terça-feira, 20 de abril de 2010

Coronel Manoel Benício

Notas sobre um comandante paraibano de forças volantes

Por: José Romero Araújo Cardoso
 

cel. Manoel Benício, está sentado da esquerda para direita
Em uma época marcada pela violência e ousadia, Manoel Benício encarnou de forma extraordinária a valentia, a astúcia e a sagacidade a fim de enfrentar provas de fogo inauditas pelos ermos distantes das quebradas do sertão.
As táticas cangaceiras eram tão complexas que somente alguém com o mesmo sangue frio dos bandoleiros poderia alcançar sucessos quando das diligências para fazer valer a lei e a ordem em uma terra marcada pela absoluta ausência de amor ao próximo.

Manoel Benício sintetizou tudo isso, pois com coragem extrema alcançou seus objetivos militares em diversos momentos históricos que marcaram o sertão paraibano. Em 1912, quando da campanha política que envolveu Rêgo Barros e Castro Pinto, através da mazorca promovida pelos chefes políticos de Alagoa do Monteiro, representado pelo Dr. Augusto Santa Cruz, e de Teixeira, com o Dr. Franklin Dantas, pai do bacharel João Duarte Dantas, assassino do Presidente João Pessoa em julho de 1930, Manoel Benício conseguiu ludibriar um piquete formado por jagunços dos caudilhos, matando sete inimigos, de uma forma que apenas quem tinha profunda insensibilidade poderia conseguir, pois uma das características do Coronel Manuel Benício era justamente total apatia à vida e à morte.

O comandante paraibano de forças volantes guardou até a morte um rosário de orelhas dos cangaceiros mortos em combate. Cada membro tinha precisa identificação, pois dotado de memória prodigiosa Manoel Benício sabia a quem pertencia e em qual combate conseguiu matar determinado bandoleiro, cuja “lembrança” era mantida como troféu de guerra.

Exemplo de como Manoel Benício era frio e calculista encontramos na história de uma perseguição a cangaceiro no vale do Piancó. Altas horas da madrugada, Manoel Benício teve um encontro inesperado com o bandido que perseguia. Era questão de milésimo de segundos para decidir a sorte. Gritando bem alto que não atirassem pelas costas no homem à sua frente, sem ninguém na retaguarda, o valente militar conseguiu a distração necessária do inimigo para abatê-lo com certeiro tiro.

Em boa parte da história da Polícia Militar do Estado da Paraíba no século XX encontra-se a constante presença de Manuel Benício. Não obstante a amizade com Francisco Pereira Dantas, foi Manoel Benício quem comandou a tentativa de captura do cangaceiro paraibano no sítio Pau ferrado, na época pertencente ao município de Pombal (PB). No tiroteio do sítio Tataíra, entre Princesa (PB) e Triunfo (PE), quando o cangaceiro Meia-Noite foi cercado, tendo se imortalizou nas crônicas cangaceiras, também foi Manoel Benício quem comandou a diligências, auxiliado pela tropa de “cachimbos” contratada pelo “Coronel” José Pereira Lima.

Em Princesa (PB), quando da deflagração da guerra civil em 1930, contra o governo de João Pessoa, Manoel Benício se destacou como bravo combatente, tendo participado de combates importantes, a exemplo de Tavares (PB), quando a tropa comandada pelo Capitão João Costa ficou literalmente sitiada durante os seis meses de luta, comendo “pipoca e pipoco”.

Atendendo os requisitos necessários exigidos por sua época, ou seja, matar o maior número possível de adversários, Manoel Benício chegou ao coronelato na Polícia Militar Paraibana, destacando-se entre bravos que enfrentaram verdadeiras feras, bandoleiros e insurrectos que, ao lado dos volantes, protagonizaram façanhas impressionantes que marcaram uma época atribulada no sertão nordestino.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor da UERN.

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OBS: A FOTO do Manuel Benício, postada acima, foi acrescentada por nós no sentido de enriquecê-la.
 

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