quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Lorena e Sinhô

Entrevista com o Ex chefe Cangaceiro "Sinhô Pereira"

Faleceu hoje, 26 de Fevereiro, em Serra Talhada,PE O Sr. Luiz Conrado de Lorena e Sá. Lorena como era conhecido, foi prefeito do município de Serra Talhada durante três mandatos: 1945/47, 1955/59 e 1964/68.

Lorena
Era parente próximo dos famosos cangaceiros Sinhô Pereira e Luiz Padre, pois o avô de Lorena que também se chamava Sebastião era primo legítimo de Sinhô e Luiz Padre.

O sepultamento ocorreu hoje às 17:00 hs no cemitério municipal da cidade.

Leiam a entrevista concedida pelo lendário chefe de Lampião ao Sr. Luiz Lorena, em 1971.



Seu nome na pia batismal deve-se ao fato de ter nascido no dia de São Sebastião, 20 de Janeiro de 1896.
Sebastião Pereira da Silva "Sinhô Pereira" (Foto) nasceu em Vila Bela, em meio à uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e Carvalho. Foi chefe de cangaceiros e das suas mãos Lampião recebeu o bando.

Sinhô Pereira foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou beber das águas límpidas e saborosas do Pajeú no ano de 1971 (mês de junho), quando veio visitar a família em Serra Talhada, PE.

Naquela ocasião Luiz Lorena e Sá, da família Pereira , travou o seguinte diálogo com seu brioso parente, que fora no passado o braço armado do clã:

Lorena - Qual o momento que marcou sua vida de maneira indelével?
Sinhô - Foram tantos os momentos dramáticos no meu trajeto que seria impossível escolher um.

Lorena - Qual seu dia de maior alegria?
Sinhô - Chegar a Serra Talhada 50 anos depois e ser recebido por todos os parentes com carinho que me dispensaram, foi na verdade motivo de muita alegria.

Lorena - Qual seu dia de maior tristeza?
 Sinhô - Estando eu em Lagoa Grande, distrito de Presidente Olegário/MG, recebi a noticia do falecimento de Luiz Padre, em Anápolis, Goiás. Nem ao sepultamento compareci.

Lorena - Você tem alguma grata satisfação do seu tempo de guerrilheiro?
Sinhô - Não. Nasci para ser cidadão, casar-se e constituir família. Fui namorado da moça mais bonita do Pajeú.

Lorena - Por que se envolveu nessa tragédia?
Sinhô - A impunidade em Vila Bella teve seu auge em minha juventude; do assassinato de seu Né - meu irmão - nem inquérito policial foi aberto.

Lorena - Você reconhece o que seus contemporâneos dizem sobre o seu espírito guerreiro e de ser você o mais valente entre esses?
Sinhô - havia homens valentes até quase a loucura, entretanto, brigavam para matar. Na hora de morrer, até fugiam do campo de luta. Naquelas circunstâncias matar ou morrer para mim, seria a mesma coisa; daí a diferença.

Lorena - Desses confrontos, qual o que você teve mais proveito?
Sinhô - A família Pereira (minha família) vivia atormentada em face de minhas ações. Era imperativo mudar a face da história.

Lorena - Quais os fatos que mais perturbavam você?
Sinhô - Vários. No começo tudo o que eu fazia errado dava certo. Com o passar do tempo tudo o que eu fazia certo dava errado.

Lorena - Entre estes, você poderia destacar um?
Sinhô - Sim. A morte de João Bezerra, em Bom Nome. Na forma como eu procedi, acelerou minha decisão. O meu estado de espírito estava de tal forma desajustada que já não tinha condição de conduzir as ações do grupo que comandava.

Lorena - Em que circunstância Lampião apareceu em sua vida?
Sinhô - Ele e os irmãos chegaram de Alagoas depois do assassinato do pai, dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo comum.Não tinham condições financeiras nem experiências. Procuraram-me e participaram com muita bravura de alguns combates.

Lorena - Por que Virgolino Ferreira da Silva ganhou o apelido de Lampião?
Sinhô - Num combate, a noite, na fazenda Quixaba, o nosso companheiro Dê Araújo comentou que a boca do rifle de Virgolino mais parecia um lampião. Eu reclamei, dizendo que munição era adquirida a duras penas. Desse episódio resultou o Lampião que aterrorizou o Nordeste.

Lorena - Você não quis Lampião em sua viagem para Goiás?
Sinhô - Ao despedir-me dele na Fazenda Preá, no município de Serrita/PE, pedi para não molestar ninguém da família Pereira. Ele prometeu e cumpriu. Não quis, entretanto, seguir viagem comigo.

Lorena - Depois de instalado em Goiás você convidou Lampião para ir morar naquela região?
Sinhô - Sim. Quintas (meu irmão) foi o portador da carta. Ele respondeu verbalmente, dizendo que não aceitava o convite para não me criar embaraços.

Lorena - Você recebeu o convite de alguém para atacar Antônio da Umburana em Queixada (Mirandiba)?
Sinhô - Não. Tudo aconteceu por minha conta e risco.

Lorena - E o seu problema com Isnero Ignácio, como aconteceu?
Sinhô - Naquele tempo chegou para se agrupar comigo o meu parente Luiz Pereira Nunes (Luiz do Triângulo) acompanhado dos primos Chiquito e Teotônio do Silveira, valente ao extremo. Depois de várias refregas, explicou-me que estavam comigo por que foram escorraçados da sua propriedade na região de Santa Rita pelo primo Isnero Ignácio. Estavam se preparando para desforra e esperava o meu apoio.

Lorena - Qual foi sua reação?
Sinhô - Ponderei que já bastavam as inimizades já existentes e que Sinharinha, mãe de Isnero, era filha de tia Donana, figura considerada sagrada pela minha mãe.

Lorena - E Luiz do Triângulo, como reagiu?
Sinhô - Ficou contrariado, sem aceitar minhas ponderações. Entretanto, concordou que eu fosse com Luiz Padre pedir a interferência de Antonio Inácio de Medeiros também primo de Isnero, Sr. Sebastião Inácio de Oliveira, concordou. Isnero e mãe Sinharinha foram radicais, não aceitaram qualquer forma de reconciliação, inclusive proibiram o parente Luiz do Triângulo de voltar a sua propriedade.

Lorena - E daí, o que aconteceu?
Sinhô - Foi uma estupidez o que fizemos. Ateamos fogo na Fazenda Santa Rita, deixando em cinzas o roçado, o canavial, o engenho, os currais e a casa da fazenda.

Lorena - Dos oficiais da policia militar que o combateram, qual o de maior respeito?
Sinhô - O capitão José Caetano era um bravo. Intrépido e leal no mais duro da refrega.

Lorena - Qual o combate mais dramático que você participou?
Sinhô - Foi na Serra da Forquilha, numa semana em que estávamos repousando. Éramos doze homens, cercados num casebre, por cento e vinte policiais. Sem outra alternativa bradamos para que segurassem as armas porque iríamos para a luta de corpo-a-corpo e de corpo a punhal.

Lorena - O que aconteceu?
Sinhô - O que aconteceu? Saltamos e fugimos ilesos.

Lorena - Por que a idéia de avisar aos sitiantes, nessa e em outras oportunidades, que continuariam a luta, mas, na verdade, abandonavam o refúgio?
Sinhô - Enquanto aqueles procuravam entrincheirar-se, nós fugíamos.

Lorena - Você viajou para o Planalto Central desprovido de recursos financeiros?
Sinhô - Não. Isidoro Conrado e Né da Carnaúba financiaram a nossa viagem com dinheiro que compraríamos duzentos bois.

Lorena - Em Dianópolis, onde se instalaram, tudo correu bem?
Sinhô - Vivemos uma epopéia mais dramática do que aqui, expressar numa entrevista nem vale a pena...

Lorena - Por que essa expressão! "minhas navegações" quando sabemos que navegar é próprio do oceano?
Sinhô - Ouvíamos dizer que o mar é uma imensidão de água, e como a extensão de nossa desgraça não tinha limites, usávamos a expressão "nossas navegações".

Lorena - É verdade que você anteviu a genialidade de LAMPIÃO?
Sinhô - Dos homens que deixei em armas no Pajeú, só Virgolino podia chegar à celebridade. Os demais eram formiga sem formigueiro. Minha profecia foi cabalmente comprovada. Lampião nada aprendeu comigo. Já nasceu sabendo".

Sinhô Pereira faleceu numa manhã no final do ano 1979, em Lagoa Grande - Estado de Minas Gerais -, deixando para trás uma vida e uma história marcadas de angústia, dores e vontade de viver feliz com sua família e amigos.

"Sinhô Pereira era uma baraúna"!

Créditos da nota de falecimento: Hildebrando Neto "Netinho".
Transcrição da entrevista Ivanildo Silveira.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Recesso


Bom Carnaval para todos!


IN: culturadigital.br
Por falar nisso, dentre os mais de 300 registros musicais que homenageiam o Cangaço encontrei a obra de Lourival Oliveira:

Paraibano de Patos, nascido em junho de 1918, é autor de alguns dos mais memoráveis frevos-de-rua da história deste gênero musical. Foi aluno do grande Levino Ferreira (apenas coincidência,trata-se de outro Levino) de quem aprendeu além da teoria, o dom de criar belas melodias para seus frevos.

Foi clarinetista da Orquestra da Banda Militar de Pernambuco, no final da década de 30. Contratado pela Rádio Clube, foi clarinetista, saxofonista e arranjador da orquestra deste emissora.

Teve uma passagem de poucos anos no Rio, onde tocou com a orquestra o Cassino Copacabana, teve frevos gravados pela orquestra do Maestro Peruzzi e a Tabajara de Severino Araújo.

De volta ao Recife, passou a integrar a Orquestra Sinfônica do Recife, dirigida então pelo maestro Vicente Fittipaldi. Até falecer, em junho de 2000, foi um dos mais atuantes músicos, maestros e compositores do Recife.

Mas o que este artigo tem haver com o tema em questão?

É antológica sua série de frevos-de-rua que têm nomes de cangaceiros de Lampião por título (inclusive o próprio Lampião é também um frevo seu, gravada por outras orquestras). Um destes, intitulado "Cocada" é um clássico obrigatório em qualquer orquestra de frevo.



'Os Cabras de Lampião no Frevo', uma verdadeira obra-prima do fantástico clarinetista e compositor, são feitas homenagens a todo o bando do temido cangaceiro. O frevo é misturado com maestria ao xaxado, já que se sabe que era um ritmo que os cangaceiros adoravam dançar em suas festas.

Desafios para os músicos é o que não falta nesse trabalho.

Cocada
Corisco
Jararaca
Lampião
Maria Bonita
Moitinha
Pilão deitado
Ponto fino
Sabino
Ventania
Volta seca e Zabelê.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Preso o "novo cangaço"


Belo Horizonte - Uma das maiores organizações criminosas do Brasil, especializada em roubo a banco e a carro-forte, foi desarticulada com a prisão de 26 de seus principais integrantes. O bando é apontado pela Polícia Civil de Minas Gerais como responsável por prejuízo superior a R$ 100 milhões, em crimes ocorridos desde a década de 1990, e por usar estratégias semelhantes ao do grupo de Lampião no sertão nordestino, na década de 1930, o que lhe valeu o título de "novo cangaço".

A captura dos suspeitos começou em 2007. Mesmo enfraquecido, o grupo não interrompeu sua atuação e planejava para esta semana um crime ousado: assaltar um carro-forte carregado com 1 tonelada de ouro - avaliado em mais de R$ 50 milhões -, na Venezuela, com ajuda de seis ex-guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), conforme a investigação policial. Mas a polícia ainda encontra um desafio. O cabeça do grupo, identificado como Márcio do Carmo Pimentel, de 28 anos, e conhecido também por cinco apelidos, permanece foragido.

A quadrilha é conhecida por aterrorizar cidades do interior e usar estratégias de guerra, como sitiar municípios e fazer civis de escudo. Primeiro, um integrante do grupo seguia para a cidade selecionada e buscava informações sobre como seria a atuação. Ao voltar, os detalhes eram repassados aos cabeças e, em seguida, contratados os soldados, de acordo com as necessidades do armamento. Roubos a banco teriam a participação de pelo menos oito pessoas e a carro-forte, apenas quatro.

Na quarta-feira passada, um dos principais braços do grupo e um comparsa foram presos em Guaraí (TO). João Ferreira Lima, o "Professor", de 46, e Paulo César Miguêz, de 40, faziam transporte de uma metralhadora antiaérea Browning, calibre .50, para a Venezuela. A arma teria sido comprada de um coronel do exército do Paraguai, por R$ 280 mil, e transferida, por terra, até São Paulo. De lá, a dupla a levaria até Belém e, em seguida, de balsa até o município de Dom Romão, na Venezuela.

Segundo o comandante operacional da Operação Vandec - Fase 3, delegado Hugo Malhano dos Santos, a arma foi escondida numa Chrysler Gran Caravan, blindada. "Em estrada entre Dom Romão e Margarita, o bando usaria táticas semelhantes às usadas em Minas para render vigilantes de um carro-forte carregado de ouro. Desta vez, para apoiar o carregamento, seria usada uma esteira elétrica e um hummer (veículo militar para todo tipo de terreno)", diz.

Pedro Rocha Franco // Do Estado de Minas

Na terra de Lampião...

SEMINÁRIO SERTÃO, BEATOS E CANGACEIROS



A Fundação Cultural Cabras de Lampião/Ponto de Cultura Artes do Cangaço, patrocinada pelo Programa BNB de Cultura 2009 e o apoio do SEBRAE, tem a grata satisfação de convidar o público em geral para o evento SEMINÁRIO SERTÃO, BEATOS E CANGACEIROS, que se realizará nos dias 20 e 21 de março/09 (Sexta-feira e Sábado), em Serra Talhada - Terra de Lampião e Capital do Xaxado.

PROGRAMAÇÃO:



DIA 20 - SEXTA-FEIRA

09h00min - Abertura. Formação da mesa com os parceiros: Fundação Cultural Cabras de Lampião, BNB/Governo Federal, SEBRAE e Prefeitura Municipal.

10h00min - Palestra "Lampião - O mito", com Adriano Marcena;

12h00min - Intervalo para almoço.

15h00min - Palestra “O turismo Lampiônico”, com Paulo Moura e Anildomá Willans de Souza.

16h00min - Palestra "Cultura e turismo no Sertão", com Márcia Borborema.

18h00min - Intervalo para jantar.

19h30min - Exibição do documentário "Virgolino - Do homem ao mito"

20h00min - Palestra "A Estética do cangaço antes e depois de Lampião", com Frederico Pernambucano de Mello.

DIA 21 - SÁBADO

08h00min - Visita técnica:

"NAS PEGADAS DE LAMPIÃO".
Pedras onde aconteceu o primeiro confronto armado entre os irmãos Ferreiras (família de Lampião) e Zé Saturnino (primeiro inimigo).

Ruínas da antiga casa-grande da fazenda Pedreira, pertencente a Zé Saturnino. Onde foi palco de um dos mais emocionantes capítulos da história do cangaço.

Sítio Passagem das Pedras - onde está à casa de Dona Jacosa, avó materna de Virgolino, onde ele nasceu....

Haverá apresentação do Grupo de Xaxado Cabras de Lampião...

É como se a família ainda estivesse lá, com sua avó, a Mulher Rendeira, cantando loas... Consta de um maravilhoso acervo em fotografias, utensílio e móveis, objetos e documentos que têm referência com os guerrilheiros do sertão e remete o visitante a um mergulho no mundo mágico do cangaço, por onde começou a saga do mito Virgolino Ferreira da Silva.

É o ponto de partida da vida daquele que por duas décadas percorreu a maior parte do nordeste brasileiro "fazendo justiça com as próprias mãos", pondo em xeque o poderio dos coronéis.
No Sítio tem um passeio pela caatinga em visita ao Riacho de São Domingos, ao sopé da Serra Vermelha.

Haverá transporte gratuito para os interessados, desde que agendados durante as palestras.

Mais informações:

Fundação Cultural Cabras de Lampião
Ponto de Cultura Artes do Cangaço Serra Talhada - PE.
Tel. (87) 3831 2041
Anildomá (87) 9938 - 6035
Cleonice Maria (87) 9616 - 1952
Karl Marx (87) 9616 - 2017


Um novo cangaço?

Por: Fábio Carvalho

Caros amigos.Vendo as últimas notícias das repetidas ações de quadrilhas especializadas do sudeste do país, em roubos a bancos acontecidos em cidades pequenas do Norte/Nordeste e Centro do país, e mesmo sem grandes semelhanças histórico/sociais, não deixei de pensar em algo: Banditismo rural! Tentei fazer um paralelo com as ações dos antigos cangaceiros (grifadas em vermelho). Seria retirando-se óbvio a parte social e histórica do momento, (vinganças, seca, miséria, coronelismo, república velha etc) guardadas as devidas proporções, um novo tipo de cangaço?

OS PARALELOS QUE PUDE TRAÇAR ENTRE AS AÇÕES DOS BANDOLEIROS MODERNOS E OS ANTIGOS:

1 – Grande número de integrantes em cada assalto, modernamente de 6 a 12 homens por ação criminosa.
Os cangaceiros tinham dezenas de homens em cada grupo usando isso como vantagem.

2 – Ações ousadas, com uso extremo de violência e intimidação contra a população, fazendo inclusive cidades inteiras de refém.
Os cangaceiros idem

3 – Uso da surpresa, ações inopinadas.
Os cangaceiros idem

4 – Uso de armamento de guerra, superior aos das guarnições das polícias locais.
Os cangaceiros tinham as mesmas armas da polícia, nisso a polícia no começo do século XX no Brasil ainda estava em vantagem, quando dos assaltos a cidades os cangaceiros contavam com a superioridade numérica contra os policiais locais, embora não se deve esquecer a massiva quantidade de armas em mãos de civis que poderiam ajudar as forças legalistas (vide Mossoró)

5 – Uso de indumentárias especializadas para o combate, coletes balísticos, uniformes camuflados, rádios, máscaras, identificando o grupo.
Os cangaceiros tinham seu “uniforme, bem conhecido, e carregavam seus apetrechos destinados a sua sobrevivência e ao combate.

6 – Fuga rápida em veículos de tração 4x4 e "fora de estrada".
Os cangaceiros usavam a cobertura da caatinga, e a pouca possibilidade de veículos a motor persegui-los.


Pode ser que os líderes nunca tenham lido uma linha sobre o assunto, mas este é o Cangaço "muderno".

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Olhar estrangeiro


 Um norte-americano de 27 anos nas pegadas de Lampião

Por Daniel Mason

Em 16 de junho deste ano, pela segunda vez na minha vida, viajei a Angicos (Ceará). Embarquei em um pesqueiro em Piranhas, Alagoas, uma cidade pintada e agarrada ao rio São Francisco, e percorri o mesmo trajeto que, quase 65 anos atrás, as volantes realizaram corrente abaixo para atacar o bando de cangaceiros acampados na sombra e no silêncio de um leito seco de rio, com uma chuva de balas que foi o início do fim para o cangaço.

Minha primeira visita a Angicos aconteceu de maneira mais acidental. Em dezembro do ano passado, vim ao Brasil com o objetivo de encontrar uma história para um segundo romance e terminei visitando o sertão por capricho, na verdade, pela fascinação com as histórias da literatura de cordel e a necessidade de acreditar que, neste mundo dominado pela televisão, cinema e literatura de mercado, uma forma oral de narrativa pode persistir...

Em Caruaru, conheci meu primeiro cordelista, um vendedor astuto que se despediu de mim depois de me vender cópias de todos os folhetos que tinha.

Naquela noite, entre "Caruaru Hoje e Ontem" e "A Moça que virou uma Cobra", descobri que a maior parte das histórias tratava de um nome com um apelido engraçado e um olhar atemorizante, que parecia ter captado a imaginação dos narradores.

Se o que os títulos diziam merecia confiança, esse Lampião "lutara contra um menino que virou porco", fizera amor com uma mulher cujo nome é digno de um conto de fadas e visitara tanto o céu quanto o inferno.

Embora as histórias sobre o porco talvez sejam questionáveis em sua veracidade, a de Maria Bonita não era. E o mesmo poderia ser dito, assim que descobri sobre seus 20 anos fugindo da lei, sobre as visitas dele ao céu e ao inferno, ao menos em termos metafóricos.
E assim me vi sozinho com esses livros de poesia e a crescente suspeita que se tem quando a gente conhece alguém que se tornará um companheiro constante.
Acabo de voltar de mais seis semanas no sertão.


O que me encanta mais que as aventuras de Lampião, histórias que persistem nos lábios e nos livros dos poucos pesquisadores dedicados que enfrentam o calor e o sol, é o quanto a história dele está viva.

Nos Estados Unidos temos nossos grandes bandidos, como Jesse James e Billy the Kid. Mas suas histórias são em geral lendas estáticas, fixadas em seu lugar pela história e pelo tempo, bem como por um rico conjunto de literatura e filmes.

Em Lampião, no entanto, é possível perceber ativamente o processo de como a história se transforma em lenda, uma coisa única e preciosa para um escritor, especialmente um escritor de ficção.

Os idosos que conheci e entrevistei , que vinham caminhando trôpegos de suas fazendas para conversar sobre a vida durante o cangaço, contavam histórias de noites passadas no mato, lojas incendiadas, cidades abandonadas quando surgia a notícia de que os cangaceiros estavam por perto.

Das gerações mais jovens, ouvi uma história diferente, a lenda de um poeta e dançarino (e, aos olhos de alguns, um rebelde) que com o fuzil e a peixeira tornou impossível que uma parte do país esquecida por muito tempo continuasse a ser ignorada.
Deixei o sertão com o mesmo sentimento que tive durante minha primeira partida, com nostalgia e planos de retornar. Lembro-me de, durante minha primeira visita, ter imaginado por que, apesar da seca, do calor e da pobreza incansável, os sertanejos continuavam a cantar canções sobre voltar para casa.

Talvez seja o céu aberto, a hospitalidade de um povo que oferece sua última xícara de café a um viajante sedento, ou os momentos fugazes do final do dia, quando a terra esfria, ganha um tom dourado, e a caatinga brilha com uma cor que jamais eu vi em outro lugar. Ou talvez sejam os fantasmas que assombram o lugar, as histórias contadas nas noites frias, que causam assombro e a vontade de voltar.

__________
Daniel Mason, 27, é escritor americano, autor de "O Afinador de Piano" (Companhia das Letras). Este seu trabalho de estréia, uma história ambientada no século XIX ma Ásia meridional, estourou em crítica e público nos Estados Unidos e na Inglaterra. Já foi lançado em 20 países, incluindo o Brasil. É sobre o país, aliás, que Mason escreve atualmente. Desde julho de 2003, ele vem percorrendo o Nordeste do país para colecionar informações sobre o cangaço. O texto a cima foi escrito pelo escritor à pedido do jornal Folha de São Paulo (Ilustrada, p. 4, 4/8/2003), no qual ele conta sua experiência pelos sertões brasileiros.


Lampião Aceso retruca.
Democratas e Republicanos, sejam bem vindos aos nossos rincões, com exceção de algumas estantes na literatura cangaceira, sempre cabe mais um, porém quem não se comunica... Jogar Angico lá pra cima no meu querido Ceará? O texto começou aleijado mesmo, - Because Man! À propósito, até o momento não há registro da referida publicação.



Confiram na fonte: BARCELONA - UFRN

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Programe-se

SIMPÓSIO - CENTENÁRIO DE "MARIA BONITA"


Realizado pela UNEB - Universidade do Estado da Bahia, Secretária de Turismo e Cultura de Paulo Afonso. Período: 03 a 08 de Março de 2009.

Mostra de fotografias de Maria Bonita, utensílios e apetrechos usados na época e reportagens sobre o cangaço. Essa mostra será aberta a toda a comunidade, porém destinada principalmente à visitação guiada dos alunos das escolas públicas e municipais, interagindo o aluno com a nossa real história.



PROGRAMAÇÃO:

Dia 03/03/2009 (Terça-feira)
 
08h30min as 17h00 – Início da mostra cultural com visitação guiada dos alunos das escolas Municipais, Estaduais e comunidade local.

19h00 – Abertura Oficial com a presença de autoridades Civis e Militares.

19h30 – Grupo APDT com apresentação da peça teatral ‘A NOITE CABREIRA DE ANGICO’.
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Dia 04/03/2009 (Quarta-feira)
 

08h00 às 20h00 – Visitação guiada dos alunos das escolas Municipais, Estaduais e comunidade local.

20h00 às 21h00 – A Cultura No Foco do Empreendedorismo – Palestrante do SEBRAE.
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Dia 05/03/2009 (Quinta-feira)
 

08h00 às 20h00 – Visitação guiada dos alunos das escolas Municipais, Estaduais e comunidade local.
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Dia 06/03/2009 (Sexta-feira)
 

08h00 – Exibição dos Filmes:
A CASA DE MARIA BONITA (Direção Gilmar Teixeira e João de Sousa Lima).
SILA A CANGACEIRA (Direção de Aderbal Nogueira).
VIRGULINO FERREIRA DA SILVA, GOVERNADOR DO SERTÃO (Direção Manoel Neto e Miguel Teles).
70 ANOS DA MORTE DE LAMPIÃO E MARIA BONITA (Direção Antônio Galdino)

10h00- Após a exibição dos filmes haverá uma mesa redonda para debates sobre o tema:

11h00 - Encerramento

16h00 – Debate com o tema: A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO CANGAÇO, com a presença dos estudiosos do tema residentes no município de Paulo Afonso - BA.
PARTICIPANTES:
JURACY MARQUES, EDSON BARRETO, LUIZ RUBEN, ANTÔNIO GALDINO, "RUBERVÂNIO CRUZ", HAROLDO SANTOS.

16h30 às 17h00min - Apresentação do Coral da UNEB

19h00 – Apresentação dos músicos Oscar Silva e Osvaldo Silva.

19h30 - Lançamento do livro A TRAJETÓRIA GUERREIRA DE MARIA BONITA, A RAINHA DO CANGAÇO, do escritor João de Sousa Lima.

20h00 - Ciclo de palestra ‘A VIDA DE MARIA BONITA’, com a participação dos escritores de outros Estados.

Presença da ex-cangaceira Aristeia Soares, ex-soldado da volante Teófilo Pires, Neli Conceição e João Souto, filhos do casal de cangaceiros Moreno e Durvinha.

PALESTRANTES:

Kydelmir Dantas, Iº Secretario da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, Pesquisador, Mossoró - RN.

Ângelo Osmiro, Vice-Presidente da SBEC, Escritor, Fortaleza - CE.

Aderbal Nogueira, Assessor de comunicação da SBEC, Documentarista, Fortaleza - CE.

João de Sousa Lima, Pesquisador, Paulo Afonso-BA

Jairo Luiz, Pesquisador, Piranhas - AL.

Antonio Vilela, Escritor e Pesquisador, Garanhuns – PE.
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Dia 07/03/2009 (Sábado)

– O EVENTO SERA REALIZADO NO SESC LER - BTN
08h00 – Mostra Cultural e exibição dos Filmes:

A CASA DE MARIA BONITA (Direção Gilmar Teixeira e João de Sousa Lima).

SILA A CANGACEIRA (Direção de Aderbal Nogueira).

VIRGULINO FERREIRA DA SILVA, GOVERNADOR DO SERTÃO (Direção Manoel Neto e Miguel Teles)

70 ANOS DA MORTE DE LAMPIÃO E MARIA BONITA (Direção Antônio Galdino)

Após a exibição dos filmes haverá uma mesa redonda para debates sobre o tema.

18h00 – Palestra sobre a mulher no Cangaço com todos os participantes do evento.

19h00 – Entrega dos certificados aos participantes.
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Dia 08/03/2009 (Domingo)
 

08h00 – Sairá do SESC um ônibus levando os participantes para uma visitação a casa de Maria Bonita.

19h00 – Filme sobre o Cangaço e o encerramento do evento



Idealizadores

Juracy Marques - Diretor da UNEB – Campus VIII
Antônio Galdino da Silva - Secretario municipal de Turismo,
Jânio Ferreira Soares - Diretor de Turismo
Gloria da Costa Lira - Diretora de Cultura
João de Sousa Lima - Chefe da Divisão de Cultura


Créditos: Ivanildo Silveira.