés de xique-xique e mandacaru, a caatinga é a terra onde brotou um dos mais peculiares movimentos da história do Brasil: o cangaço. No início do século XX, o povo morria de medo dos cangaceiros, que invadiam pequenas vilas espalhadas pela região atrás de comida, bebida, armas e jóias
Naqueles verdadeiros arrastões, homens comandados por Lampião aterrorizavam as mulheres e, não raro, carregavam-nas com o bando - essas, embora bem tratadas, já viram companheiras marcadas com ferro em brasa, como se faz com as vacas na fazenda. 
Durante os quase dez anos em que houve presença feminina no cangaço, elas foram unicamente parceiras sexuais. Muitas foram levadas de casa ainda virgens - algumas com 12 anos de idade! - e, já no bando, cada uma passava a 'pertencer' a um cangaceiro (Sila 'era de' Zé Sereno, líder de um bando leal a Lampião, com quem teve três filhos). Não cuidavam de nenhuma das tarefas que na época cabiam às mulheres executar. Eram os homens que cozinhavam e até costuravam. Uma ou outra, como a famosa Dadá, tinha o dom para as agulhas e os botões. Companheira do cangaceiro Corisco, lançou moda, sendo a grande responsável pelo colorido e a extravagância das roupas, chapéus e bornais com os quais todos se cobriam e que, tempos mais tarde, veio até a inspirar coleções de marcas como Forum.

O NAMORO NO CANGAÇO

Tpm. E com seu marido? A senhora não o namorava?
Ah, eu nem olhava pra cara dele, né? Um homem não via nem uma calcinha da sua mulher, não falava palavra feia perto da gente. Eu não sabia o que era namoro... Vou te dizer: eu nunca beijei, não sabia... Nossa vida era só andar, andar, andar, e pronto.

Tpm. Como foi a sua primeira noite com ele? 
Sabe como é... À noite foi aquela bagunça, cada um se encostou num canto. Zé tirou a alpercata dele e mandou eu calçar. Quando eu calcei, ele disse: "agora nunca mais você vai me deixar". De fato, nunca deixei mesmo. Acho que era uma simpatia porque eles acreditavam muito em reza, em oração, em tudo eles acreditavam.

Tpm. Então ele não foi nada carinhoso com a senhora...
Que carinho nada! Não tinha carinho nenhum! [Contrariada.] Ele nunca me beijou.

Tpm. A senhora já foi traída pelo seu marido?
Aaaaave-maria... Eu não sei como ainda tenho cabelo, viu? Neném, primeira amiga de Sila no cangaço (a terceira da direita para a esquerda)


 O cangaceiro Zé Sereno, marido de Sila, pouco antes de morrer, em 1981 
- nessa época era inspetor de alunos em uma escola municipal em São Paulo.

Estilo CANGAÇO
Mesmo sem nenhuma ideia do que viria a ser o mundo fashion de hoje, as cangaceiras tinham estilo e lançaram tendência - a coleção outono/inverno 2001 da marca Forum, por exemplo, é inspirada nas vestimentas do cangaço. Elas adoravam cores fortes, todas misturadas. Laranja com azul, verde com vermelho, amarelo com azul, enfim, quanto mais chamativo melhor. Tudo isso bordado ou costurado nos bornais, chapéus e cantis. 
 Os desenhos podiam ser de formas geométricas ou flores. As roupas eram simples. Confeccionadas em gabardine ou mescla - tecidos grossos que resistiam aos espinhos do mato -, os vestidos eram retos, feitos em azul ou cinza.  
 Caía bem uma ou outra costura com linhas brilhosas nos bolsos e lapelas. Bem diferente daquele cáqui e marrom que imaginamos. Aliás, Dadá, que era quem inventava os bordados mais bacanas, chegou a contar que o marrom só era vestido pela polícia.

 Dadá, "estilista" do cangaço (1972) 

Matéria completa Revista TPM

Cangaço nas telonas

A história de Poço Redondo no próximo filme de Hermano Penna 

Por Rangel Alves da Costa*


O cineasta paulista Hermano Penna ao longo dos anos vem demonstrando que tem uma afeição especial pelo estado de Sergipe, principalmente pelo município sertanejo de Poço Redondo, onde já filmou o cinedocumentário "A Mulher no Cangaço", para o Globo Repórter, e o premiado filme "Sargento Getúlio".
Diante dessa estreita ligação com o distante e sofrido município do alto sertão, o seu próximo filme, "Aos ventos que virão", já em fase de filmagens, terá por cenário as caatingas áridas e as ruas silenciosas (infelizmente esburacadas e feias) de Poço Redondo.

Contudo, nesse novo filme de Hermano Penna, Poço Redondo não será apenas cenário para uma história fictícia, pois será retratado no contexto de sua própria história, vez que o protagonista do filme será um sertanejo lutador, ex-cangaceiro e político, vítima das forças do destino e das perseguições das forças políticas de então.

No filme, o seu nome é José Olímpio de Brito, ou Zé Olímpio, mas na verdade se trata do famoso José Francisco do Nascimento, ou Zé de Julião, cuja história enche de orgulho os sertanejos de Poço Redondo e região.

Hermano Penna passou a conhecer a história de Zé de Julião através do seu grande amigo Alcino Alves Costa, com quem mantém fortes laços de amizade desde os idos de outras filmagens e outras visitas ao município. Por assim dizer, o enredo do filme foi proporcionado por Alcino, enquanto Penna adicionou à trama alguns elementos novos.

Mas que foi esse tal de Zé de Julião, agora resgatado na história e tendo parte de sua vida contada pela filmografia brasileira?

É possível afirmar que Zé de Julião foi um sertanejo que teve muitas vidas numa vida curta. Nasceu José Francisco do Nascimento e se transformou em Zé de Julião na sua comunidade, e em Cajazeira quando entrou para o bando de Lampião. Talvez ainda lhe coubesse outros nomes: amigo de todos, inimigo de muitos, vitorioso e perdedor.

Segundo registra os alfarrábios da história, Zé de Julião, mesmo nascido num Poço Redondo de comprovada pobreza desde os tempos mais antigos, era de família abastada. Seus pais, Julião do Nascimento e Constança do Nascimento eram donos de muitas propriedades. Contudo, naquela época imperava pelo sertão o cangaço e a volante no seu encalço. Aqueles que tinham dinheiro e propriedades eram alvos fáceis das inúmeras chantagens perpetradas pelos dois lados, principalmente do lado dos policiais.

E foi pela revolta criada com as arbitrariedades da polícia e uma desavença que tivera com um policial, que Zé de Julião, ainda rapazinho, resolveu entrar para o bando do capitão Virgulino, levando consigo sua amada esposa Enedina.

Acompanhou os passos de Lampião até o dia de sua morte, naquela distante manhã de 28 de julho de 1938, na Gruta do Angico, nas beiradas do Velho Chico, em Poço Redondo. Dentre os onze mortos estava sua querida Enedina.

A partir de então passou a ter uma vida de fugas, perseguições e reencontros. Quando pensou ter encontrado instantes de paz no seu lugarejo se volta para a política e daí em diante o seu destino parece retomar o ponto de partida, de combates e sofrimentos. Foi candidato a prefeito de Poço Redondo assim que houve a sua emancipação.

Nessa eleição de 1954, disputou com Artur Moreira de Sá e perdeu o pleito pelo fator idade: a eleição terminou empatada, com 134 votos para cada um. Então a vitória ficou com o candidato mais velho, que era Artur.

Mesmo sendo perseguido pelas maiores forças políticas do estado, preparou-se para disputar o pleito seguinte. Com efeito, teve como oponentes Eliezer Joaquim de Santana e todas as manobras da justiça eleitoral de então. Revoltado, no dia da eleição, juntamente com alguns amigos montados em cavalos, roubaram e queimaram urnas e espalharam o terror no município.

Recomeçaram as perseguições e teve que fugir. Quando todos achavam que retornaria ao município para continuar sua luta foi encontrado morto, com o corpo crivado de balas, no dia 19 de fevereiro de 1961, dentro das terras do seu amado Poço Redondo.

Tal história ganhou novos contornos no enredo do filme, até mesmo para não reacender desavenças familiares ainda existentes. Porém a história é a mesma, a saga mostrada não é outra senão a de Zé de Julião, e o cenário inconfundível não é outro senão o de Poço Redondo.

Eis a sinopse de "Os ventos que virão", segundo a captadora de recursos audiovisuais Sagres:

"Um homem cambaleia na caatinga agreste. Ele é o cangaceiro Seriema. É José Olímpio de Brito. É Zé Olímpio. A batalha com a volante foi terrível. Ele está desgarrado de seu bando e muito ferido. Perde as últimas forças, rola no chão e ai fica. É salvo da morte certa por um bando de mulheres que passa ao acaso, em uma espécie de procissão. O cortejo segue, agora com o semi morto, e desaparece na galharia da caatinga.

Sobre a imagem de uma pequena cidade do sertão sergipano, um letreiro indica o ano e o tempo que passou: 1958- 20 ANOS DEPOIS.

No palanque Zé Olímpio presta contas à sua gente. Ele é candidato a prefeito na sua cidade, Raso Grande. O dia da eleição está próximo e nem tudo corre bem. Os títulos eleitorais dos partidários de Zé não são deferidos pelo juiz, em Aracaju. O partido de Zé é oposição ao governo estadual.

O tempo passa e nada dos títulos. Todas as tentativas legais de consegui-los fracassam. Zé e amigos sentem a eleição certa escapar-lhes das mãos. Nos dias imediatos à eleição, Zé vê crescer na alma a revolta e o desejo de responder à injustiça de que são vítimas, ele e sua gente.

O cangaço e suas formas de ação, a força das armas, explodem na sua mente como a única maneira de responder aos fatos. Fala de sua vontade aos amigos. Alguns reagem. Tentam mostrar-lhe que a violência não resolverá nada. Que o cangaço morreu com Lampião. Aliás, o cangaço só lhe trouxe sofrimento e humilhação. São dias de dúvidas, angústia, lembranças. Zé decide, contrário aos amigos, e põe o seu plano em ação. No dia da eleição, a frente de dezenas de cavaleiros, invade Raso Grande, rouba e queima as urnas eleitorais.
A repressão não tarda e é violenta. A ferocidade da polícia do estado é exercida sem freios.

Zé Olímpio foge e se esconde na Serra Negra, lendária serra que divide os estados de Sergipe e Bahia. O local exato do seu esconderijo só é conhecido pelo fiel amigo Nêgo de Rosa. Zé traz para a Serra sua jovem amante, Dalvina. Na serra vivem a constante tensão de procurados, até o dia em que são localizados e Zé é levado preso.

Em Aracaju, encontra no presídio alguns dos amigos de Raso Grande. Com eles, espera o processo judicial. E com eles acompanha, em vivas conversas, o momento do país: a era JK. Acompanha nas revistas e num rádio Espeeker, pequeno rádio portátil, a euforia daquele momento tão importante da história brasileira. A rápida aceleração industrial. O início da indústria automobilística. A construção de Brasília. Zé se interessa e conversa muito sobre Brasília. Passa horas vendo as fotos da construção da cidade nas revistas ilustradas.
O processo político de conciliação nacional empreendido pelo Presidente Juscelino acaba por chegar em Sergipe, e Zé Olimpio e companheiros são libertados.

Zé volta para a pequena vila de Serra Negra. A inauguração de Brasília está próxima. E Zé aproveita o dia da grande festa no Planalto Central para também comemorar sua volta à liberdade. Duas festas e um só momento cinematográfico. Na distante Serra Negra, nos fins dos sertões sergipanos, alguém escuta no rádio e participa da alegria da grande festa do Planalto Central

Os dias deveriam voltar à rotina. Mas, enquanto nacionalmente o governo federal tenta levar a paz política a todo país, localmente as escaramuças persistem. A perseguição aos correligionários de Zé é constante e muitas vezes marcada pela violência. Nesse contexto chega de Raso Grande a notícia de que tinha sido assassinado Nêgo de Rosa, o grande amigo. A revolta em Serra Negra é geral. Todos pedem vingança.

Cobram de Zé Olímpio uma resposta de sangue. A compreensão de Zé, agora, é outra. Para ele vingança é sangue cobrando sangue. E comunica a todos que irá para Brasília. Lá, iria denunciar no Congresso Nacional os crimes, atrocidades e as perseguições praticados pelos inimigos. Em Aracaju Zé toma o avião. Em Salvador, escala técnica, no aeroporto é preso e conduzido até um carro que parte veloz. Alguns dias depois seu corpo, crivado de balas, é encontrado próximo à vila de Serra Negra.

Imagens de Brasília, Praça dos Três poderes, Congresso, Esplanada, encobertas pela névoa seca, sugerem uma cidade distante, ainda inatingível. Sobre as últimas imagens o letreiro: AOS VENTOS QUE VIRÃO".

Como visto, qualquer semelhança não será nenhuma mera coincidência.


Rangel é Poeta e cronista
rangel_adv1@hotmail.com
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