quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Silvino

Um cangaceiro na detenção: Representações da imprensa recifense (1914-1937) 

por Rômulo José Francisco de Oliveira Júnior

RESUMO: Antônio Silvino foi um cangaceiro que marcou presença no Nordeste brasileiro, consolidando seu nome entre sertanejos e citadinos. No período compreendido entre 1914 a 1937, Silvino viveu na Casa de Detenção do Recife e sua vida foi bastante noticiada pelos principais jornais pernambucanos. Partindo do conceito de Representação proposto por Roger Chartier, este trabalho tem por objetivo analisar como a imprensa representou a vida cotidiana desse cangaceiro. O cotidiano construído pelos textos jornalísticos expressa a importância de Antonio Silvino para a sociedade citadina, a ponto de percebemos aspetos culturais, influências de familiares e a rotina deste indivíduo dentro da
cadeia recifense.

A História Cultural entendida nos dia de hoje, insere os historiadores na utilização de variadas fontes e permite que múltiplos olhares sejam destinados aos objetos que são propostos para estudo, além de incitar a busca de métodos e referenciais teóricos nas outras ciências sociais, tais como a antropologia, a filosofia, a sociologia, etc.

1 Mestrando do Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura Regional – UFRPE. Integrante
do GEHISC/CNPq. Bolsista FACEPE. E-mail: romulojunior@oi.com.br
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
Sandra Pesavento na apresentação do Dossiê História Cultural e
Multidisciplinaridade, explica que:

[...] a abertura multidisciplinar não implica em perda de identidade ou
de formação específica. Pelo contrário, a multidisciplinaridade,
enquanto atitude intelectual, implica em soma, em acréscimo de
experiências e de conhecimentos, em abertura do olhar e em
ampliação das capacidades de interpretação da realidade.2


Tendo em vista a dinâmica da multidiciplinaridade, pretendo neste trabalho abordar a relação história e imprensa, dando contribuições para a historiografia do Cangaço. Para tanto, realizo uma análise das representações que foram dispensadas pela imprensa recifense para o cangaceiro Antonio Silvino, nos anos em que viveu na Casa de Detenção do Recife (1914-1937).

A historiadora Ângela Grillo, em sua tese de doutorado aponta que na História do Cangaço, Antonio Silvino e Lampião foram os principais expoentes desse movimento e que são apresentados de formas diferentes. O primeiro romantizado e o segundo como o típico facínora. Além dessas imagens outras foram construídas a partir dos discursos apresentados na literatura de cordel, eixo de análise de sua tese, para os cangaceiros.3

Essa autora, direcionou-me para pensar a possibilidade de investigar outras fontes históricas e perceber imagens do cangaceiro Antonio Silvino, para além da historiografia e dos cordéis. A escolha por Silvino, deu-se por ser o Cangaço remetido automaticamente a imagem de Lampião, sendo Silvino e os demais cangaceiros pouco visitados pela produção dos historiadores.

É importante dialogar com os conceitos teóricos, para que o texto não seja uma simples narração e descrição de fatos. Assim, utilizo o conceito de representação de Roger Chartier, uma vez que as imagens de Silvino eram colocadas nos jornais, textos eram escritos analisando os feitos do cangaceiro, como forma de mostrar uma realidade vivida pelo povo do sertão, a opressão sofrida por parte dos cangaceiros e também dos coronéis. Mas também é notório que a imprensa descrevia as ações de Silvino com o intuito de expor as práticas sociais e culturais por ele realizadas.

Desse modo, analisar as representações dadas a Silvino pela imprensa são significativas para saber que o discurso jornalístico não era imparcial, pois como também afirma este autor, os discursos proferidos não são neutros, principalmente se as representações indicadas por eles, forem direcionadas por interesses de grupos que as forjam.4

Penso que trabalhar com periódicos é antes de tudo perceber e estar alerta para as intencionalidades presentes nos discursos construídos por cada jornal recifense. Outro autor que defende o conceito de representação é Carlo Ginzburg, no seu livro Olhos de madeira. Este autor analisa as representações de manequins postos nos funerais, como forma de simbolizar o ausente, rei já falecido.5

Essa perspectiva é importante para este trabalho, uma vez que analiso como a imprensa representava um indivíduo que estava ausente do convívio da sociedade citadina, pois atuava nos sertões e depois foi encarcerado, e como ela fora responsável por atribuir através dos jornais a imagem de homem criminoso e símbolo do Cangaço, movimento que não era visto com bons olhos pela sociedade recifense.

Para Chatier uma realidade social é construída, pensada e dada a ler de várias formas, logo as representações que a historiografia teceu para o cangaceiro não são verdade únicas, fechadas e lineares, pois outras fontes podem dar a pensar, ler e ver formar diferentes para as ações deste indivíduo no tempo do cárcere. Neste estudo, a Imprensa é uma fonte que, conforme será visto, concatena e ao mesmo tempo diverge
da historiografia. Foram consultados os jornais de maior circulação do período, entre eles: Jornal
Pequeno, Diário de Pernambuco, Jornal do Recife e Correio do Recife de modo a perceber se existiam vínculos e variações entre os textos produzidos por cada periódico e o resultado obtido apresento neste trabalho.

Antes de iniciar uma análise das representações dadas pela Imprensa a Antonio Silvino, quero deixar explícito que não pretendo tecer a biografia de um cangaceiro-prisioneiro, pois, como bem alerta Robert Darnton 6, tecer a biografia seria apontar verdades e mentiras relatadas sobre a vida de um indivíduo, e assim caberia a mim, o que este autor chama de “brincar de ser Deus”, dando vida e morte ao cangaceiro. Não obstante, ao apresentar uma análise das representações presentes nos discursos dos jornais e da Historiografia dou visibilidade a uma das possibilidades de perceber como Silvino também foi importante para compreender um fenômeno social e cultural da época, O Cangaço.

Conforme a historiografia, Manoel Batista de Moraes, o Antonio Silvino, vivenciou realidades díspares, desde a “liberdade seca” 7 do sertão até o encarceramento na Casa de Detenção do Recife. Silvino tornou-se cangaceiro, como muitos outros que vivendo a ausência de justiça no sertão, teve seus pais mortos. Em 1900 ele assumiu a liderança do bando do cangaceiro Silvino Aires, que morrera em combate com a polícia. Antonio Silvino fez de sua vida, práticas criminosas e auxiliador dos necessitados, foi por muitos sertanejos louvado e por outros odiado.

Na vida do banditismo social, este cangaceiro seguiu impune e fazendo justiça conforme as leis do sertão8. Em 1914, Silvino é capturado pela volante do Alferes Theófhanes Ferraz Torres, no município de Taquaretinga, interior do Estado de Pernambuco. Gravemente ferido, foi conduzido para a cidade do Recife.
Conforme nota publicada pelo Jornal Pequeno , a prisão de Silvino é explicitada como a salvação do povo sertanejo, que era constantemente assolado pela ações criminosas e um alívio para o trabalho da polícia:
Antonio Silvino foi preso! Este famanaz bandido, que todo o sertão deste e dos visinhos Estados temia, como um flagello, uma peste, um terror, que completou o catálogo dos crimes e das depredações e cujo nome creou uma lenda de pavor como um rocambole dos campos, um Cabelleira ressuscitado, acaba de cahir nas mãos da policia. E esta prisão é um alívio, um benefício. o término de um negro pesadelo que cahia sobre o sertanejo, na visão dolorosa da desgarantia da propriedade e dos bens que a rude labuta e o espírito de economia amassaram. Há mais de 18 annos que das histórias dos assaltos e dos assassinatos, dos roubos e das atrocidades o seu nome ressalta n’uma evidencia trágica. E o bandoleiro, de terra em terra, ia deixando um rastro sinistro de víctimas suas e do seu infame grupo, todo elle composto de assassinos e ladrões de perversidade notória. Antonio Silvino era uma preocupação constante e horrível da polícia. 9

A representação dada pelo Jornal Pequeno corrobora com o discurso historiográfico de que as práticas dos cangaceiros eram facinorosas e que o Cangaço fora um movimento social, que apesar de combater as opressões coronelística e dar auxílio a muitos pobres, foi algo que em muito desestruturou o sertão nordestino10.

Uma grande parte das matérias que foram publicadas neste período concatenam com o discurso de ser o Cangaço um símbolo de atraso social e movimento de criminalidade. As notícias sobre o cangaceiro, se intensificaram quando ele foi destinado a cumprir pena na Casa de Detenção, dias depois de sua prisão. Vale salientar, que neste momentos surge a dinâmica da imprensa de publicar textos sensacionalistas e que
atingiam grande repercussão na sociedade letrada. Quem bem confirma essa afirmação é Fernando Moraes ao discorrer a biografia de Chatô:

A moda na imprensa brasileira na virada do século não era a noticia, mas a polêmica. Jornalista que decidisse fazer carreira como grande editor ou como repórter de talento estava condenado a desaparecer sob a poeira da obscuridade. Quem tivesse planos de brilhar, que preparasse a pena e arranjasse alguém para combater. A polêmica era o palco ideal para o exercício da elegância, da erudição e, quase
sempre, da ferocidade no ataque.11

Portanto não podemos perder de vista o que Chartier nos alerta da impossibilidade de neutralidade nos discursos proferidos, pois os jornalistas e editores em busca de renome e visando a vendagem de exemplares, articularam diversas notícias polemizando a prisão e vivência de Silvino e o representando das mais diversas formas, seja herói, ou bandido.

Informam os jornais de 2 de dezembro de 1914:
Na enfermaria daquele estabelecimento procederam os três facultativos a minucioso exame no célebre bandoleiro Antonio Silvino. O criminoso acha-se irrequieto, numa grande excitação nervosa. Foram-lhe aplicadas seis ventosas secas, sendo quatro anterior e duas posteriormente, sobre o hemitorax direito. Depois da aplicação das ventosas, o enfermo ficou mais calmo e respirando melhor. Após, foram-lhe dadas injeções de óleo canforado e estriquinina. Quando o dr. Vieira da Cunha falou em estriquinina, Antonio Silvino protestou:
- Estriquinina mata. Doutor! Objetado pelo dr. Vieira da Cunha que não era para matar e sim par lhe dar vida, o prisioneiro sujeitou-se docilmente à aplicação da injeção.12
Neste excerto temos a figura de Silvino entrando em confronto com a imagem que a historiografia tradicional atribuiu ao cangaceiro, homem forte corajoso, que suporta dores. Aqui têm-se um Silvino medroso, um homem que sujeita-se a ações dóceis para não morrer. Sabe-se que os cangaceiros eram homens vaidoso e cuidavam-se com o trajar, as experiências de Benjamim no bando de Lampião apontam muito bem essa imagem.

Outros cangaceiros também tiveram essa preocupação. Antonio Silvino além de preocupar-se em vestir-se bem e impor respeito quando estava no sertão, manteve essa preocupação durante a sua longa estadia na Detenção. É o que nota-se adiante:
Antonio Silvino na Detenção: A expiação de um bandido
De elegante a poeta Há poucos annos a vida desse bandido corria conforme a sua vontade.
Recolhido à Casa de Detenção, Antonio Silvino ainda julgava que o seu poderio.dos sertões estava àquelle estabelecimento onde entendia dever gosar de grandes regallias. Queria affontar cynicamente à sociedade. mandou fazer roupas finas, comprar essências, etc. apoderando-se-lhe a mania de dor elegante. Senhor absoluto dos sertões de três Estados, Antonio Silvino era um deste poderoso e intangível: saqueava cidades, incendiava povoados, roubava e matava sem que sofresse a menor contrariedade os seus desejos de criminoso tarado, do bandido covarde e imbecil
O fato de ser detendo não mudou o cuidado que sempre manteve desde a época de suas andanças pela caatinga, onde estava bem vestido e elegante. Vivendo na Detenção, dentro do núcleo urbano, Silvino agora passa a vestir-se como os citadinos, paletó, lenço e postura de elegante, apresentando uma imagem que
diverge da que lhe fora associada, homem rústico e ignorante.
Antonio Silvino anda diariamente penteado, o que lhe merece especial cuidado, e traz sempre um lenço de seda a cahir do bolso do paletot, como é de usos presentemente. É a mania de parecer elegante que o persegue agora, com um ridículo que a sua grande ignorância não alcança.13
A historiografia aponta Antonio Silvino como homem oriundo de família de poses, porém não dedicou-se aos estudos, era tido por analfabeto. Em contrapartida ao que é apresentado pela historiografia, em especial, no livro: Antonio Silvino O capitão de Trabuco, da autoria de Mario Souto Maior, o discurso jornalístico aponta que no tempo em que esteve na cadeia, ele ocupara-se em escrever, mostrando assim, aquisição
de novos hábitos, que não eram do eu antigo espírito criminoso.
Como não tenha o que se ocupar, Antonio Silvino alimenta agora a mais inofensiva: fazer versos. Seismou que, dentro do seu corpo de bandido, está uma alma de poeta, e haja versos a torto e a direita. não se sorprehenda o público se d’aqui a menos, um livro de versos será talvez o seu maior crime. Pobres lettras pátrias! Já não bastam os desassocegos que as trazem os fatos inoffensivos. até Antonio Silvino apparece agora com a sua inspiração e os seus versos.14
Como indivíduo que estava marginalizado e ausente da circulação social, a imprensa passou a atribuir inúmeras discussões sobre Silvino, representando-o como indivíduo que vive a gozar das regalias do Estado e ainda ofende a nossa arte literária. O que leva a crer que, Silvino era algo que incomodava a sociedade, mesmo aprisionado. O pensamento eugênico presente nos textos dos jornais, estava sempre em foco, como forma de conceber a associação entre o Cangaço e a criminalidade desses indivíduos. Preso e longe da possibilidade de fugir, o discurso da imprensa colocava Silvino como cangaceiro indomável, homem que jamais perderia suas raízes de rusticidade e seu espírito de justiça a ser feita pelas próprias mãos. Enfatizando assim o discurso eugênico e de combate ao Cangaço.15

A matéria que segue do Jornal Pequeno apresenta bem essa ótica:
NA DETENÇÃO:  
Antonio Silvino tenta matar-se. “Como pretendem fuzilá-lo”, diz elle quer morrer logo por suas próprias mãos. Antonio Silvino, que não passa de um criminoso vulgar, ignorante, perverso e pretencioso, entendia que a Casa de Detenção era um alargamento dos nossos longínquos sertões onde ele campeava desassombradamente. Impondo a sua vontade e fazendo-se temido e respeitado.
Diariamente vivia elle ali a fazer exigências as mais absurdas, a gritar sempre, tratando mal a todos, com uma arrogância insupportável. Queria ser um rei pequeno naquelle vasto casarão, tendo os seuscaprichos satisfeitos a tempo e a hora. Vasto casarão, tendo os seus caprichos satisfeitos a tempo e a hora.
Hotem, amanheceu elle excessivamente aborrecido, com uma cara de metter medo.
Ao lhe ser entregue a bóia.Como não visse Antonio Silvino, finos acepipes, saborosas iguarias, revoltou-se e entrou a falar e a gesticular desordenadamente. Mais tarde, sabedor do ocorrido, o coronel Américo Pereira
administrador daquelle estabelecimento, mandou chamar a sua presença Antonio Silvino e reprehendeu-o severamente, ameaçando-o de castigo com rigor, Até si continuasse elle com similhante procedimento, querendo implantar ali a anarchia. Fez ver que elle era um criminoso como qualquer outro e que ali não gosava de regalias, tendo direitos e obrigações iguais as dos seus companheiros.
Precisava acabar com o engano que alimentava de estar ali como em sua própria casa. Ou se entenderia, ou seria castigado rigorosamente.
O bandido que ouvia tudo cabisbaixo respondeu então:
-- É melhor que o Sr. Administrador me mande logo fuzilar. 
poderou-lhe o coronel Américo que isso não, podia fazer, porquanto seria praticar um crime.
A promessa de castigá-lo, porém, cumpriria na primeira ocasião em que elle procedesse mal.
Retirou-se Silvino visivelmente mal humorado.Chegando a enfermaria dirigiu-se a banca do médico e lá encontrou uma tesoura e uma rapadeira com pequena lámina. Sem que fosse presentido, guardou elle a raspadeira e, mais adiante, empunhado-a, depois de alegar para seus companheiros que “Como pretendiam fuzilá-lo, ia morrer logo por suas próprias mãos”. Fez três ferimentos no seu corpo, sendo um no pescoço, outro sobre o vão esquerdo e o último sobre o peito direito. Acorrendo os guardas com o alarme dado, foi Silvino desarmado e, a custo, levado para uma cella.16
Além da imagem de homem eugênico, nota-se como Silvino foi centro de atenções na Detenção e motivo de inspiração de páginas de jornais recifenses. Após o ano de 1916 poucas foram as matérias dispensadas a Antonio Silvino, vale ressaltar que, nos sertões um novo cangaceiro começara a ter importância: Sinhô
Pereira, e posterior ao ano de 192 com Lampião.

Só no ano de 1937 começam os rumores da liberdade de Silvino, e algumas notas policiais relatando o fluxo da Criminosos da Detenção, entre eles Silvino, apresentado como um homem regenerado e apto ao convívio social. Esse homem que vivera 23 anos no cárcere, ao sair em março de 1937, é percebido nos jornais como religioso, letrado, elegante e que passara circular os espaços que era freqüente ver os intelectuais da cidade do Recife, como Café Lafayette e Jornal Pequeno, além de um indivíduo que tecera considerações sobre o Cangaço, a Justiça, e sobre modernidade e urbanização da cidade.

Para este cangaceiro a modernidade e o impacto urbanístico do Recife no final da década de trinta, repleta de bondes, iluminação elétrica, automóveis, etc era algo atordoante e que era preferível viver sob as condições de cárcere do que conviver com o atordoado barulho da cidade.

É o que confirma, por exemplo, um título de matéria do Jornal Pequeno:
Segundo os jornais, que neste momento dedicavam páginas aos feitos de Lampião, Antonio Silvino era o reflexo de que a ressocialização e a correção das ações criminosas era possível.

Os anos pós-liberdade de Silvino foram de trabalho no serviço público e convívio familiar, no qual veio a falecer no município de Campina Grande-PB em 1944. Um estudo não homogeneizado do Cangaço e pensado pelas diversas fontes, permite-nos entender as especificidades e a existência de outros personagens que tiveram importâncias significativas no movimento e são pouco presentes na
historiografia.

Visualizar a importância da Imprensa fez perceber as outras representações construídas para Silvino e que a relação multidisciplinar, seja com outras ciências, ou com outras fontes torna a história possível de múltiplos olhares e foge da construção encaixotada de textos prontos e fechados dos indivíduos e de grupos sociais.

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2 PESAVENTO, Sandra Jatahy. Apresentação do Dossiê “História Cultural e Multidisciplinaridade”. In: Revista de História e estudos culturais. Out/Nov/Dez. Vol. 04. Ano IV. N-4, www.revistafenix.pro.br.
 
3 GRILLO, Maria Ângela de Faria. A Arte do Povo: Histórias na literatura de cordel (1900-1940). Tese de Doutorado em História – UFF-RJ. Niterói - RJ. 2005.

4 Cf. em CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL. 2002.
 
5 Cf. em GINZBURG, Carlo. Representações: a palavra, a idéia, a coisa. IN: Olhos de madeira. São Paulo. Cia das Letras. 2001.

6 Cf. em DARNTON. Robert. Os esqueletos no Armário: como os historiadores brincam de ser Deus. IN: Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. São Paulo. Cia das Letras. 2005.
 
7 Utilizo a termo “liberdade seca” para denotar o tempo em que Silvino viveu solto no sertões, rodeado de secas, pobreza e miséria. Essa realidade é expressada na literatura de José Lins do Rego, Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa.
 
8 É importante ressaltar que no sertão nordestino durante a primeira metade do século XX existia o que muitos historiadores chamam de código de honra entre os sertanejos e que julgavam por conta própria as ações ocorridas, pois as leis federais raramente eram aplicadas no interior, logo era e ainda é comum encontrarmos vinganças como forma de honra familiar na historiografia e também no texto jornalístico. Cf. em BARROS, Luitigarde Oliveira Cavalcanti. A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no sertão. Ed. Mauad / FAPERJ. RJ. 2000. 

9 Jornal Pequeno. 28/11/1914. 

10 Cf. em FACÓ, Rui. Cangaceiros e Fanáticos: Gênese e lutas. 9ª Edição. Ed. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro - RJ. 1991.
 
11 MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo. Cia das Letras. 1994. p. 60. 

12 BARBOSA, Severino. Antonio Silvino: O Rifle de Ouro. Vidas, combates, prisão e morte o mais famoso cangaceiro do sertão. 2ª edição. Recife. CEPE. 1979. p.148

13 Jornal Pequeno 08/03/1915
 
14 Jornal Pequeno 21/01/1915

15 Essa discussão a respeito de eugenia circundava a produção dos intelectuais das Faculdades de Direito e Medicina do país e associava os grupos de cangaceiros como grupos de homens facínoras. Cf. em ALBUQUEQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Nordestino: uma invenção do falo – uma história do gênero masculino (Nordeste 1920-1940). Maceió. Catavento. 2003

16 Jornal Pequeno 03/04/1947 


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1 Mestrando do Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura Regional – UFRPE. Integrante
do GEHISC/CNPq. Bolsista FACEPE. E-mail: romulojunior@oi.com.br

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

2 comentários:

Sergio Dantas disse...

Excelente texto. Parabéns ao autor!!
Tenho a considerar duas coisas, relativas à idéia central do mesmo:
a)O valor da notícia de jornal como fonte histórica - mesmo sabendo que muitos que se intitulam historiadores a desprezem por completo, dando importância excessiva à memória oral e trabalhando com esta como fonte exclusiva, sem a cruzar com outras formas de conhecimento do fato.
Esse é crasso erro de método, mas que, infelizmente, é recorrente na historiografia 'cangaceira' de ontem e de hoje.
Qualquer estudante de Ciências Humanas sabe que usar apenas uma fonte é distorção de método.

b) A falta de empenho em relação a ouros cangaceiros, como referido no texto, é verdade inconstestável. O fato é que o 'mito' torna a figura de Lampião mais interessante que os demais. Prefere-se, do caso do rei-do-cangaço, a mitologia em vez da HISTÓRIA.
Cangaceiros normais (que não advinhavam, não 'voavam', não se encantavam, não tinham 'mandinga' e coisas que o populacho adora e CRÊ), ficam atirados na lixeira histórica.
E o pior, é que LAMPIÃO, a cada dia, vira comércio e fonte inesgotável para todo tipo de teoria, conspirações e absurdos os mais cretinos.
Parabéns ao sr. Rômulo José.
Sérgio Dantas
NATAL

Unknown disse...

Parece-me que estamos diante de um texto acadêmico,coisa rara na literaratura cangaceirista.