segunda-feira, 20 de abril de 2009

Punhais e adagas.

Fábio Carvalho escreveu algumas linhas a pedido de um confrade sobre facas, apesar de não ser bem área dele (cutelaria), que agora repassamos aos amigos do blog Lampião Aceso.

A cutelaria nacional (como toda a nossa história) tem poucos registros, mas é bem certo que vieram cuteleiros ou ferreiros de Portugal nos primeiros anos de colonização, pois é óbvio que facas, machados, pregos, fechaduras, martelos e na época espadas, sempre foram objetos necessários no dia a dia e importar qualquer coisa da colônia demorava meses. No nordeste especialmente se instalaram fabricas já no século XVIII, segundo consta, no Ceará na cidade de Abreu e Lima.


Na minha opinião o isolamento cultural e econômico do nordeste deve ter contribuído para a criação destas facas tão específicas com a função de PERFURAR, como eram as antigas espadas rapieiras, adagas e punhais medievais portugueses (seriam estes os primeiros modelos disponíveis para cópia?)... Assim teremos saídas das mãos dos hábeis artesãos e ferreiros nas pequenas localidades facas estreitas e longas com a especifica função de perfurar grandes massas de carne (ou pelo menos nos levam a pensar isso, pelos seus enormes comprimentos de até 60 cm), com gume pouco afiado, merecendo mesmo a designação de punhais. Assim teremos em uso pelo cangaço (mas anteriores a ele com certeza) as famosas (nome genérico) Facas de arrasto (receberam este nome porquê segundo o povo eram tão longas que tinham de ser arrastadas das bainhas), ou ainda Parnaíbas (por serem modelos naturais da cidade de Parnaíba/Pi), com suas longas lâminas de ± 50 cm e uma guarda de mão bem peculiar, são bem antigas, e ao que parece vem do Brasil colônia. A “Língua de peba” um punhal de gume triangular (dizem que igual à língua do tatu peba, daí o nome) de ± 30 cm de lâmina, dizem que estes também são feitos desde o séc. XIX.

A Faca de Pajeú.


Feita em grande quantidade pelos famosos cuteleiros de Baixa Verde/RN (ao que parece havia outra vilarejo de Baixa verde que era distrito de Água Branca/AL, sendo que as facas e punhais de lá também era afamados), sendo conhecida pelo nome desta cidade também. Esta já é uma faca de lâmina mais curta, larga, com de ponta bem fina. Destas “pajeuzeiras” (assim também se chamam) se citam variedades de folha de lâmina larga ou mais estreita.Havia ainda outros tipos de punhais menores que imitavam as facas maiores, estes geralmente eram escondidos na roupa, e usados nas cidades por elementos mal-intencionados nos bordeis e butecos, me lembro de ter visto alguns com um risco no centro e ao longo do comprimento da lâmina, o chamado “canal de sangria”.


Desnecessário dizer que vez ou outra, algumas destas armas brancas tinham lâminas cortadas e reaproveitadas de espadas do império (ou mais antigas) ou porventura do gume de facas de procedência estrangeira (mais raro no nordeste e mais comum no Rio grande do sul, que no final do séc XIX importava muita cutelaria belga e alemã). A qualidade variava muito, sendo que algumas eram verdadeiras obras de arte com cabos compostos por diversas esferas metálicas revestidas de madeira de lei, prata, ou outro material. A maioria tinha o pomo arredondado.


Abraços

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