domingo, 15 de agosto de 2010

Resenhas

Lampeão, de Optato Gueiros 

Por: Kiko Monteiro


Transcrevo neste artigo alguns trechos da obra literária do major Optato Gueiros, em seu "Lampeão: Memórias de um Oficial ex-comandante de Forças Volantes, 2ª edição, Recife, 1953.

O livro apresenta todas as impressões deste oficial que esteve no campo de batalha.

Como toda obra faz observações interessantes, duvidosas, errôneas e pertinentes. Apesar de algumas barbeiragens e adjetivos curiosos a cada capítulo a obra é referencial em muitas outras. O certo é que Optato traçou um perfil do rei do cangaço que inspirou muitos pesquisadores. Não tenho informação se há uma terceira edição e se esta foi editada.

É um livro facilmente encontrado nos catálogos dos Sebos virtuais. Dedico este artigo ao amigo paraense Geziel Moura que me presenteou com um exemplar do mesmo.


"Foi na Bahia que Lampeão encontrou Maria Bonita, por quem se apaixonou por todas vísceras do seu coração. Houve alguns filhos desta união que foram dados a sertanejos para os criar..."

 A obra como citada é de 1953 e realmente na década de 90 surgiu o primeiro suposto filho do casal. E recentemente mais um herdeiro. Nestes dois casos a ciência através de exames de DNA não comprovou essa tal paternidade.
"O ultimo dos irmãos do famoso cangaceiro, Ezequiel, foi ferido gravemente em encontro com a Polícia baiana, conduziram-no os companheiros duas léguas, ao chegarem nas proximidades da fazenda Arrasta-pé, disse Lampeão: Este homem não escapa. E sacando sua parabelum da cintura atirou na cabeça do mano".  Ambos os trechos (Pág. 12).
Optato ou neste caso a testemunha ocular que passou esta informação transformou a morte de Ezequiel em escândalo para os que achavam "o mano" incapaz de qualquer ato violento contra os seus. Esse fato rendeu e ainda hoje é mistério para alguns. Dizem que ele apareceu vivo anos mais tarde e visitou parentes em Serra Talhada, tese combatida com propriedade por grandes escritores como o saudoso cearense Hilário Lucetti.
 "Em meados do o ano de 1900, na Fazenda Ingazeira, na Serra Vermelha, do município de Vila Bela veio ao mundo o garoto Virgulino" (Pág. 15).
Como já tratado por aqui em outro artigo existem três datas (anos) diferentes para o nascimento: 1897, 1898 e 1900. 1899 nunca foi sugerido?
 "António Ferreira (após o combate da Serra Grande) ficou baleado e faleceu no Poço do Ferro onde foi sepultado. (Pág 97.)
A batalha de Serra Grande ocorreu em Novembro de 1926. António Ferreira morreu em Janeiro de 1927 vítima de um "sucesso" acidente na linguagem da época, por seu amigo Luís Pedro em uma brincadeira, precisamente disputa por uma rede, o fuzil foi detonado ao bater no solo. O fato ocorre longe da região assinalada.

Pontos interessantes:
“É impossível que haja noutro ambiente mais honestidade nos grandes ou pequenos negócios, como tive a oportunidade de testemunhar muitas e muitas vezes entre eles”. (Pág. 138).
“Chegou o dedo inexorável da justiça divina. Nesse dia, qualquer tropa aniquilaria Lampeão porque não há mal que sempre dure”. (Pág. 158).
Lampeão que foi sem duvida uma providência divina para a destruição do mal com o mesmo mal atraiu a si todo o elemento deletério todos os cangaceiros mansos fruto da vaidade, desordem e impunidade dos grandes. Como o imã atrai o aço assim foram todos atraídos por Lampeão em cuja companhia encontraram o extermínio. (Pág. 162).
“O seu fantasma estava presente em toda parte (Pág. 9).
 Centenas de facínoras foram expulsos da terra natal por Lampeão”, (Pág. 11).
Na Bahia conquistou Virgulino quase todos os habitantes das caatingas, tratando-os com extrema bondade e esbanjando prodigamente o dinheiro de que se apossara. Um ano inteiro não se teve noticia de qualquer depredação levada a efeito pelos cangaceiros naquele estado. Tornou-se Lampião para aquela gente no que fora o padre Cícero no Juazeiro para seus crentes. O seu nome sinistro não foi mais pronunciado agora era conhecido por – “o homem”. (Pág. 11).
“Dos elementos que se exauriram em volantes por longos anos são poucos os que ainda existem. O primeiro órgão que fica logo afetado é o estômago em virtude da má alimentação e da péssima água muitas vezes extraída dos crauatás juntamente com baratas, lacraias e outros insetos”. (Pág 131). 

Contabilidade do mal

Muitos costumam perguntar se existe um número exato das baixas provocadas por Lampião entre civis e militares. Optato  arriscou um palpite, disse ele:
Foram presos e mortos mais de *600 comparsas do célebre bandido baseando-nos ainda numa estatística organizada por Teófanes Torres Ferraz. Dessa época para o fim da campanha em *1939 foram mais de *200 que tiveram a mesma sorte. (Pág 31).
*1939? ele queria se referir a 1940 ano da morte de Corisco. 800 cabras mortos? é muito cangaceiro!, já não era mais um bando era uma grande "corporação" como diria a avó de meu amigo Narciso: uma indústria de malfasejo (Risos).
“O rei do cangaço matou 1000; incendiou umas 500 propriedades; abateu 5000 rezes; violentou mais de 200 mulheres e tomou parte em mais de 200 combates sendo ferido seis vezes em Pernambuco.  (Pág 11).
Erra ao afirmar que “todos estes foram em seu estado natal” omitiu ou esqueceu Pinhão aqui em Sergipe.
Não existiam coiteiros na proporção que muitos apregoavam, estes eram em número resumido”. (Pág 33). 
A proporção não é apresentada em números. A julgar pela data em que publicou sua pesquisa e vivencia, os estudiosos que vieram depois descobriram muitos outros agentes do rei do cangaço. Estes se mantiveram no anonimato tal qual os ex cangaceiros. 

 “Gomes, Jurubeba, Ferraz e Nogueira fundiram-se de tal maneira que são hoje uma só família”. (Pág 37). 
Isso é realidade, não é regra, mas uniões conjugais ocorrem até os dias de hoje, tenho orgulho em dispor da amizade de um casal desta fusão.

O ultimo capitulo deste livro é dedicado a publicação de diversas respostas, réplicas, tréplicas todas contendo trocas de acusações entre ele e o colega de farda Tenente Coronel Muniz de Farias

Por falar em colegas este trecho que não está na citada obra também merece destaque:
"O Coronel João Nunes comandou a Força Pública do Estado de Pernambuco no período de 1922 a 1927. A sua atuação foi tão desastrada, incompetente e violenta que o seu colega de farda, o Coronel Optato Gueiros não hesita em afirmar que, além de ter cometido vários desatinos no comando da Força Militar, ele também foi culpado de que a Polícia de Pernambuco, tivesse adquirido “fama de perversidade “. O incêndio da vila de São Francisco, o fuzilamento de prisioneiros doentes da Coluna Prestes e sua derrota e fuga desastrada em Umburanas diante dos revoltosos de Prestes, são os fatos mais conhecidos do seu currículo militar, além de ter sido aprisionado por Lampião, em 1930". 

(Trecho extraído da tese: Luta e Resistência Jovenildo Pinheiro de Souza)
  

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